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Selena

Respirou fundo. As lágrimas escorriam-lhe pela cara. Doí-lhe a alma e o espirito. Estava simplesmente chocada. Não sabia o que fazer depois daquilo.

Selena tinha acabado de ler um livro. Mas não era um livro qualquer. Era o seu livro favorito e devia estar a chorar pela quinquagésima vez. Apesar da quantidade exagerada de líquidos, ela continuava a chorar no final. Pousou o livro na sua secretária enquanto se abraçava a si própria nas suas mantas e tentava assimilar o que tinha acabado de ler.

O seu choro foi interrompido pelo som da porta da entrada. Selena limpa rapidamente os olhos e sai do quarto. Recebeu a mãe a cambalear pelos lados. Vasos a partir, livros a cair e mesas a serem viradas ao contrário. Selena agarrou na mãe pelos braços e pousou-a no sofá.

- Pronto, está tudo bem- ela sussurra. Tentou alcançar as duas garrafas na mão da mãe, no entanto, esta não permitiu.

Selena não tentou uma segunda vez. Sabia que era um caso perdido e não queria arranjar confusões com a mãe num estado destes. Queria simplesmente pô-la a dormir e voltar para o seu livro e as suas emoções.

O aspeto dela estava horrível. Tinha os olhos vermelhos e borratados pela maquilhagem. Enormes olheiras debaixo dos seus olhos davam-lhe um aspeto mais velho e cheirava exageradamente a álcool. Pelas contas de Selena, a mãe não tinha vindo a casa por três dias seguidos. Ponderou que ela se esqueceu onde vivia. Acontecia sempre. No entanto, era a primeira vez que tinha demorado tanto tempo a voltar. Selena costumava ir ao bar em que a mãe ia e pedir ao Pete, o segurança, para a ir buscar. Depois, chamava um táxi e a mãe dormia dias seguidos até chegar a altura de voltar a sair e desaparecer pelos bares e bebidas. O ciclo voltava todo de novo.

Porém, desta vez Pete não tinha ligado para ir buscar a mãe. Selena começava a ficar preocupada e tentava ao máximo manter a casa limpa e fazer a sua comida. Não soube dela por três seguidos e viveu constantemente com os nervos na flor da pele.

Levantou-se para arranjar um pano molhado, para limpar o sangue vivo na testa da mãe. Pousou com cuidado e carinho enquanto limpava e observava o arranhão feio que tinha. Enquanto isto, a mãe observava-a em silêncio com uma cara de caso. Vindo do ar, a mãe agarra no pulso da sua filha, impossibilitando-a de continuar a limpar a ferida.

- Tens uma ferida feia, deixa-me limpar- Selena insiste, tentando libertar-se do aperto da mãe.

- Selena, porque é que tens de ser uma filha horrível?- perguntou. Selena estava surpreendida por ouvir a voz da mãe.

- Deixa-me limpar esse aranhão- insiste.

- A culpa é toda tua, sabes? O teu pai, a tua irmã, eles todos te amavam. Porque Selena? Porque é que os mataste? És uma assassina de sangue frio!- berrou.

Selena parou de tentar resistir. Observou a mãe de lágrimas nos olhos. Sentiu a dor no seu peito, os seus pulmões a queimar e o seu coração a apertar. Estava a ter um ataque de ansiedade e nervos e mal conseguia respirar.

- Por favor, não digas isso- pediu entre soluços e golfos de ar.

- A tentar mostrar-te inocente? Tens de ouvir a verdade! A culpa é tua por ter acontecido aquele acidente, toda tua!- continuou a berrar.

- Pará!- Selena berrou de volta.

- Não fale comigo assim! Tem de ter lata! Ainda sou sua mãe!

Selena vira a sua cara para o lado, não querendo olhar para a mulher à sua frente. As lágrimas escorriam pelas suas bochechas. A mãe agarrou-lhe no queixo e forçou-a a olhar para ela. Era demasiado para Selena. Relembrar-se do acidente e ver a mãe desta forma. Selena não podia mais. Levantou-se bruscamente, interrompendo a mãe e libertando-se da sua mão.

- Nunca mais me toque dessa maneira! Eu trato de você! Ponho-te na cama! Faço-te dormir! Faço refeições para que não passe fome! Tudo o que tem para me dar em troca é essas palavras cruéis?! – berrou.

A mãe não disse nada. Simplesmente, observou a sua filha. Arregalou os olhos, surpreendida por vê-la a lutar.

Selena não disse mais nada. Saiu da sala e trancou-se no quarto. Só saiu quando viu que a mãe estava a dormir no sofá.

* * *

Ela estava nos piores dos humores. Sentada na sua cadeira, relia de novo o seu livro enquanto o refeitório enchia de alunos. Bloqueou tudo e todos e concentrou-se nas personagens. Tinha acordado na pior maneira possível, com a memória de tudo bem fresca na sua mente para a fazer sentir-se melhor.

Rolou os olhos pelos adolescentes barulhentos e comeu um pouco do puré de batata. Não sentia fome desde que acordou. Bebeu o seu sumo de laranja e observou o refeitório. Dividido em dois, a mesa onde se sentava aqueles mais " populares" era a mais barulhenta. Selena sentiu os olhos a revirarem-se para trás. O outro lado do refeitório estava enchido com aqueles que todos ignoravam, Selena incluída. Suspirou, voltando a ler o parágrafo em que tinha parado.

No entanto, não se conseguiu concentrar pelo barulho estridente. Observou Carl a fazer o seu bullying semanal. O pobre do rapaz estava a ser encostado à parede, o telemóvel no chão e a maior parte dos seus pertencentes no chão. Gritavam com o rapaz repetidamente.

Até que, ninguém esperava que aquilo acontecesse. Gwen, a ginasta, afastou Carl com a mão. Selena não conseguia ouvir muito bem o que se passava, mas percebia que Gwen estava a parar com aquele espetáculo. Foi como se todo o refeitório parou para ver a cena. Carl e os seus companheiros afastaram-se e o rapaz foi acolhido pelos braços de Gwen e o seu grupo.

Selena encolheu os ombros e agarrou no seu telemóvel, enviando diversas mensagens privadas para darkperson_. No entanto, não conseguia afastar o sentimento de nervosismo porque ele não respondia a nenhuma.

Ela só queria um amigo.

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