Conversa Inesperada

1 0 0
                                    

Dou mais uma olhada no espelho antes de sair, tento dá uma ajeitadinha no meu cabelo, mas não adianta muito, ele sempre resolve se revoltar toda vez que tenho que  sair, desisto, pego minha mochila e vou até a cozinha, minha mãe está sentada a mesa terminado o almoço dela.
- Já estou indo mãe, a bênção?
- Deus te proteja, Juliana, sair da escola vem direto pra casa, não aceita carona de ninguém e me liga avisando quando sair da escola, não esquece.
- Tá bom mãe, tchau.
Minha mãe é sempre assim, super preocupada e protetora, nem sei como ela aceitou numa boa eu ir estudar em uma escola longe de casa, na verdade, nem foi tão difícil assim, mas o papai, até hoje sinto que a qualquer momento ele pode aparecer de surpresa, só pra ver o que eu ando fazendo, se estou entrando na escola mesmo, quem são as pessoas com quem eu ando e se estou me comportando direitinho dentro do ônibus, se minha mãe é super protetora e preocupada, meu pai já é o senhor desconfiado de tudo.
Subo a rua de casa e não vejo a Ana Paula me esperando na esquina, pego meu celular e vejo que tem uma mensagem dela.

Amiga, tive que pagar uma conta, por isso vim mais cedo, te vejo na volta.

Ana Paula e eu nos conhecemos desde mudei pra cá, somos vizinhas, apesar de morarmos em ruas separadas, a casa dela fica atrás da minha. Quando éramos crianças, o muro que dividia nosso quintal era baixo, o que possibilitava de vez ou outra uma de nós pular ele para ir brincar no quintal da outra, com o tempo nossos pais aumentaram ele, e tentar pular agora não é tão legal assim.
Enquanto estou na parada esperando o ônibus, vejo o Matheus vindo, apesar de moramos na mesma rua e o conhecer de vista a pelo menos uns dez anos, nós nunca trocamos uma palavra se quer. Ele me pega olhando pra ele, e tento disfarçar olhando em outra direção e por sorte vejo o ônibus se aproximando, salva pelo gongo.

Quando entro no ônibus, percebo que ele não está tão cheio como de costume, acho que outras pessoas assim como a Ana Paula resolveram ir mais cedo hoje também, exceto o grupinho dos garotos bagunceiros, que estão como sempre, sentados na parte de trás. Resolvo me sentar em um dos primeiros bancos, abro um pouco mais a janela para aproveitar mais do vento, até que, de todos os lugares disponíveis, Matheus resolve sentar ao meu lado.
Isso não deveria ser tão estranho, afinal de contas, o que tem demais em seu vizinho de anos, nunca ter falado com você e pela primeira vez senta do seu lado no ônibus, nada, nada de estranho, tudo normal.
Para não ficar aquele climão, resolvo me concentrar em olhar pela janela e ouvir música. Estava funcionando por alguns minutos, até que ele toca no meu braço, para chamar a minha atenção. Olho para ele, e ele faz um gesto para que eu retire os fones, sem vontade, eu acabo retirando.
- Oi Juliana (É, ele sabe o meu nome).
- Oi, Matheus...
- Então, tudo bem contigo?
- Hmm... Sim
- Que estranho te ver sem sua amiguinha, o que foi? Resolveram se separar?
Não sei se foi impressão minha, mas notei certo sarcasmo na voz dele.
- Não, ela apenas teve que ir mais cedo hoje. Por que?
- Ah... Nada não, apenas curiosidade, estava afim de falar com você mesmo, mas como sempre estavam juntas, não tinha como, por ser meio pessoal sabe?!
- E qual assunto pessoal você teria para falar comigo?
- Sobre um amigo meu, na verdade.
- Que amigo?
- Ah, você conhece... Já deve ter visto ele bastante por ai, ele gosta de está nos mesmos lugares que você, mesmo que você não perceba isso. É só ele saber que você está em um lugar que pronto, ele aparece lá.
- Isso parece meio psicopata não acha?
- Não, na verdade, um pouco, mas todo mundo fica meio psicopata quando gosta de alguém.
Pensei um pouco sobre isso, e lembrei das várias ideias meio malucas que a Ana Paula, usou para descobrir coisas sobre os namorados dela.
- Então, está interessada?
- Interessada no quê?
Ele revirou os olhos, impaciente
- No meu amigo!
- Como posso está interessada em alguém que eu não tenho ideia de quem seja?
- Aff... Ok. Vou te contar, sabe quem é o Daniel?
Se for o Daniel que estou pensando, agora as coisas ficaram estranhas de uma vez. Trata-se de um garoto que vez ou outra eu esbarrava quando ia a padaria ou ao mercado. E ele sempre ficava me encarando, certa vez, eu estava conversando com uma amiga que encontrei na rua, ele passou por nós umas duas vezes, na terceira ele me chamou e pediu para conversar a sós comigo depois, eu é claro, dei um jeito de ir embora sem ele perceber.
- Sabe ou não? Perguntou o Matheus meio impaciente com a minha demora.
- Hmm... Acho que sei sim.
- Está interessada?
- Para ser sincera, não.
- Ah, qual é, o cara gosta de você tem bastante tempo, e ele disse que você vive fugindo dele.
- É... Eu tenho mesmo tendência a fugir de pessoas que ficam me encarando.
- Olha, porque não procura conhecer ele melhor? Ele é legal.
- Não duvido que seja, só não estou afim de ter ninguém agora.
- Tá bom.
Passamos o resto da viagem calados, coloquei meus fones de volta, mas não consegui prestar atenção na música, meus pensamentos estavam o tempo todo nessa conversa inesperada. Jamais imaginei que minha primeira conversa com meu vizinho que nunca falei seria essa, esperava algo mais do tipo: Oi, você pode me informar as horas? E não: Oi, meu amigo estranho que adora te encarar, tá afim de você!
Estava tão distraída que não percebi quando o Matheus desceu, e quase que acabei passando da minha parada também. Quando cheguei na escola precisava contar isso pra alguém, peguei meu celular e escrevi uma mensagem para a Ana Paula. 

- Preciso te contar uma coisa que aconteceu no ônibus, enquanto eu estava vindo pra cá.

- Menina, conte logo, que fiquei curiosa. 👀

- Sabe o Matheus, que mora na mesma rua que eu? Pois é, ele sentou hoje do meu lado no ônibus e disse que queria conversar comigo sobre um amigo dele.

- Sério???
Que amigo?

- Daniel...
Depois te conto os detalhes, professor acabou de entrar na sala. Até mais.

- Eita... Morta de curiosidade .
Até mais.

A primeira ilusão Onde histórias criam vida. Descubra agora