Mea culpa

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NOTAS DA AUTORA: Atenção! Como a história será composta de one-shots, a linha do tempo será rápida (avancarei no tempo em algumas partes), portanto, sempre deixarei aqui no começo uma pequena sinopse sobre de qual parte se tratará o capítulo para que vocês possam se situar, tudo bem? Aproveitem! O próximo capítulo já está sendo escrito!

SINOPSE DO CAPÍTULO:

Após o atendado contra a vida do Rei Augusto e a recuperação da memória de Amália, a frágil relação de Catarina e Afonso mostra-se mais conturbada do que nunca.

A princesa de Artena evita Afonso sob qualquer pretexto e o ex-príncipe fica surpreso ao constatar que parece se importar (e muito) com o que Catarina pensa a respeito dele e manter a distância dela torna-se cada vez mais difícil... principalmente porque ele já não tem forças para se manter longe. Após o torneio da Cália, ao ser presenteado com um lenço por Catarina, uma pergunta cruel passou a rondar sua mente.

Será Catarina capaz de responder essa pergunta?

Mais importante: será Afonso capaz de fazê-la?


CAPÍTULO I - MEA CULPA

Em toda sua vida, Afonso sempre tivera que lidar com as expetativas das pessoas. De certa maneira, estava acostumado com isso, com os olhos cheios de esperança voltados para ele, com toda a fé de uma nação depositada em seus ombros para que ele os guiasse à um futuro esperançoso.

Estava acostumado a lidar com as expectativas, mas não estava acostumado a lidar com a decepção de não atingi-las.

Quando Catarina o destituiu de seu cargo como Capitão do Exército de Artena, não foi o orgulho ferido que o deixou abalado, mas a perspectiva de tê-la deixado tão decepcionada. As palavras da princesa ficavam ecoando em sua mente, mesmo depois de muito tempo:

"Tínhamos visitantes de todos os lugares em Artena e você sequer sabia onde o Rei estava!".

Afonso nem conseguiu encará-la naquele momento. Catarina tinha razão, em tudo que tinha dito, em tudo que tinha feito. Ele tinha falhado em seu dever como Capitão da Guarda. Quando devia estar protegendo o Rei, seu coração falou mais alto e ele se permitiu ficar com Amália. Ela tinha acabado de recuperar a memória e Afonso sentiu tanto a falta dela... tinha medo que se não a segurasse naquele instante, todas as memórias simplesmente deslizariam para longe dela novamente.

Mesmo assim, não era justificável, ele sabia.

Afonso olhou através da janela do castelo, para além do jardim, onde ficava o labirinto. Era um dia nublado e cinzento em Artena, provavelmente choveria no final da tarde. Mais do que ele jamais poderia esperar de Montemor, onde jamais chovia, a terra era seca e os dias, quentes. E ainda que o clima fosse árido, ainda que ele não se arrependesse de sua decisão de ter saído de lá, não podia negar que às vezes – vezes como aquela – ele sentia saudades de casa. Não do castelo, não do conforto, não do luxo. De casa.

Ele nunca diria em voz alta, mas ainda não conseguia entender porque Amália não havia se adaptado a sua casa. Afonso ficou por meses com ela e a sua família, porque sua amada passou alguns dias com ele em Montemor e não conseguiu aguentar? Ele lhe disse a verdade quando assegurou-a que não a obrigaria nada e estava mais feliz em Artena do que jamais poderia ser em Montemor, sozinho, mas aquela ideia morava no fundo de sua mente e vinha à luz quando ele se questionava sobre certas coisas.

Naquele momento, lembrou-se de algo que Catarina havia lhe falado quando ele a resgatou do cativeiro do Duque de Vicenza: "Você pode não ter mais título de realeza, Afonso, mas jamais deixará de ser um príncipe".

Perdoe-meWhere stories live. Discover now