soulmates ➳ taekook au

four

           

Jungkook.

Eu podia escutar as pessoas gritando na arquibancada enquanto vestia meu uniforme amarelado no vestiário. O barulho estava alto do lado de fora, mas aqui dentro de mim tudo parecia muito silencioso. Fico pensando se a pessoa do desenho se arrependeria de me desenhar se soubesse que sou uma fraude.

Respiro fundo, o capitão dá uma risadinha quando passa do meu lado.

A noite parece mais quente, as pessoas não estavam com jaquetas grandes e toucas de lã, todos pareciam bem de calça jeans e camiseta. Meu pai me encara preocupado do outro lado do campo, mas não estou com vontade de passar segurança para ele com meu olhar, não quero falhar dessa vez, estou cansado de ser motivo de chacota.

Ás vezes penso que queria viver dentro de um filme, desses em que a gente pode ter um pedido e mudar a ordem das coisas, o destino de tudo.

- Jeon, você fica na esquerda. – é tudo que escuto.

Quando o juiz apita pela última vez, percebo que perdemos por causa de um único gol, e esse gol foi feito por cara do outro time que eu deveria ter ficado de olho. Sou um fracasso tão grande que tenho vontade de chorar e chutar os armários do vestiário, eu não queria fazer parte daquele lugar, eu não queria estar ali.

- Jungkook! – meu pai corre atrás de mim no estacionamento enquanto apresso o passo querendo entrar no carro o mais rápido possível. – Jungkook!

Finjo que não estou escutando, minha cabeça vai explodir a qualquer momento. Meu pai dá um soco no capô do carro, fazendo meu corpo parar no meio do caminho por conta do susto. Recuo.

- Jeon Jungkook, entra no carro, precisamos conversar.

O silêncio está estabelecido entre nós, sei que meu pai quer falar alguma coisa, mas também sei que ele está buscando as palavras certas para não entrarmos em uma terrível discussão. Passo a mão pela franja suada soltando um suspiro, mordo meu lábio em seguido.

- Filho, escuta... Sei que não está feliz, mas precisa fazer isso.

- O quê? Por quê? Por que é tão necessário que eu faça isso? Por que você me obriga tanto a estar no time? Alguma vez na vida pensou que talvez eu não quisesse fazer parte? – o encaro, meu pai se encolhe no banco.

- E quem não quer? Quem não quer ser popular no colégio? Quem não quer estar rodeado de garotas e a agenda lotada de festas e compromissos? Quem não quer vestir a jaqueta do time e nunca mais ter que apelar para as camisetas horríveis do colégio? – retribui meu olhar.

Só podia ser brincadeira.

- Quem não quer isso? Eu não quero isso, pai. Eu não faço questão dessas coisas, eu não... Deus, por que você nunca se importou em me perguntar? – respondo indignado, passando a mão pelo rosto. – Acha mesmo que vou conseguir ser popular sendo esse fracasso?

- Isso é treino meu filho, nós temos um campo pequeno no quintal de casa que treinamos desde que você tinha cinco anos, podemos praticar e talvez desse jeito te ajudar a ser bom e diminuir os rumores. – ele parece enrolado.

Junto minhas sobrancelhas.

- Rumores? Quais rumores?

- Os rumores que você é gay! – ele diz depois de respirar fundo, como se tomasse coragem para dizer.

- Não, não, saia da porra do meu carro! – grito. – Eu não posso acreditar que desde pequeno você tem me feito treinar todos os dias, perder toda a singularidade da minha infância porque acham que eu sou gay, quero dizer, aposto que não existe nenhum rumor. Você é o único que acha isso e está aterrorizado de eu ser um.