Se as palavras fossem dinheiro, um quanto valeria um tanto. Quem sabe, dessa forma, faria muito mais sentido buscar com tanta voracidade o excesso de capital.
Os pobres dariam nojo, pena ou ignorância de esmola para os mendigos; os ricos, por sua vez, dariam empatia e entendimento. Me pergunto, o quão grande seria a desigualdade?
Se as palavras fossem dinheiro, daríamos palavrões de troco, assim como damos balas quando não temos ou não queremos dar moedas.
"Com um por favor sai mais barato" gritaria o feirante.
As loterias sorteariam ilusões, deixando os ricos ainda mais ricos e os pobres ainda mais pobres - a verdade é que, nesse aspecto, tudo permaneceria igual.
Se as palavras fossem dinheiro, os poetas apareceriam na capa da Economist. Os escritores seriam invejados e os professores de português respeitados.
O achismo não valeria nada, ao contrário da evidência.
Se as palavras fossem dinheiro, ninguém morreria nas guerras, os líderes políticos ouviriam uns aos outros. Os países ficariam em silêncio e escutariam mais para manter a balança comercial favorável. O comércio mundial permaneceria assim até que alguém gastasse suas palavras para sugerir que todos lucrariam mais com o livre diálogo.
Se as palavras fossem dinheiro, todos os portugueses teriam aprendido as línguas indígenas do Brasil.
Se as palavras fossem dinheiro, eu lucraria com a metáfora, pagaria com a ironia e converteria com comparação.
E como eu viajaria! Enquanto houvesse vocabulário eu viajaria!
Se as palavras fossem dinheiro, Manuel de Barros teria sido um garimpeiro. Pasquale escreveria um Best-Seller para despertar o dicionário que há em você...
Se as palavras fossem dinheiro, os poemas seriam vendidos em joalherias. O amor seria tal qual o ouro ou diamante, porém, a sua raridade valeria mesmo a pena desejar.
Não sei que valor teria o sonho. Mas se as palavras não são dinheiro eu posso, ao menos...