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Já eram quase 03:00 da matina quando o táxi dobrou a esquina da rua Main Street e seguiu em direção ao parque Nikolas Morgan. Cruzou a velha e enferrujada ponte que fica sobre o lago Michigan e quando virou à direita na rua Oliver Derrust o Sr. Augustus Müller já estava do lado de fora da sua casa esperando pelo táxi.
O Sr. Augustus era magro e alto, aparentava ter cerca de 32 ou 33 anos. Ele usava um hobby azul escuro e chinelos de veludo impecavelmente brancos. O cabelo castanho escuro que fora cortado recentemente já começava a ser coberto por alguns poucos fios grisalhos e, apesar das olheiras profundas ele ainda era muito bonito.

O táxi parou. Logo o barulho da porta de trás sendo aberta cortou o silêncio da fria noite de outono e foi seguido pelo som que os coturnos de Melanie fizeram quando tocaram o chão de paralelepípedos. A garota desceu do táxi e foi para o porta malas pegar a bagagem. Tirou de lá duas grandes malas pretas, e pelo esforço que fazia o Sr. Augustus imaginou que elas estivessem pesadas. Mas não atreveu- se a tentar ajudar.

Ele não via a filha há o que? Dez ou onze anos? Da última vez que a vira, ela era uma garotinha de apenas seis anos. Era magra e cheia de sardas. O cabelo ruivo era tão cumprido que cobria todo o seu tronco.
O pai havia abandonado a família pelo que dizia serem "motivos pessoais". Quando saiu de casa, Megan estava dormindo, então o homem saiu sem se despedir da filha. Fato que não foi perdoado até o dia de hoje.

Agora, por outro lado, ele estava diante de uma adolescente alta e muito bonita. O cabelo que um dia cobriu a cintura agora estava cortado em um chanel de bico médio, mas ele ainda era tão  ruivo e liso quanto o que aparecia nas vagas memórias do Sr. Augustus. Os olhos, eram de azul tão intenso que se alguém os olhasse por muito tempo poderia ficar hipnotizado, as sardas que cobriam o nariz e as bochechas lembravam constelações. Ela já não era mais tão magra, na verdade já era quase uma mulher feita.

Ela pegou as malas e caminhou na direção da entrada da casa, quando passou pelo pai não disse uma palavra, nem sequer olhou para ele. Ela segurou cada mala numa mão e subiu os três degraus até chegar na porta de frente da casa onde colocou as malas no chão e seguiu para o seu quarto.

Antes de entrar no quarto ela fechou os olhos e respirou fundo por um minuto. Ela não ia chorar, não na frente do pai.
O pai abriu a porta para que ela pudesse entrar e observou em silêncio enquanto a garota jogava as malas no canto do quarto e se sentava na cama. Ela estava exausta por causa da viagem, foram 3 dias na estrada para chegar até Chicago - lugar que ela jura ser o fim do mundo.

-- Você está bem ? -- perguntou o pai. Seu tom voz era sério e sova preocupado.

Não houve resposta.

O quarto onde Melanie provávelmente iria passar os próximos 4 anos não era de todo um lugar desagradável. As paredes eram pintadas de um branco imaculado e as janelas cobertas por cortinas cor de areia. O piso de madeira que foi recém encerado estava tão limpo que ela quase podia ver seu reflexo no chão. A roupa de cama era branca e tinha manchas de tinta colorida, quase como em uma aquarela. No canto havia um guarda-roupas antigo, ele era  marrom escuro e muito alto. O que era bom. Afinal, Melanie tem muita roupa e um guarda-roupas pequeno não serviria. Fora isso não havia nem um outro móvel no quarto.

Quando percebeu que estava só ela deitou na cama e enfiou a cara num travesseiro para finalmente poder chorar desesperadamente pela sexta vez naquele dia.
Ela não conseguia entender como a mãe uma mulher tão jovem e cheia de vida teve de partir tão cedo. E o pior, deixando- a sozinha com o pai que a abandonara quando ela era apenas uma criança.

A mãe, Violet. Quando em vida, foi uma mulher muito atraente. O cabelo era comprido e tão liso que não fazia uma única onda nos fios. Os olhos eram azuis brilhantes e a silhueta era impecável. Além de tudo ela cozinhava muito bem e sempre mantinha a casa organizada. E o melhor, ela era a pessoa mais gentil e carinhosa que Melanie já conhecera. Ela não entendia como o pai pôde abandonar uma mulher com tantas qualidades.

Mas ai aconteceu o acidente- que Melanie jura ser sua culpa.
No dia do aniversário de dezessete anos dela, a mãe prometera que a levaria para o Gold Water Park, um parque aquático recém inaugurado.
O dia estava quente, quase não tinha nuvem no céu e o sol brilhava intensamente exibindo seu calor para todo o mundo. Era o dia perfeito para ir ao parque aquático, então elas decidiram ir.
Já estavam quase chegando quando um congestionamento fez com que elas tivessem que diminuir a velocidade.O fox preto que no ano seguinte seria de Melanie -Ela já podia se ver dirigindo aquela belezinha por todo canto- seguiu lentamente a longa e estreita fila de carros que se estendia sobre todo o corpo da ponte New Hampshire. Quando chegaram no final da ponte ficaram presas entre dois carros, exatamente em cima de uma linha de trem. A partir daí tudo aconteceu muito rápido. Um trem de frente preta enferrujada e com o que pareciam ser mais de 30 vagões vinha apitando e soltando fumaça à todo o vapor. A mãe buzinou desesperada para fazer os carros da frente andarem mas não adiantou. Ela e a filha só poderiam abandonar o carro. Melanie saiu primeiro e foi para o outro lado ajudar a mãe que estava presa no cinto de segurança. Mas já era tarde. O trem atingiu o carro com tanta força que até os carros de frente e o de trás foram arremessados contra os que também os prendiam ali e garota escapou por muito pouco. Melanie observou toda a situação chocada e não teve reação a não ser chorar desesperada até os bombeiros chegarem para tentar fazer o resgate.

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⏰ Última atualização: May 17, 2018 ⏰

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