Assim que amanheceu o dia eu já estava acordado, e recordo plenamente quando vi meu pai subindo as velhas escadas de madeira com um jornal na mão para entregá-lo a mim, pois nele havia um anúncio de trabalho. Era um anúncio até bem feito, e nele dizia: "Está sem emprego? Somos a solução! ". No dia eu estava até empolgado com a ideia de começar a trabalhar em uma fábrica, mas novamente eu repito esta frase: se eu soubesse na época o que sei hoje, eu não teria aceitado, e até colocaria fogo naquele maldito jornal. No entanto eu mal sabia o que estaria por vir, então eu aceitei e fui direto conversar com meu patrão para saber quando eu começaria. Pulei da cama, tomei um chá rapidamente e me vesti com as minhas melhores roupas. Então, fui até a fábrica do Sr. McGold (nome do meu suposto futuro patrão).
Chegando na fábrica com meu pai, nós encontramos alguns trabalhadores todos sujos, famintos e fatigados, porém continuamos andando e não ligamos muito para aquilo. Eis que chegamos na sala do Sr. McGold, e ele nos recebeu com muita educação.
- Ah, sejam bem-vindos! Eu sou Charles Hank McGold, mas podem me chamar apenas de Charles. – No começo ele parecia legal, mas aquele lazarento era um lobo em pele de cordeiro – O que vieram fazer aqui?
- Nós gostaríamos de saber se o senhor está à procura de novos funcionários, Sr. McGold.
- Ah, estão procurando emprego, por favor sentem-se. Olha, eu realmente estava procurando novos funcionários, já que três dos meus antigos trabalhadores morreram de causas naturais enquanto trabalhavam. Trágico, não é?
- Sim, muito trágico Sr. McGold – Afirmei, desconfiado de algumas coisas.
- Bem, como é o nome de vocês? Preciso disso para fechar o contrato.
- Sou William Launt, e meu filho é Charlie Launt.
- Ah sim, tudo certo. – Disse o Sr. McGold, empolgado. – Venham, vou lhes mostrar seu setor de trabalho.
Após muita conversa, fomos conhecer nosso novo trabalho. Ah, naquela época tudo parecia uma beleza, e da forma como ele nos mostrou nosso setor de trabalho, aquele lugar parecia o país das maravilhas.
- Bom, chegamos ao seu setor de trabalho, como podem ver é um lugar arrumado e muito limpo também. Podem começar imediatamente.
- Ah, mas eu só tenho uma pergunta, Sr. McGold: O que faremos nesse setor, especificamente? – Questionei, desconfiado novamente.
- Bem, vocês trabalharão separados. Você, Sr. William, cuidará do derretimento do alumínio. Já você, pequeno Charlie...
- Agradeço a educação, mas, por favor, não me chame mais de pequeno, Sr McGold.
- Cuidará da fundição do alumínio em aço. Entendeu?
- Sim, entendemos.
- Ótimo, mãos à obra!
No momento parecia um trabalho xucro, sem tanto esforço. Porém, depois de 17 horas até o trabalho mais legal do mundo se torna cansativo.
Quando chegou o crepúsculo, ou seja, no meio do nosso expediente, meu pai e eu estávamos exaustos e sem ânimo para continuar, foi então que o Sr. McGold entrou na sala e perguntou o porquê de não estarmos trabalhando. Nós dissemos que estávamos cansados demais para continuar naquela situação, e perguntamos se poderíamos tirar um cochilo.
- Sr. McGold, já trabalhamos 8 horas seguidas, será que podemos ter um descanso antes que possamos continuar com o trabalho? – Perguntou meu pai.
- Hahaha, creio que não ouvi direito... Você falou em descanso?
- Isso mesmo, descanso.
- Ouça, eu até poderia te conceder descanso, mas se eu o fizesse eu não seria seu amigo, pois os grandes proprietários tiveram de ralar muito até chegarem onde estão. Agora, voltem ao trabalho!
Nós não tínhamos outra opção, então voltamos ao trabalho até que aquele maldito saiu da sala e nós pudemos descansar um pouco antes de voltarmos ao trabalho pesado. Mas é claro que o diabo voltaria para atormentar ainda mais nossa vida, e dessa vez era em formato de mulher. Estou me referindo à mulher do Sr. McGold, que ficou encarregada de vigiar todos os setores da parte oeste da fábrica, incluindo o meu. Ela nos encarava como um caçador atrás de sua presa, nunca perdendo o foco. Eu sinceramente me sentia como uma presa naquele lugar desprezível, sempre "predado" pelos olhares dos meus superiores. Eu não me sentia confortável enquanto estava lá, e sabia que jamais me sentiria, ainda mais depois que a Sra. McGold começou a nos vigiar também. Agora estávamos literalmente escravizados.
Quando finalmente acabou nosso expediente, pudemos voltar para casa (exaustos e quase não sentindo os braços). E enquanto voltávamos para casa vimos uma cena chocante: um menino de mais ou menos sete anos de idade, sujo de fuligem e com queimaduras, carregando o seu irmão pequeno no colo, e ele estava voltando da extração do carvão! Como pode acontecer isso? Uma criança de sete anos trabalhando pesado assim? Pois é, bem-vindo à Liverpool!
Quando chegamos em casa, a primeira coisa que minha mãe nos perguntou foi o porquê da demora. Nós respondemos que estávamos no trabalho e que não tivemos descanso algum. Ela desconfiou um pouco, mas logo acreditou no meu pai, que já estava quase caindo no chão de sono. Recordo-me de algumas palavras que minha mãe disse:
- E então, como foi o primeiro dia de trabalho? – Perguntou minha mãe, esperando uma resposta positiva.
- Péssimo, e estamos torcendo para que o segundo não seja como o primeiro. – Afirmei, caindo de sono – Agora, mãe, se me dá licença eu tenho que ir dormir para me preparar e poder acordar cedo amanhã. Boa noite, mãe.
- Boa noite, pequeno Charlie.
Quando ela falou "pequeno Charlie" eu só pude lembrar do maldito McGold me menosprezando, mas estava cansado demais para qualquer tipo de conflito. Então, subi até o meu quarto e caí na cama como um morto, já pensando no que estaria por vir no dia seguinte.
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Mariposa Negra: A Grande Revolução
Historical FictionCharlie, junto com a sua família, vive uma vida calma em Glenrothes, uma pequena cidade escocesa. Mas, devido à Revolução Industrial, eles são obrigados a se mudarem para Liverpool, onde acontecerão eventos que marcarão suas vidas para sempre.