Entorpecedor

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Escuro...

Tudo escuro...

Nada, e ao mesmo tempo tudo, via Syban...

Olhava para suas mãos e via suas próprias gotas... lágrimas, que em suas mãos escorriam... O céu e o solo escuros. Quem poderia distinguir de que lado era o que? Sozinho, escuro, lágrimas, gotas de chuva...? Da diagonal direita em baixo de si à direção oposta...

-syban... Syban... SYBAN, ACORDE POR FAVOR!

-Onde é que estamos?

-Eu estava muito preocupado com você! Te trouxe através do deserto de geada, você estava sem temperatura, sem cor...

Cosmo estava praticamente aos prantos, com o corpo de seu amigo deitado em seu colo recuperando sua temperatura gélida que havia dissipado no deserto.

Em um tipo de vila desolada, dentro de uma casa construída convexamente sobre um solo tão macio como as nuvens saltadoras do Lago Etéreo de Lavey em Mikrawl, Syban e Cosmo, emocionados e com seus corações batendo a mil, conversavam sobre a dor de uma perda e esquecimento, e também sobre a dor de estar em uma situação que comumente seria tratada como aparentemente sem solução.

-Sabe Ban, eu já não tenho mais ninguém com quem contar e me apoiar, muito menos nenhum lugar para ir. Você é literalmente a única pessoa que eu tenho. Você me cativou. Não consigo imaginar uma companhia desastrosamente compatível com quem explorar esse lugar frio, úmido e desolado se não você ^.^

Syban, envergonhado com suas bochechas tornando-se um rosa-choque emitente de bastante calor, começou a gotejar pelos olhos, abraçando Cosmo com a força de um Leão de Algodão, uma demonstração de gratidão, tristeza, felicidade e compaixão.

A casa oca se expandia...

-Olha só, talvez nesse lugar haja uma daquelas dádivas de expansão emocional.

-Eu não faço ideia do que seja isso, mas deve ter a ver com o calor que está vindo de suas bochechas.

-(riso tímido) Uma dádiva de expansão emocional é uma magia espectral de um planeta vizinho ao meu, criada por descendentes de magos já mortos a éons para metamorfosear um lugar fechado a uma construção e interior baseados nas emoções das formas de vida dominantes que ali habitavam. É uma magia proibida por conta da parte de "formas de vida dominantes", já que outras galáxias e realidades poderiam, em tese, conter algo ou alguém mais poderoso que nosso povo e espécie e virar nosso próprio ambiente contra nós.

- É como uma árvore multifacetada. Em toda sua grandeza, há partes sensíveis, furiosas, aconchegantes, curadoras e venenosas. Esse tipo de árvore existia na parte noroeste do Grande Bosque do Vulcão que circundava o grande adormecido Apoloth. Existia inúmeras formas de vida ali, foi lá que conheci muitos dos meus amigos Zexelins. São como nós mas podem voar e criar canções muito boas, assim como a grande curandeira Maria.

-Você está se lembrando de mais coisas, como nomes de lugares e pessoas, seus amigos... Isso é maravilhoso, Cosmo!

-Sim... Espero que eu consiga lembrar logo meu nome.

Eles conversaram mais sobre nomes, e partiram para um assunto úmido, as cidades submersas de Mikrawl e suas belezas e culturas. Syban contou um pouco sobre as vegetações inacreditáveis de Cajalloth, seu planeta. Comentou suas plantas conselheiras e águas milagrosas das nascentes roxas e fluorescentes. E assim passou-se mais um dia.

Continuando sua jornada ao desconhecido, Syban e Cosmo se direcionavam a um bosque tri-colorido e cheio de vida, onde formas de vida esquisitas e exuberantes, como vaga-luzes bem pequenas e deisies-topa-copas viviam. Syban percebeu que aquelas vaga-luzes não fediam chulé como os come-lumos de seu planeta, assim como as deisies-topa-copas abraçavam as árvores ao invés de roê-las como as margaridas-passadoras faziam. Se pegou rindo inocentemente no momento em que percebeu isso.

Cosmo estava encantado com a boa vibração do bosque e o pólen místico com rastro neblinoso que as vaga-luzes deixavam para trás. Era cheio e cheiravam bem, de repente, começou a receber flashs de memória felizes e tristes e decidiu então, reproduzir em voz aquilo que via em sua mente, coisas que carregavam pesadas emoções. Sabia que eram suas memórias perdidas, aquelas.

-Havia uma senhora bem vivida em minha vila que se chamava Zaya. Ela me disse uma vez que de tempos em tempos, poeira estelar ficava tão perto do nosso planeta que dava para coletar montes e fazer várias coisas, tipo chapéus e orbes visuais, este último servindo como vigilante de galáxias distantes em tempo real, era um artefato muito útil. Na época em que Sra. Zaya me disse isso, eu namorava Ulma, uma Zexelin. Ela me deu um orbe para que eu pudesse falar com minha estrela guardiã. Foi algo muito considerável e muito carinhoso, então eu devolvi à ela uma coisa bem legal, peguei um pouco de luz lunar e coloquei num potinho e fiz um colar, para que ele a protegesse das garras das sobras ruins.

-E ela gostou?

-Sim, ela usou por muito tempo mas aquela luz acabou, com o tempo, se esvaindo sem que ambos percebessemos, até um dia que esse presente veio a falhar... Ela foi com seu irmão batalhar na Arbitragem Celestial contra coisas escuras atrozes e malignas vindas do 'espaço exterior'. Ulma acabou morrendo naquela batalha protegendo seu irmao, seus parceiros, sua família e seu planeta... Morreu protegendo tudo que amava e acreditava.

-Nossa Cosmo, eu sinto muito... Muito mesmo...

-Obrigado por seus sentimentos, Syban, de verdade. Depois daquele acidente, eu consolei sua família. Eu gostava bastante deles e era recíproco. Seu irmão Novah ficou desolado por não ter podido fazer muito mais coisas para a segurança de sua irmã. Ele se apoiou muito em mim em sua queda, foi a recuperação mais demorada de todas, levou anos... Por conta disso, nos aproximamos bem mais do que só como amigos...

-E então...

-E então... e então...

-Você não se lembra mais que isso não é?

-Me desculpe...

-Não se desculpe Cosmo. Sem pedir, forçar ou apressar nada, olha quanto você lembrou sobre si mesmo. Estou muito orgulhoso de você.

-Obrigado, Ban, mas isso é quase nada a tudo que eu já vivi... E acho que quem estimulou foram as vaga-luzes.

-Eu sabia que elas estavam tramando algo girando no ar desse jeito hahahah. Vamos guardar na memória seja lá o que haja nesse lugar, as sensações, os cheiros, os sentimentos e os sons, toda a experiência aqui também é nova para mim. Vamos dar nosso melhor para que tenhamos uma boa experiência e nos lembremos dela no futuro. Te agradeço de novo por me ajudar na geada.

A luz do bosque emanava, laranja e amarela. Era o sol daquela galáxia, aconchegante e morno. A sensação era que aquele lugar curava as feridas daqueles cujo coração estava injuriado há eras, era uma salvação, um lembrete, um abraço... Era viciante. As vaga-luzes bem-cheirosas daquele bosque eram calmantes e ouvintes, ótimas companheiras. Aquele bosque era sagrado e ofereçia cura e abrigo pela noite aos vagantes cósmicos, antes que desaparecesse para renascer em outra parte do mundo.

Que esquisitos aquelas vaga-luzes. Elas ficavam cantando uma música sobre coisas conjuntas e inseparáveis, deixavam os garotos confusos, mas esses riam e se divertiam com elas.

Que bem-nutridos os habilidosos zunidores aquáticos. Faziam incríveis saltos e voos um sobre os outros e sobre as árvores, deixando caminhos de água para trás, voltando ao lago após isso.

Que divertido esse bosque ^-^

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⏰ Última atualização: Dec 20, 2018 ⏰

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