La vida sin ti ❁ Simbar

01

[O câncer de pulmão é um tumor caracterizado pela quebra dos mecanismos celulares naturais do pulmão, levando ao crescimento desorganizado de células malignas.]

—ÁMBAR SMITH

Há quase dois meses minha madrinha descobriu que está com câncer no pulmão. No começo, eu chorava todos os dias, afinal, ela foi como uma mãe para mim. Mas agora eu preciso ser forte, por ela.

Hoje, ouvi ela chorando dentro do quarto, isso doeu muito. O pior de tudo isso é não poder desabafar com ninguém. Minha madrinha me proibiu de contar a qualquer pessoa. Acabei me excluindo de tudo e bom, parece que ninguém notou nada de errado comigo.

Quando vou à escola, são os piores momentos. Parece que a hora não passa e meus únicos pensamentos estão voltados para ela.
No Roller, é o lugar onde, às vezes, eu consigo me acalmar. Patinar agora nem sempre está me fazendo esquecer dos problemas.

Jazmín e Delfina costumavam andar comigo, eram minhas melhores amigas. Eu inventei uma desculpa para poder me afastar delas e nunca mais nos falamos, eu sofro com isso.

— Como foi a escola hoje? — minha madrinha, mexe em meus fios soltos do coque. Eu estava deitada em seu colo um momento que se tornou frequente desde a descoberta da doença.

— Normal. — forço um sorriso.

Ela não sabia que tinha me afastado das pessoas. Sempre quando vinha esse assunto, eu  fazia minhas respostas serem mais curtas que o possível.

— Olha Ámbar, um dia eu não irei estar mais aqui... — ela suspirou. Inspira, expira. Contaaté 15. Não chora Ámbar. — e por isso quero que você compartilhe comigo todos os seus momentos.

— Quando chegarmos da sua médica, pode ser?— eu procuro o seu olhar e ela confirma com a cabeça.
Levantei primeiro e em seguida, ajudei ela a levantar. Chamamos o motorista que nos levou até o consultório da Dra. Lisa.

Doutora Elisa, ou Lisa, como prefere ser chamada, vem acompanhando minha madrinha desde a descoberta da doença. Hoje é a segunda vez estou aqui. Ela vai falar sobre tratamentos que podem ajudar, porém não curar.

— Ámbar, essa é a hora que você entrega a sua Madrinha. Ela está comendo? — falou sorrindo, mas levando preocupação no olhar.

— Não tanto como deveria, mas sim. — falei.

— Sharon, Sharon... eu sei que a perda de apetite é comum nesse caso, mas se você deixar de comer, cada vez mais irá perder peso e se sentir fraca. — Sua voz era calma, mas de repreensão. Dra Lisa, aparenta ser um pouco mais nova que minha madrinha. Sua pele é tão clara, que destaca a cor escura de seus cabelos. Um anjo sem asas, é isso o que ela é. Uma consulta leve e cheia de sorrisos, apesar do momento ser de dor. — Bom, não quero ser chata repetindo a mesma coisa, então vamos mudar de assunto! Sobre o tratamento... — segurei na mão de minha madrinha, transmitindo segurança. — O tratamento para câncer de pulmão pode ser feito com cirurgia, quimioterapia, radioterapia ou terapêutica fotodinâmica, dependendo do tipo de câncer, tamanho, localização do tumor, e do estado geral de saúde do paciente. No seu caso, com a saúde fragilizada escolher fazer cirurgia, seria Segmentectomia que irá tirar uma pequena parte do lobo pulmonar com câncer. O tempo de recuperação da cirurgia é demorado e podem surgir algumas complicações. — ela intercalava o olhar entre mim e minha madrinha. Sempre falando calmamente, para que tudo pudesse ser absorvido. — A quimioterapia, é geralmente administrada por uma injeção na veia ou através de um cateter, coloca na veia durante todo o tratamento. Que pode durar um ano ou mais. Ela pode ser realizada antes ou depois da cirurgia e vem acompanhada infelizmente dos efeitos colaterais. Vocês querem saber?

— Sim, por favor. — minha madrinha respondeu na mesma hora.

— Eles são a perda de cabelo, inflamação na boca, náuseas e vômitos, cansaço extremo, diarreia ou prisão de ventre, infecções, alteração sanguínea e a perda de apetite.

— Po-Posso fazer uma pergunta? — minha voz estava fraca.

— Claro que sim, Ámbar.

— E o tempo de vida dela? — falei sem hesitar. Eu precisava saber. Observei que a doutora abriu, e fechou a boca diversas vezes. Não por que ela não tinha uma resposta e sim porque ela estava procurando as palavras certas.

— Isso é sempre muito difícil de falar e não tem um tempo exatamente certo. Após o diagnóstico da doença, o tempo de vida é de pelo menos 5 anos ou menos. Cada caso é um caso.

— Você acha que o caso dela é grave demais?

— Ámbar, dependendo se ela escolher fazer a cirurgia e a quimioterapia, estarei em observação. Sharon, você precisa me dar uma resposta até o final da semana.

Até o final da semana.

O nosso caminho de volta para casa foi em silêncio. Eu estava em silêncio, porque não sabia o que dizer e se era o momento certo para dar algum palpite. Ela estava em silêncio, por estar tentando absorver e entender tudo o que foi falado.

🧚🏻‍♀️ Bom, nesse capítulo eu só queria explicar um pouco do que está acontecendo em relação a Sharon.
Espero que não desistam de mim e aguardem por simbar.
Mwah!