CAPÍTULO UM

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Dias atuais…

Riddick

Quatro anos haviam se passado, e nada foi feito. Sempre informações falsas chegavam até mim, só que ainda não desistir. Estou com 34 anos. Possuo as mesmas capacidades de combate, eu acho até que bem melhores. Treino todos os dias sem parar.
Tenho as mesmas equipes trabalhando comigo, porém, o mais chegado a mim continua sendo JJ, ele ainda é o meu braço direito e meu melhor amigo. Lutamos lado a lado no Vietnã.
A minha empresa está situada em New York, várias pessoas de todas as partes do mundo vêm pedir a minha ajuda. Às vezes faço alguns trabalhos Pro Bono, outras vezes não. Eu não sou padre, e tão pouco voluntário. Não faço caridades. Por escolha minha, me tornei um homem frio, quer dizer mais frio do que eu era. Se antes eu não buscava relacionamentos fixos, agora piorou. Só dou prazer e recebo em troca, apenas isso.
Não me acho um homem lindo, mas tenho meus atributos físicos que dão inveja a muitos por aí. Fora meu corpo atlético, sei que elas gostam disso. Eu só dou o que elas querem e nada mais.
— Bom dia senhor Riddick! — Mabel, minha recepcionista falou com um sorriso no rosto, que morreu assim que falei com ela.
— Na minha sala! — O tempo pode passar, mas os hábitos nunca mudam. Sou um homem autoritário, gosto de mandar, me sinto bem assim. O problema é que todos tem medo de mim. Eu prefiro respeito. O respeito pode até ter, só que seus medos sobressaem mais.
— Pois não senhor! — Proferiu nervosa.
— Já providenciou meu novo assistente? — Realmente está difícil trabalhar sem um. O trabalho dobrou.
— Já estou fazendo isso! — Apertava as mãos uma na outra de nervoso.
— Mabel, você sabe que eu detesto pessoas incompetentes, não sabe? — Questionei sério.
— Claro que sei, senhor!
— Então faça o seu trabalho direito. — Mandei me sentando em minha cadeira.
— É que… — Gaguejava, com os olhos cheios de lágrimas.
Grrrr!!! Às vezes cansa estar rodeado de pessoas fracas.
— Desembucha! — Falei sem paciência. Como sinto falta da ação. Está confinado em uma sala não é, e nunca foi para mim.
— Só temos uma candidata senhor! — Revelou receosa.
O quê? Apenas uma?
— Por quê? — Isso realmente surpreendeu-me.
— As pessoas sentem medo de trabalhar para o senhor. — Falou olhando para todos os lados, menos para mim. — Descobriram sobre o seu último assistente. — Parou de falar por causa da olhada que lhe dei.
Levei o idiota em uma missão, e o imbecil deu um troço. Teve um princípio de infarto. Aquele fraco, ridículo, filha da puta, inútil.
— Você disse candidata. Isso quer dizer... — Parei de falar, me sentindo contrariado novamente.
— Mulher, senhor Riddick! — Limpou algo invisível em sua saia social preta. Eu deveria dizer não, mas eu a admiro em querer se candidatar, darei um voto de confiança.
— A contrate, faça algumas perguntas básicas, mesmo assim, contrate. Se ela conseguir ficar uma semana comigo, eu disse, se conseguir, investigue-a. Não posso ter uma desconhecida trabalhando para mim.
— Como o senhor quiser! — Sorriu profissionalmente. — Mas alguma coisa?
— Quero esse assistente para ontem! — Falei dando esse assunto por encerrado. Quando ela saiu, tirei os óculos escuros, detesto usá-los o tempo todo, mas é preciso, se não assusto todos ao meu redor. Sentei-me atrás da minha mesa, abri meu notebook, e fui resolver as minhas pendências, que não são poucas. Meu telefone tocou, e eu atendi a contragosto, preciso urgentemente desse assistente.
— Riddick falando! — Atendi grosseiramente. A pessoa falou o que tinha que falar e eu desliguei o telefone na cara dele. A pessoa que me ligou foi um ex-militar da marinha, nos conhecemos em meio à guerra.
Tanto o Corpo de Fuzileiros Navais, quanto a Marinha americana são administradas e controladas pelo Departamento da Marinha dos Estados Unidos. Apesar de serem dois órgãos militares distintos, o Corpo de Fuzileiros Navais e a Marinha trabalham em estreita colaboração. Por isso que nos conhecemos.
Clarkson trabalha em uma escola de preparação de agentes, conhecida como Excellence. Possui as mesmas funções de Quântico. Ele me pediu para dar uma palestra, eu até queria negar, mas como ele mesmo me lembrou, tenho uma dívida com ele, e eu sempre pago minhas dívidas. Depois de passar muito tempo divagando em minha mente, voltei à droga do trabalho, afinal, ele não se terminará sozinho.

Abla Dinis
— Mamãe! — Nia, meu pequeno presente chamou-me, querendo a minha atenção.
— Qual é o problema Nia? — Questionei sorrindo.
— Deixa nós ir com a senhora, por favorzinho. — Fez uma carinha linda de pidona. Se não estivesse vacinada, cairia direitinho. Então, respondi diretamente:
— Não pode!
— Por favorzinho, mamãe! — Niara pediu imitando a irmã. Essas meninas são muito espertas, só que eu sou, mais, elas não conseguirão ludibriar a minha pessoa.
— Tenho uma entrevista de emprego agora, e já conversamos sobre isso. — Elas me olharam tristes.
— Desculpa! — As duas falaram juntas, tirando um sorriso dos meus lábios.
— Olha só, vai com a Bia, que quando chegar farei um brigadeiro bem gostoso para todas nós.
— Oba! — As duas falaram e saíram correndo para a casa da Bia.
— Não se preocupe, cuidarei muito bem delas, Abla. — A jovem falou com um sorriso amplo nos lábios.
Era sempre assim. Todas as vezes que saia e as deixava sob os cuidados de Bianca, meu coração ficava ansioso. Mas tudo que faço é, e sempre será para o bem delas.
— Eu sei Bia. Confio em você. — Falei sincera, e fui brindada com um belo abraço apertado. Saí o mais rápido que podia, afinal, não quero me atrasar para essa entrevista de emprego.
Faz exatamente, quatro anos que estou aqui em New York. Naquele mesmo dia em que perdi minha gêmea, tomei a decisão de ir embora da minha cidade, Salvador, capital da Bahia. Mas, o que me surpreendeu mesmo, foi à necessidade de partir do meu país. Eu escolhi essa cidade, na verdade aleatoriamente, não foi porque eu a amava. Em primeiro lugar, nunca havia pisado nela. Foi muito difícil dar esse passo, no entanto, eu estava decidida.
Para ajudar a nossa mudança, pedi um favor a uma conhecida, ela conseguiu um visto para mim, e para as meninas. Desde que eu cheguei, trabalhei em vários lugares. Tudo isso para dar uma boa estrutura às minhas meninas. No tempo do exército, consegui guardar uma boa soma, mas quando se vive com duas crianças, o dinheiro evapora. Eu preciso de um emprego que possa ganhar melhor, sei que ficarei muito tempo longe delas, mas é necessário para nós três.
Vocês devem ter reparado que as meninas me chamam de mãe! Na verdade, é uma opção delas. Assim que elas completaram quatro anos, eu as chamei e contei sobre a mãe delas, mostrei fotos, e expliquei tudo resumidamente, claro, de forma simples para que elas pudessem entender. Pensei que ao explicar, elas não me chamariam novamente de mãe, mas, ledo engano. Perguntei o porquê, e elas disseram:
— Mamãe, nós entendemos que foi a mamãe Pan, que nos colocou neste mundo, mas, foi a senhora que nos criou. — Quem falou isso foi Nia, ela desde pequena, sempre foi muito esperta, a razão, como eu a classificava, enquanto que a irmã era emoção pura.
— Mamãe é quem cria! Não se preocupe, levaremos nossa mamãe Pan sempre em nossos corações. — Niara também não ficou atrás, porém, fiquei espantada com tanta sabedoria para tão pouca idade.
Eu chorei tanto nesse dia, fiquei muito emocionada. Percebi que meus tesouros já estavam crescendo e me orgulhei muito naquele momento.
— Bom dia senhor Carson! — Comprimento, com o meu melhor sorriso.
— Bom dia menina Abla. — Respondeu-me igualmente.
O senhor Carson é uma ótima pessoa. O conheci três anos atrás, infelizmente ele não fala muito sobre si, mas, a minha mente doida, já imaginou várias e várias coisas.
— Está com fome? — Perguntei, fazendo o bico no final.
— O que acha? — Me respondeu com outra pergunta. Típico dele. Colocou a mão na barriga sugestivamente, e terminou com um bico, mais longo que o meu. Eu ri da carinha que ele fez, e lhe dei um abraço. Aqueles de rachar costelas.
— Eu trouxe empadão de frango. — Avisei empolgada.
— O Senhor ouviu as minhas preces ontem. — Praticamente puxou a vasilha de minhas mãos. — Menina, comendo sua comida, engordei uns dez quilos. — Informou animado.
— Assim seja! — Levantei as mãos para os céus.
— Vai sair?
— Entrevista de emprego!
— Boa sorte menina Abla! — Sua sinceridade me comoveu.
— Agradeço meu amigo. — Lhe dei outro abraço e saí para pegar a condução. A empresa não é longe, mas, eu já enrolei demais. Se eu inventar de ir andando, chegarei atrasada.  Eu preciso desse emprego, e farei o possível para consegui-lo.
Cheguei a grande empresa, cujo ramo é de segurança. Não vou mentir, trabalhar em uma corporação nunca foi o meu sonho. Gosto da ação! Aventura! Porém, infelizmente não podemos ter tudo que queremos. Entrei na Riddick Corporation e fui até a recepção:
— Bom dia! — Saudei educada.
— Bom dia senhorita! Em que posso ajudar? — Falou com um sorriso, por sinal, bastante acolhedor.
— Vim para uma entrevista, no cargo de assistente.
— Ah! É a candidata Abla Dinis, correto? — Falou em uma animação. Muito estranho viu.
— Isso!
— O elevador, fica logo ali. Último andar, procure por Mabel Singer!
— Agradeço! — Sorri para a moça de novo.
Hoje estou distribuindo sorrisos a torto e a direita. Antes de entrar na caixa de metal que ela apontou, faço uma oração mentalmente. Seja o que Deus quiser. Quando o elevador se abriu, meu queixo foi ao chão e voltou.  Jisus Cristinho. Quase todas as paredes são vidros claros, apenas uma possui vidros escuros. Há um tapete vermelho, o qual tem seu início no elevador e se estende por todo o ambiente, indo até a sala de vidros filmados. O nome RIDDICK, em letras de formas está gravado na porta da sala.
Uma mesa de madeira nobre negra adornava o lugar. Percebi que se tratava de outra recepção. Há uma moça de cabelos ruivos e pele muito pálida, concentrada em algo. O jeito que fazia anotações em sua agenda, e sua postura rígida, me passa que está nervosa e muito tensa. Aproximei-me cautelosamente, e disse saudosa:
— Bom dia!
— Bom dia! Deve ser a candidata? — Perguntou, com uma aparência abatida.
— Abla Dinis!
— Seu nome é diferente! — Ela comentou com um sorriso nos lábios.
— É queniano. — Falei sendo educada.
— A senhorita vem da África? — Questionou curiosa. Não a culpo, afinal, ficaria da mesma forma.
— Não, eu sou brasileira. Minha mãe que escolheu. — Fez um dar de ombros, sorrindo. — Em minha defesa, posso dizer que ela era apaixonada pela história dos povos africanos.
— A senhorita é linda.
— Obrigada! — Falei envergonhada. Simpatizei com ela logo de cara. Gostei do fato de ser direta, e sempre olhar em meus olhos quando falava.
— Eu invejo a sua cor. Deus, você é um mulherão.
— Menos, pelo amor de Deus. — Falei ainda mais envergonhada, e com um pé atrás. Não estamos no coração de ninguém.
— Saiba que os homens dessa empresa não resistem a uma mulher bonita, então tome cuidado.
— Recado recebido com muito sucesso. — Falei rindo, afinal de contas, não estou à procura de um relacionamento. Não sou virgem, mas dizer que tive muitos namorados seria uma mentira. Sempre vivi para o exército. A miséria do meu primeiro e único namorado, era de lá. Mas, felizmente não deu muito certo. Lembro-me, que minha primeira vez foi horrível. Não senti prazer nenhum. Meu ex era um homem egoísta, que só procurava seu alívio próprio, e esquecia-se do meu. Nos dois anos de namoro, me sentia muito frustrada, então pensei comigo mesma.
“Se com ele, eu me sentia sozinha e seca, sem ele ficaria muito melhor.”
Então eu lhe mandei um foda-se, e disse para aquele filho de uma puta, sair de vez da minha vida. Foi um problemão! O infeliz me perseguiu por meses. Não pensem que era porque gostava de mim, longe disso. Ele me perseguia por que estava com o ego ferido. Acho que ele preferia terminar, mas, eu fui mais rápida. Graças a Deus, me livrei daquele embuste.
Voltei a mim quando ouvi a voz da minha futura colega de trabalho. Olhe-me eu sendo positiva! Preciso ser, essa é a verdade.
— Que bom! Vamos até aquela sala. — Ela falou rindo. Entramos e me sentei de frente para ela e esperei que começasse a falar.
— E então, fale um pouco sobre você.
— Como falei antes. sou brasileira, vim para esse país três anos atrás. Tenho 26 anos, mãe e irmã falecidas.
— Sinto muito!  Por que veio para New York?
— Eu precisava recomeçar, e nada melhor que um lugar novo.
— Que bom. Você começa amanhã, não se atrase, seu chefe não gosta de atrasos. — Falou se levantando, deixando-me extasiada.
— Mas como? — Estava de boca aberta. Pensei que suaria bem mais para conseguir esse emprego.
— Você já estava contratada. — Levantou como tivesse livrando-se de um grande peso. Eu quis perguntar-lhe o porquê, porém, desisti. Não irei brincar com a sorte.
— Quem será meu chefe?
— O dono da empresa, o senhor John Riddick!
— John Riddick! — Exclamei pensativa. Eu já ouvi falar desse nome. Dizem que ele é uma lenda. Várias condecorações, o cara é tudo e mais um pouco.
— Isso! — Não me respondeu com uma empolgação tão boa.
— A senhorita possui algum conselho? — Indaguei desconfiada.
— Só não o irrite, ele não é uma pessoa fácil de lidar. Não o encare muito, ele não gosta. Ah!  O senhor usa óculos de sol o tempo todo.
E agora essa. Por que será?
— Por quê? — Meu lado investigador falando.
Cala a boca Abla!
Mas também né, essa moça não se calava. Tudo que eu pergunto, ela responde.
Toma cuidado moça. Nem tudo tem que ser dito.
— Ele sofreu um acidente quando estava em uma missão. Acho que uma bomba explodiu, não agarrou nele, mas o calor quase fritou seus olhos. — Escondeu a boca com suas mãos. — Todos ficaram impressionados porque ele não ficou cego, mas em compensação, ficou com uma irritação a luz do sol.
— Entendi. — Sorri desconfortável. — Agradeço pelas informações.
— Minha querida, eu que agradeço, você salvou o meu pescoço. — Seus olhos estavam arregalados. De novo aquela aflição na voz dela. Será que esse homem é tão ruim assim de se lidar? Bem, não estou nem aí, se ele vier pra cá, não espere que eu baixe a cabeça, porque comigo não.
Despedi-me dela e saí da empresa, estava doida para chegar em casa, no entanto, tenho outras coisas para fazer. Como por exemplo, comprar roupas para o trabalho. Eu não tenho nada bonito para usar como assistente da presidência. Nunca liguei para isso, passei a vida toda com farda e um rifle em mãos. Só que agora é muito diferente, a minha vida é diferente. Fiz as compras necessárias para o mês atual, quando receber meu primeiro salário, comprarei mais coisas. Claro que não comprei só para mim, para minhas meninas também. Ambas estão crescendo muito rápido, então isso quer dizer que suas roupas estão se perdendo da mesma forma.
Fui para casa correndo, estou com muita saudade delas. Não sei o que vai ser de mim, nunca me separei das minhas pequenas por tanto tempo. Será muito difícil. Bati na porta de Bia e minhas pimpolhas, saíram correndo para me abraçar.
— A benção mãe! — As duas falaram juntas, me arrancando uma gargalhada.
— Deus abençoe as duas. — Entreguei as sacolas e elas foram à frente.
— Agradeço muito, Bia. Aqui está o pagamento — Sorri sem graça. — Sei que não é muito, mas quando pegar meu primeiro salário, lhe darei um melhor.
— Não se preocupe senhorita Abla, gosto de cuidar das meninas. — Respondeu-me sincera. Eu sei que ela gosta, se não soubesse, ela nem ia encostar nelas.
— Que bom! — Me despedir dela e fui ver meus furacões em forma de gêmeas. Porque é isso que elas são, meus melhores e mais intensos furacões.

Riddick ( Concluído )Onde histórias criam vida. Descubra agora