03. Palavras que guardamos

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     Havia toda uma história de vida por trás de cada sorriso cheio de zombaria que Draco Malfoy lhe lançava. Achou, sempre, que o garoto o odiava simplesmente porque recusara a sua amizade, no primeiro ano deles, ainda no trem de Hogwarts. Achou que, por todos aqueles anos, o garoto guardara um rancor de sí. Mas estava enganado.

      Por que Malfoy não era tão simples. Claro que não. De alguma forma, ele estava interligado a vida de Harry, não poderia ser algo comum. Tinha que ser algo que durara por anos.

      Pouco antes de Crabbe lançar o fogomaldito na Sala Precisa, Harry avistou um pedaço de pergaminho. De início, não deu muita bola para ele. Afinal, procurava pelo diadema. Fora simplesmente impulsivo ao pegar o papel, minutos depois. Claramente, se surpreendera ao notar o próprio nome escrito no topo. Não resistiu a dobrar o pergaminho, e colocar dentro do seu casaco. Queria saber o que estava escrito alí; afinal, estava envolvido.

      Quando a Batalha finalmente acabou, Harry olhou para o corpo de Voldemort, caído no chão. Lhe parecia improvável que conseguira derrotar ele. Aquele que matara os seus pais e tantas outras pessoas. Ao seu redor, todos suspiraram de alívio, e comemoraram. Harry, porém, estava cansado demais para tudo aquilo; sentia o corpo pesado, tombando. Mau sentia os toques de todos os presentes, que pareciam querer tirar um pouco do garoto que sobreviveu, e aquele, aquele que matara o Lorde das Trevas.

      Quando Luna se ofereceu para distrair a todos, enquanto ele usava a capa da invisibilidade para ir descansar um pouco, Harry ao menos chegou a hesitar, concordando de imediato. Assim que os olhos de todos se desviavam para encarar o que fosse que Luna havia dito, Harry escorregou para debaixo de sua capa.

      Andou a passos lentos até a sala comunal da Grifinória, que estava vazia. Se jogou em uma poltrona, suspirando, sentindo todos os ossos de seu corpo doerem. Por Merlin, ainda parecia improvável que havia conseguido derrotar Voldemort.

      Colocou as mãos no bolso, ficando surpreso ao sentir um pedaço de pergaminho lá ... Mas, então, se lembrou de que encontrara o mesmo na Sala Precisa. Sentiu seus olhos se fechando, mas a curiosidade para ler aquilo acabou vencendo. Abriu o mesmo, notando a letra bonita, espremida e meio caída de lado.

      “Harry Potter.

      Um nome. O garoto que sobreviveu...”

      Harry deixou o pergaminho cair em cima do seu colo, surpreso com as palavras que estavam alí. Merlin, ele se sentia um monstro. Claro, por um período de tempo, desconfiara que o garoto não fosse alguém feliz... Mas ter certeza disso, saber que fora ele o maior causador das dores de Draco Malfoy... Sentia como se estivesse quebrado. Quebrado em milhares de pedaços, pela culpa.

      Nunca pensara nos pequenos detalhes, embora devesse. Nunca pensara sobre como Draco parecia sempre estar por perto, como sempre conseguia chamar a sua atenção de alguma forma. Nunca se perguntou sobre como o garoto se sentiria após ter o pai preso. Sobre como se sentira após a noite em que deveria matar Dumbledore...

     Porque Harry estava. Ele vira cada momento de hesitação. Notara como chegara a abaixar sua varinha, pronto para de entregar, para lutar ao lado da Ordem da Fênix... Apesar de tudo, ele não era uma má pessoa, e o Harry nunca notara. Apenas pensava em como o garoto, por vezes, agia como um idiota.

     Sem muito pensar, Harry se levantou, ainda usando sua capa da invisibilidade.

      Draco Malfoy andou a passos lentos. Estava a alguns metros de distância dos pais, que sussurravam. Draco sabia que estavam preocupados por serem Comensais da Morte; agora que Voldemort caíra, eles cairiam também. Draco sabia que também deveria estar. Tinha uma marca em seu braço. Mas Draco não andava se preocupando muito com isso naquele momento.

Palavras que guardei |Drarry|Onde histórias criam vida. Descubra agora