Corri.
Estava meio longe do ponto de ônibus e via vários deles passando por mim, não iria chegar a tempo. E eu que não iria ficar parada num ponto de ônibus depois da meia noite.
Estava ofegante o suficiente para saber que em alguns instantes eu teria que parar. Porém, a ideia se foi da minha cabeça quando percebi um carro do outro lado da rua numa velocidade bem menor do que o normal. Calma, Heather, eles só estão aproveitando a noite. Falei para minha mente, só para me convencer.
Continuei a minha corrida, mesmo que não tivesse de onde tirar fôlego para isso. Percebi o carro passar para a faixa da esquerda, onde eu estava traçando minha maratona. Eles estavam um pouco mais à minha frente e eu acelerei o passo, sem muito sucesso.
Estava quase desistindo de correr quando ligeiramente, o carro avançou para a calçada em minha frente.
Congelei. Eu estava encurralada.
Sem pensar em mais nada, meu fôlego voltou a todo pano e avancei para o carro. Quebrei o espelho retrovisor ao pular em cima do capô, ao mesmo tempo que vi de relance três homens descerem do carro gargalhando e correndo atrás de mim.
Pulei uma cerca que estava bem à frente de onde o carro tinha parado e em um nanosegundo, olhei em volta. Não tinha para onde correr, definitivamente. Onde o carro parou, era uma esquina cheia de empresas com portões enormes. Tinha certeza de que não correria mais do que os três homens atrás de mim. Precisava encontrar uma saída rápido.
Mas à frente na rua, avistei uma casa minúscula com uma janela aberta e luz acesa. Era lá mesmo.
Corri o máximo que pude até a pequena casa e pulei com toda força e certeza de acertar o alvo. Como num filme, parecia que tinha acontecido em câmera lenta. Voei janela adentro e quebrei um lado do batente, dando uma cambalhota desastrada logo em seguida. Um casal de senhores apareceu assustado na parte da casa que parecia ser a cozinha. Era uma casa muito simples e pequena, com apenas dois cômodos, pelo que tive tempo de conferir.
No mesmo segundo em que eles me notaram na casa, a porta da frente arrebentou num chute e os três entraram. Para minha surpresa, pararam logo em seguida.
— Esses homens estavam me perseguindo, queriam me assaltar! — Disparei, respirando com muita dificuldade.
— Pensou que poderia fugir, gracinha? — Falou um careca de moletom vermelho, mais magro que os outros.
— Alguma hora você vai ter que sair, e nós vamos esperar, nem que seja de manhã cedinho! — Emendou o do meio, com um sarcasmo exagerado na voz.
Assim, eles saíram um por um da casa, nos encarando.
— Está tudo bem, moça? Machucaram você? — Disse a senhora vindo ao meu encontro.
— Estou bem, não me alcançaram a tempo.
Estava atordoada, quase desmaiada para ser mais exata. A mulher me ajudou a sentar perto de uma mesa à minha esquerda, até então não tinha notado que fora ali que bati a cabeça com força na queda, derrubando uma das cadeiras.
— Tome isso — o homem me estendeu um copo de água, parecia com medo de chegar perto, como se fosse me machucar.
— Obrigada — disse já com o copo na boca, sugando toda a água.
Me acalmei e procurei meu celular na mochila, o único objeto que poderia ser roubado, já que nunca carregava dinheiro e não tinha nada de valor ali, além dos meus cadernos e livros da escola. O encontrei e liguei para a minha mãe, sem sucesso. Ela devia estar dirigindo.
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Apenas Um Sonho - Trilogia Surreal Livro I [REPUBLICAÇÃO]
Teen FictionDepois de perder seu pai, Heather Lawson acha que não pode ser feliz, pelo menos não na vida real. Todas as noites, ela tem um sonho diferente, e se lembra deles como se fossem reais, como um universo paralelo secreto. E eles realmente parecem ser v...