Eu acordei tarde no dia seguinte, com um pouco de dor de cabeça e desesperada. Eu estava na minha cama!
Lembrei de tudo que havia acontecido na noite passada: da luz ascendendo na casa dos Prewett, do vulto acenando do lado de fora, da dor em meu peito... Do desespero.
E eu estava na minha cama agora, com Eva roncando deitada em meus pés. Teria sido apenas um sonho? Mas... Era real de mais pra ser apenas um sonho. Eu me lembrava de tudo muito claramente pra ser um sonho. Não podia ser.
Levantei tentando me distanciar destes pensamentos e fui preparar um café da manhã reforçado pra mim, junto com um analgésico pra cabeça.
Ao chegar na cozinha, olhei para a pia e me lembrei daquela noite. Do homem misterioso na cozinha acesa, do prato sujo que ele deixara em cima da pia antes de sumir sem deixar sequer um vestígio de que já esteve alí. Era impossível não delirar com tudo que estava acontecendo. Pensei em várias hipóteses juntando a noite do prato com a anterior, da sombra misteriosa do lado de fora, e tudo só me levava a uma conclusão que eu temia muito: Será que eu estava ficando louca?
Antes de chegar a uma solução sobre os meus pensamentos conturbados, notei uma certa movimentação na rua, bem na frente da casa dos Prewett... Óbvio que depois da noite anterior, eu não poderia deixar de correr de pijama pra lá e ver o que estava acontecendo.
Encontrei uma ambulância parada em frente e Josh, meu vizinho do outro lado, observando de braços cruzados socorristas entrarem e saírem da casa.
– Bom dia Josh... Algum problema?
Perguntei relutante, ele parecia sério e pareceu quase assustado quando o surpreendi com a minha chegada.
– Ohh!... Oi Kath. Bom dia... É a Senhora Prewett.
– Mas o que houve?
Seu semblante ficou mais sério. O casal Prewett era muito respeitado e amado em nosso bairro. "Bons velhinhos" que nunca fizeram mal a ninguém e eram sempre muito amigáveis.
– É estranho dizer dessa forma... É ruim também. Parece que os dois tiveram um mal súbito enquanto dormiam... Nada confirmado ainda. Vim entregar a correspondência deles hoje mais cedo... Eles entregam muitas da rua na minha casa por engano, você sabe. Eles não me atendiam... Resolvi chamar ajuda.
– Mas eles...
Ele olhou para mim com um olhar triste, mas conformado. Nada diferente do que vinha acontecendo na última semana.
– Sim... Eles faleceram.
Meus olhos se encheram de lágrimas e não pude conte-las... Não queria. Eles eram meus vizinhos dês de quando havia me mudado para aquela cidade, e os considerava como meus avós. Eram pessoas adoráveis, prestativas e meigas... Eles haviam morrido antes... A minha ficha caiu.
– Não foi mal súbito, Josh... – Disse em lágrimas enquanto observava os corpos serem retirados cuidadosamente da casa.
– Como assim? – Disse ele com as mãos no meu ombro, em uma tentativa óbvia e falha de me consolar.
Eu estava convicta.
– Alguém os matou... E eu acho que posso descobrir... Eu vi alguém ontem, eu tenho certeza que vi.
Ele olhou para a casa e ascenou para um dos socorristas enquanto eles partiam com a ambulância. Ao olhar pra mim, vi o como ele queria ser gentil... Mas eu não estava dizendo nada que fizesse sentido, e isso era um fato.
– Olha Kath... É melhor você voltar pra casa. Tenta ficar por lá, depois eu dou uma passada ou você pode ir ali em casa pra conversarmos um pouco. Sei que gostava muito deles... Eu também. Entra e tenta se acalmar, você não está bem. Vou esperar a polícia chegar, eles chegariam logo e eu sirvo de testemunha pra recebê-los.
Dispensada como qualquer pessoa que diz incoerências, mas de forma educada, voltei pra dentro de casa. Não fiz mais nada o restante do dia.
Os Prewett haviam falecido.
Mal súbito? Talvez.
Mas que tipo de mal visita a vítima de madrugada e acena para seus vizinhos?
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Enquanto a Neve Caiu
RomanceQuando várias mortes em pouco tempo começam a ocorrer em uma pequena cidade na Europa, talvez muitas coisas possam ser reveladas no frio que a neve trás. Katherine, uma jovem moradora local, pode conhecer a maior de todas que o frio guarda... E a ma...