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Levantei da cama lentamente, mas meu coração estava quase na garganta. Seria um ladrão? Um psicopata? É difícil demais pensar em coisas simples ou positivas nesses momentos. Abri a porta do meu quarto devagar e já pude ver Eva no começo do corredor, de frente para as escadas.
Ela estava tensa, como que em posição de ataque, mas estava parada... Paralisada de tal modo que nem quando consegui me aproximar e tocar nela, ela se mecheu. Continuava com o olhar vidrado para a escada lá em baixo
Ao olhar, pude perceber que a luz da minha cozinha estava acesa, e seja lá quem ou o que fosse, parecia estar vasculhando minha geladeira.
O medo me manteve presa no lugar, assim como Eva. Eu podia então imaginar o que ela estava sentindo: uma sensação opressiva, que me paralisava e deixava incapaz de tomar qualquer caminho, fosse para voltar ao quarto ou seguir para o andar de baixo.
Era como se algo muito anormal estivesse no andar de baixo... Algo ruim... Talvez.
Fiquei longos minutos parada no mesmo lugar ao lado da minha gata, até conseguir reunir forças suficientes para me mecher sem a coragem que eu nunca tive. Desci lentamente degrau por degrau, e por incrível que pareça, Eva saiu do lugar e se pôs a me seguir, sempre sorrateira atrás de mim.
Aos pés da escada pude ver a minha cozinha, e alguém sentado de costas para a entrada, junto a minha mesa. Parecia estar comendo algo... Era um homem.
Ele olhou por sobre o ombro... Ele me viu...
– Tomei a liberdade de preparar um sanduíche para mim. Quer um também?
Eu só pude ouvir o final da frase quando já estava no topo da escada. Corri desesperada para o meu quarto e me tranquei logo. Eva ficou do lado de fora miando, o que me deixou mais aflita... Eu estava apavorada.
Quem era aquele homem? O que fazia na minha casa?
Ele tinha me visto... Tinha me visto!
A única coisa que pude fazer foi chamar a polícia e esperar trancada em meu quarto até que chegassem.

Algumas horas depois eu estava na porta da minha casa com um oficial da polícia. Eles haviam chegado relativamente rápido, e tiveram que praticamente negociar pra me convencer a sair do meu quarto.
Vasculharam toda a minha casa e o meu terreno, mas não tinha ninguém. Quando chegaram, a porta estava aberta, mas a cozinha estava apagada, sem nada de incomum e sem ninguém.
Pedi que eles ficassem por mais uma hora e estava com medo de ficar sozinha por mais tempo, mas eles conseguiram me convencer.
– Tenho certeza que tinha alguém na minha cozinha. Não pense que sou louca por favor...
Aquele com quem eu conversava na porta me olhou com um olhar cansado, um misto de incredulidade e pena.
– Senhorita, não se preocupe. Vasculhamos a casa toda e tudo ao redor, e meu colega perguntou aos seus vizinhos – ele suspirou e completou– Tente dormir, ok? Se por acaso precisar de ajuda, estaremos próximos ao bairro o resto da noite. É só ligar e a central vai nos enviar.
– Tudo bem... Muito obrigada.
Disse um pouco envergonhada e ele se despediu com um aceno de cabeça. Então a viatura partiu e eu entrei novamente. Verifiquei a porta da frente e dos fundos 5 vezes ou mais durante o tempo longo em que não consegui dormir.
Amanheci no sofá da minha sala, com um programa cristão matinal passando na minha tv ligada. O sono foi mais forte que a tensão no final, mas eu dificilmente iria acreditar que não havia ninguém na cozinha na noite passada... Havia um prato sujo sobre a pia.

Enquanto a Neve CaiuOnde histórias criam vida. Descubra agora