Of flames and scars

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Maven

Eu chorava, pois era inverno e eu sabia que ele sentia frio, em algum canto esquecido desse castelo. È uma ironia que Whitefire seja tão frio, Principalmente sendo habitado por controladores de fogo.
Eu não conseguia dormir, e sabia que ele também não, por causa do frio. Choro ao o imaginar tremendo, rangendo os dentes, com lágrimas em seus olhos. Ao contrário das lágrimas dele, que provavelmente escorrem pelo seu rosto, as minhas evaporam ao sair do meus olhos. Gostaria de tê-lo em meus braços, fazê-lo parar de chorar, afastar o frio dele envolvê-lo em meu calor.
A manhã chegou, e com ela, levantei, embora não tivesse dormido. Todos sentiam o ar frio que envolvia Whitefire, principalmente os criados vermelhos, que possuíam roupas que apenas os encobriam, sem aquecer. Enquanto ia a caminho da biblioteca, vi alguns vermelhos, mas nenhum era familiar. Nenhum era ele.
Na biblioteca, ninguém me incomodava, nem mesmo minha mãe ou meu irmão perfeito. Eu me guiava até um dos cantos mais remotos, cercado de livros, e lá ficava, sozinho. A essa hora, a minha família e os outros nobres que habitavam Palácio devem estar no café da manhã, e depois disso, meu irmão os outros filhos de nobres vão treinar, atividade que felizmente, por não ser o primogênito, não preciso praticar. Na biblioteca, eu sempre tinha paz, ou melhor, com exceções, como quando eu lia um livro onde o protagonista estava prestes a fazer algo realmente muito estúpido e eu sentia tanta raiva que tinha que me controlar para não queimar o livro em minhas mãos, como estava agora.
— Cuidado com o livro, esquentadinho, é papel.
Se fosse qualquer outra pessoa a dizer isso, eu provavelmente teria me enfurecido e reduzido a pessoa a uma pilha de cinzas, mas como era ele, o efeito foi contrário, calmante, e eu não pude conter o sorriso que veio em meu rosto.
— Thomas — Eu fechei o livro em minhas mãos e o abracei — Você dormiu bem? —Eu sabia que não, pelas olheiras em seus olhos e o aspecto cansado que possuía.
— Não importa...— ele disse, em uma voz baixa. Mas para mim importava, e eu me senti ferver. — Eu trouxe para você.
Em suas mãos, havia uma tigela com morangos.
— Para mim?
Ele sorriu e seu rosto ficou de um adorável tom de vermelho.
— Sei como você detesta ir ao café da manhã, mas você ainda precisa comer algo, Mavy. — Senti minhas bochechas ficarem prateadas quando ele me chamou pelo apelido que só ele usava. — Além disso, alegar que o príncipe demanda uma tigela de morangos é uma ótima desculpa para te ver.
Eu o agradeci e peguei a tigela de suas mãos, voltando a me sentar no chão da biblioteca e gesticulando para que ele fizesse o mesmo.
De frente a ele, com a tigela entre nós, pus suas mãos geladas entre as minhas e comecei a aquecê-las, com cuidado para não queimá-lo.
— Me diga se estiver quente demais — pedi.
Ele fez que sim com a cabeça e alguns momentos depois, me chamou.
— Mavy, assim está bom, obrigado.
— Não precisa me agradecer — eu disse, pegando um morango e então empurrando um pouco a tigela para ele — Coma comigo.
— Mavy — Ele começou, hesitante —eu não posso, vão sentir minha falta, tenho que voltar logo.
— Por favor — pedi — fique comigo. Se perguntarem eu digo que mandei você ficar. Ninguém vai questionar as ordens do príncipe.
As vezes, eu acho que ele se esquece de quem eu sou, e quando estou com ele, eu também. È como se eu não fosse Maven Calore, o príncipe, eu era simplesmente Mavy, sem o peso do mundo em minhas costas, com ele ao meu lado.
Um pouco de preocupação pareceu esvair-se de seus olhos.
— Certo.
Ele ainda sim olhou para os lados, como se houvesse alguém nessa biblioteca além de nós, e nisso, eu vi, de relance, uma cicatriz em seu rosto que havia sido encoberta por seus cabelos.
— O que é isso?— Quis saber.
Medo passou por seus olhos.
— " isso " o que? — ele perguntou embora soubesse do que eu estava falando.
— Deixa eu ver.
— Mavy, não é nada...
Para ele estar me dizendo isso, era algo sério com o qual ele não queria que eu me importasse, o que era impossível, já que tudo relacionado a ele era de máxima importância para mim. Me senti ferver.
— Não minta para mim.
Agora, mesmo com seu cabelo a encobrindo, eu via parcialmente a longa e feia cicatriz.
Não sei dizer, exatamente, o que houve então. Eu estava irado, cego, ele levou a mão instintivamente para a cicatriz e o que eu me lembro era da perda de controle, da minha mão avançando, da implosão de raiva e o grito dele. Afastei minha mão de sua pele ao o ouvir gritar, mas era tarde demais.
— Thomas...— minha voz quebrou.
Aproximei minha mão dele, mas ele emitiu um som de medo ou dor, ou os dois, e se encolheu, fugindo de meu toque.
Em seu braço, havia uma queimadura, onde minha mão o segurou, e em seus olhos, lágrimas de dor e medo se acumulavam. Eu via que ele tinha medo do monstro que eu era, e para falar a verdade, eu também tinha.

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