Capítulo 6

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Lúcifer podia sentir suas asas negras se desfazendo enquanto ele descia graciosamente perante um túmulo negro no Cemitério do Bonfim. Ele se sentia aleijado, quase nu, sem suas belas asas negras, mas tal era o preço da liberdade. Ao pousar deu de cara com um anjo negro, de olhos misericordiosos, adornando um túmulo de pedra. A escuridão da noite deixava ambos os anjos ainda mais belos.

"Tá olhando o que? Pelo menos eu não tenho que ficar cheirando cadáver pela eternidade!"

Lúcifer riu do anjo de pedra, deu dois tapinhas carinhosos na cabeça do mesmo e procurou uma superfície espelhada para se olhar, quando se lembrou que nem todos os seus poderes foram embora. Estalou seus dedos e conjurou um espelho.

Aparentava estar na casa dos quarenta anos, com uma barba por fazer, uma mandíbula quadrada, traços perfeitos na composição de seu rosto e olhos azuis; tinha cabelos negros, curtos, penteados para trás, levemente despenteados. Usava um terno preto, com uma camisa também preta, calças...também pretas? Por todos os príncipes do Inferno, até a gravata e os sapatos eram pretos!

"Pai, o senhor não aprendeu NADA sobre sutileza desde a criação? Me vestir todo de preto é tão sutil quanto aquele 'problema ecológico' no Egito com Moisés."

Ele reclamava só pelo prazer de reclamar, já que ele havia gostado muito de como tinha vindo. Era charmoso, sexy, sombrio, alto e imponente. Deus não era sutil, mas continuava sendo um grande arquiteto.

Seguindo de um outro estalar de dedos o espelho sumira. Lúcifer fechou os olhos e sentiu o mundo ao seu redor. Demônios menores, insignificantes, estavam agitados e eufóricos com a chegada de seu rei, se movendo de cima para baixo à procura de vítimas. Sentiu também feiticeiros e feiticeiras de alto escalão, membros do Senado, fazendo...alguma coisa; isso o deixou curioso, mas era algo para depois.

O prato principal, é claro, eram seus irmãos. Sentiu-os todos, com a exceção de Sandalphon; Miguel, Gabriel, Rafael, Uriel, Anael e até mesmo Metatron. Então até mesmo o Chanceler tinha vindo, o mais CHATO e intransigente dos anjos...que ótimo, ele conseguia SENTIR a diversão chegando.

Lúcifer sentiu um dos irmãos chegando, Anael, para ser preciso. Estranho, mas pelo menos diplomático. Decidiu aguardar sentado no túmulo do anjo que cheirava gente morta, quando ouviu a conversa de alguns adolescentes e sentiu o cheiro de vinho barato e velas sendo queimadas. Aquilo ia ser divertido.

Caminhou na direção do grupo, que era tão clichê que o Diabo fez até uma careta. Cinco jovens, provavelmente chegando perto dos dezoito anos, vestidos de preto, com camisa de banda de rock, correntes, espetos de metal nos cintos e nas pulseiras. Bebiam vinho doce e barato enquanto riam de algo que não era minimamente engraçado usando túmulos como sofás. Aquela cena parecia ter saído de um estereótipo que a maioria das pessoas pensava quando imaginavam góticos. Lúcifer não conseguiu deixar de sentir pena dos góticos de verdade. Estava dando meia volta quando ouviu algo que ele não podia ignorar.

"Então, a gente vai invocar o Diabo ou não?"

"Oh, isso vai ser divertido.", pensou Lúcifer enquanto um sorriso diabólico nascia em seu rosto.

"Claro que vamos! Cê acha que peguei dois busão pra ficar olhando prra tua cara e tomar vinho barato?"

"Ô seus viado, cala a boca que eu tô lendo e arrumando os troço aqui porra!"

"Ih, alá, tá todo sério o bruxão."

"Cês deviam ficar sérios também, isso aqui é pesado pra caralho. Nós vamos chamar o Príncipe das Trevas!"

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⏰ Last updated: May 28, 2018 ⏰

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Asas do RecomeçoWhere stories live. Discover now