Wanted × SaiDa

3. Café Amargo

✿; Dahyun

O dia amanhecia chuvoso e gélido, um ótimo clima para ficar em casa e deixar o mundo se acabando lá fora. Mas não, eu tinha uma identidade falsa, com um trabalho de verdade.

Pensei em procurar uma cafeteria para conseguir um mínimo de ânimo, mesmo andando a pé, com os sapatos transformados em uma banheira e o casaco me sufocando e cobrindo quase até meu nariz.

Quando já estava na rua, a chuva engrossava ao ponto de se tornar uma cortina branca quase cobrindo a visão dos carros e pedestres, eu não me importava realmente, olhava apenas para o chão e tinha os pensamentos mergulhados no meu disfarce, nas suspeitas, na vítima e em todo o caso. Tão concentrada que não reparei no carro preto que reduzia a velocidade na rua para encostar e andar lentamente seguindo os meus passos.

A janela do veículo se abaixou revelando uma garota asiática de cabelos negros, tentando se comunicar comigo através da cortina de tempestade:

– Aceita uma carona? – Nayeon quase gritava para que eu escutasse.

Eu não costumava aceitar convites de pessoas estranhas, ou quase. Mas depois de estar inteiramente encharcada e tremendo com o vento frio, uma carona não faria mal. Entrei no banco traseiro, ao lado de Mina, que sorriu em cumprimento.

– O que fez você sair a pé nesse temporal? – Perguntou Jeongyeon me olhando pelo retrovisor, ao volante.

– Não tenho carro, e precisava de combustível...

– Café é seu combustível? – Nayeon estava no banco do passageiro – Porque se for, estamos atrás disso também.

– E tem uma cafeteria tradicional divina aqui na cidade! – Completou Mina.

Achava impressionante como um estabelecimento que não é considerado necessário como uma cafeteria se manteve aberto quando ninguém mais se interessava pela cidade. Mas apenas agradeci pela carona.

Será que era alguém que não temia nada relacionado ao desaparecimento da garota Chou?

Entramos na cafeteria e nos deparamos com uma fila de tamanho razoável, e para o estado do clima, era uma surpresa.

Fizemos logo o nosso pedido no caixa e nos posicionamos na fila para recebê - lo. Uma conversa comum sobre como o tempo havia virado entre as 23:00 e 00:00 se instalou entre o grupo, mas eu ainda estava desinteressada o suficiente para reparar em uma garota de cabelos curtos e castanhos/ruivos que entrava pela porta fazendo o sino tocar, eu conhecia aquele rosto, uma de minhas suspeitas: Hirai Momo.

Ela possuía uma aura de superioridade que fazia uma mescla prefeita com seu olhar confiante e sua pose descolada.

Olhei de volta para as garotas do grupo capturando o momento perfeito em que suas expressões de nojo se formavam, e ousei:

– O que foi?

– Ela. – Jeongyeon fez um leve gesto de cabeça para a garota no caixa.

– Quem é? – Insisti.

– Hirai Momo... – Nayeon tinha o rosto inexpressivo e congelado em direção a japonesa – Uma inútil que insiste em se manter na cidade.