Um poema para Nicolas

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a v i s o s: disforia, transfobia


⸰ Um poema para Nicolas ⸰

o limite é o tronco de uma árvore

havia um garoto e

duas flores e

um gato e

notas musicais.

havia também o sol e

dias longos e

vozes e

mãos em seu corpo.

mãos que ele não queria ali.

vozes que não eram agradáveis.

mas estavam

ali.

uma das flores era um cacto

a outra ele nunca

soube o nome

mas a chamava de fleur porque

era divertido.

o sol e as vozes e as mãos nunca

estavam junto com as flores e o gato e as músicas

o garoto só se permitia existir quando a lua estava ali

porque era quando o resto todo não estava. o resto ruim.

que era

quase tudo.

o gato tinha um nome

o garoto não.

não importava.

porque ninguém usaria

aquele nome.

o gato se chamava

gato e

ele gostava de subir

em uma árvore

aquela árvore.

o garoto gostava

daquela árvore

porque ela era

alta.

ela ficava na frente da janela

aquela árvore.

o garoto olhava para ela as vezes

pensando

porque as vozes eram muitas e

elas arranhavam sua pele e

era difícil.

as marcas que ficavam

vermelhas

e roxas e verdes

ele escondia

porque essas eram as marcas

que as pessoas conseguiam ver e

essas eram as mais fáceis de lidar.

o gato era o único que

o garoto conseguia abraçar e

fleur era a única que

não gostava das lágrimas dele

porque um cacto não precisa de tanta

água.

em alguma noite

As oito almas perdidas e como se encontraram (ou se perderam mais ainda)Onde histórias criam vida. Descubra agora