Durante o verão na cidade que nunca dormia, famílias abastadas despediam-se de Nova York e partiam em direção ao litoral. Essas famílias se acomodavam em casas de veraneio de
três andares em Hamptons, onde durante os meses de junho a agosto as dondocas exibiam suas novas cirurgias plásticas e seus maridos passavam horas apostando em corridas de cavalos. Os tópicos mais discutidos durante o verão eram: Quem entraria para uma universidade da Liga Ivy? Quem havia se divorciado de quem? Quem tinha sido preso por sonegação? E, claro, quem havia feito preenchimento labial? O verão de 2016 foi o primeiro ano de Jimin em Hamptons, ele estava lá trabalhando como garçom.
– Todos acham que essa gente rica lá fora só fala de coisas fúteis, mas eu discordo, eu realmente aprendo coisas de suma importância enquanto fico andando por aí com uma bandeja e escuto a conversa dessa gente. – Se Jimin não conhecesse Yora bem, ele diria que Yora estava realmente falando sério. – Você quer saber o que eu aprendi?
– Eu mal posso esperar para descobrir. – Jimin deixou a bandeja de lado e apoiou o cotovelo sobre a bancada da cozinha.
– Preenchimento labial não é mais o “lance” do verão.
– O quê? Não! Justamente quando eu estava pensando em marcar uma consulta com o meu cirurgião.
– O lance do verão agora é... espere só: aumento de bumbum!
– Uau! Todos os nossos problemas finalmente serão resolvidos!
– Eu sei!
– Yora. – Sra. Kim, organizadora da famosa Festa Branca, repreendeu suas
empregados com um olhar. – Jimin. Vocês são pagos para servir, não para debochar dos outros. Os Hunterberg precisam de mais champanhe, cuide disso. – A sra disse, olhando
diretamente para Jimin. Por um momento ele cogitou perguntar quem eram os Hunterberg, mas, pelo olhar da mulher que lhe contratara, Jimin achou melhor ficar calado. – Sirva o
bolinho de camarão, Yora.
– Sim, senhora comandante.
Kim revirou os olhos e saiu pisando firme da cozinha, em cima de sapatos de 18 cm.
– Esse povo sabe que bolinho de camarão nada mais é do que a genitália de frutos do mar? – Jimin perguntou antes de sair da cozinha, carregando uma bandeja com taças de champanhe.
– Essa foi outra coisa que eu aprendi observando eles, esse povo adora uma genitália. Jimin perambulou com a bandeja por onde estava acontecendo a festa, ao redor da piscina. Em diversos momentos ele se deparou com garotos da idade dele, cujos maiores problemas deveriam ser: Quando ira pegar a menina mais gata? E será que o papai de alguns deles irá se importar se seus principisinhos derem um pulinho em Paris com o jatinho da empresa?
As pessoas raramente olhavam para Jimin, elas estavam muito ocupadas conversando entre si para notar mais um garçom. Elas apenas se viravam e se serviam de mais um pouco de champanhe sem sequer agradecer.
– Com licença? – Logo que escutou essas palavras, Jimin pensou: não é comigo. Mas aí ele se lembrou de que estava servindo o champanhe que era, em outras palavras, a gasolina daquelas pessoas. Jimin se virou e encarou um homem de cabelo preto bem alinhado, estilo filhinho de papai. Ele estava usando um terno branco com camisa rosa por dentro, ele definitivamente pertencia àquele lugar.
– Pois não? – Sirva-se logo, por favor. Jimin pensou.
– O meu amigo ali quer saber se tem chance alguma com você.
Jimin olhou por cima do ombro do garoto e encarou outro homem, esse tinha o cabelo também escuro e toda sua atenção estava voltada para ele. Jimin fez cara de nojo.
– Eu preciso continuar servindo. – Essa foi a coisa mais educada que Jimin conseguiu dizer. Ele se virou e começou a se afastar, mas não foi muito longe quando sentiu uma mão sobre seu ombro, obrigando-o a se virar e encarar o o garoto mais uma vez.
– Qual é? Qualquer que seja o seu preço, eu sei que o meu amigo pode arcar com as despesas. Com uma mão Jimin segurava a bandeja e com a outra por pouco ele não acertou em cheio o rosto do garoto. Antes que Jimin pudesse deixar sua marca no rosto daquele homem, Yora o interrompeu, segurando-o pelo pulso. Yora estava passando por ali quando escutou o que o garoto mimadinho disse e, conhecendo Jimin tão bem, ela sabia o que o amigo faria em seguida. Yora, mais do que qualquer outra pessoa, sabia o quanto aqueles garotos mereciam levar umas bofetadas, mas ela também sabia que, se Jimin fizesse isso, as consequências seriam piores para ele depois.– A sua mãe está chamando, Junior. – Yora espantou o garoto. O fato de Jimin ter levantando a mão para bater em alguém chamou a atenção de algumas pessoas.
– Vá para a cozinha e se acalme. – Yora soou cautelosa. Jimin não fez perguntas, ele agarrou a bandeja e apressou o passo de volta à cozinha.
Merda! Jimin esbravejou mentalmente enquanto caminhava em silêncio. Fila do desemprego, aí vou eu. Jimin deixou a bandeja em cima da bancada e foi até o banheiro no térreo. Ele girou a maçaneta para descobrir que a porta estava fechada, em seguida alguém lá dentro gritou “Ocupado!”. Ele revirou os olhos e depois fez algo que a Sra. Kim havia proibido estritamente: ele subiu a escada, indo para o segundo andar.
O quarto, Jimin observou, não parecia pertencer a alguém. Não havia fotos, nem pôsteres nas paredes, apenas o quadro de um gato. Havia uma cama de ferro e uma cômoda e nada mais. O banheiro, para a sorte de Jimin, estava desocupado.
Depois de esvaziar a bexiga, ele estava de volta ao quarto. Da janela do segundo andar, ele tinha uma vista total da praia que se estendia por quilômetros e quilômetros. Uma lancha chamou a atenção de Jimin, bem, não a lancha em si, mas o homem que parecia estar discutindo com alguém imaginário em cima dele. Ele tinha na mão uma garrafa de champanhe, Jimin observou-o beber direto do gargalo.
Pela forma como o homem gesticulava com os braços, ele concluiu que ele só podia estar bêbado. Quando Jimin cogitou voltar para cozinha e enfrentar a ira da Sra. Kim, algo inesperado aconteceu: o homem escorregou, bateu a cabeça e em seguida caiu dentro d’água.
– Ai, droga! – Jimin saiu correndo do quarto e continuou correndo escada abaixo. Sra. Kim, que estava procurando por ele, apenas viu quando Jimin passou correndo pela cozinha. Do lado de fora, Yora, que ainda servia as pessoas, notou a correria de Jimin e imediatamente ela se perguntou onde era o incêndio. Jimin passou correndo por entre um grupo de pessoas, pegando a todos de surpresa. Logo ele estava na praia e, depois de localizar a lancha, ele continuou correndo em direção ao píer.
A praia estava deserta, todos estavam na festa, e, pra piorar, o homem parecia estar sozinho na lancha. Parada no píer, Jimin precisava ter certeza do local exato onde o homem caíra na água. Em um segundo ele estava de pé; no segundo seguinte, ele estava pulando dentro d’água para salvar o homem.
Dentro d’água, Jimin percebeu que o homem continuava afundando feito uma pedra. Ele se forçou a ir mais fundo e por um momento achou que não fosse conseguir. Afastando para longe esse pensamento, Jimin conseguiu agarrar o colarinho do homem. Depois de se
agarrar ao corpo dele, que continuava desacordado, Jimin começou a nadar para cima. Foi aí que as coisas ficaram mais difíceis: o homem era mais pesado que ele e, pra piorar, ele estava nadando com apenas um braço. Na pior das hipóteses, além de deixar o homem morrer afogado, ele também acabaria se afogando. Jimin exigiu-se fisicamente como nunca havia feito antes e, felizmente, ele conseguiu emergir das águas. Ele concentrou-se em respirar e manter a cabeça do homem fora d’água,
depois ele só precisou nadar de volta para a praia. Naquele momento, algumas pessoas que
estavam na festa viram o que Jimin estava fazendo, em pouco tempo a praia estaria cheia de curiosos. Um pouco tarde, Jimiin pensou. Já na praia, o trabalho de Jimin estava longe de acabar, pois o homem ainda estava inconsciente. Colocando-se ao lado do corpo dele, Jimin pressionou a mão no centro do tórax do homem. Até que aquelas aulas de primeiros socorros não foram uma total perda de tempo, Jimin pensou, enquanto fazia compressões. Isso pareceu não adiantar, foi aí que ele partiu pra
boa e velha respiração boca a boca. Alguém gritou “Jeon!”, mas isso não foi suficiente para afastar a concentração de Jimin e ele continuou tentando reanimar o homem que aparentemente se chamava Jeon. Ele estava quase jogando a toalha, desistindo, quando Jeon finalmente resolveu cooperar, ele abriu a boca e começou a regurgitar a água salgada. A mesma voz de antes se fez ser ouvida de novo: a dona da voz empurrou Jimin para trás, tirando-o de perto de Jeon, e se jogou sobre o corpo dele. Jimin ouvia-a dizendo: “Meu amor! Você está bem, querido?” Jimin olhou para o lado e percebeu que seu pequeno ato de salvamento havia atraído um número considerável de telespectadores. Na manhã seguinte, ninguém estaria comentando sobre o quão fabuloso havia sido a festa organizada pela Kim, o assunto da temporada seria o garçom que salvara a vida de Jeon Jungkook, presidente e CEO da American Export.{1553 palavras}
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Midnight Blue
FanfictionQuando Park Jimin salvou a vida de Jeon Jungkook, ele mal podia imaginar que sua própria vida estava prestes a mudar. Belo e acostumado a ter tudo que deseja, Jeon vem de um mundo de opulências, enquanto Jimin teve de aprender desde cedo a lutar com...