II

313 23 10
                                    

NÃO ESQUEÇAM DE COMENTAR E DAR ESTRELINHA!
BOA LEITURA ❤️

Jimin morava em uma casa do lado oeste do Bronx com dois irmãos mais novos. A casa, cujo encanamento congelava durante o inverno e as madeiras eram habitadas por cupins,
foi a herança que seus pais deixaram para ele e os irmãos. Nos últimos cinco anos, Jimin tivera mais empregos do que qualquer outra pessoa de vinte e cinco anos. Ele se virava como podia, mas ainda assim era difícil pagar as contas, manter a casa em dia e colocar comida na mesa. O irmão Hyun, de 16 anos, tinha um trabalho de meio expediente como empacotador de compras em um supermercado, e nas férias ele se encarregava de entregar o jornal pela vizinhança. O caçula da família era Jihyo, de 10 anos, e ele acabara de passar para o quinto ano. Uma semana depois do que havia acontecido durante a Festa Branca, Hyun e Jihyo desceram até a cozinha para o café da manhã. A escada, que estava no mesmo local desde os
anos 90, rangia sempre que alguém pisava em seus degraus.
- Cara, eu preciso de shampoo! - Hyun declarou assim que se sentou à mesa.
Jihyo, que parecia estar meio dormindo e meio acordado, ignorou o irmão.
Jimin, que estava ao pé do fogão fritando ovos com bacon, parou o que estava fazendo, olhou para trás e falou exatamente as palavras que Hyun sabia que ele diria em uma situação
como essa:
- Você tem que aprender a fazer essas coisas renderem mais.
- Coloque água no restinho do shampoo e veja que maravilha! - Hyun já sabia essa fala de cor. - Você não percebe que eu já fiz isso duas vezes? Eu basicamente só estou usando água! Jimin se aproximou e beijou o topo da cabeça de Jihyo, acordando o garoto, depois ele serviu o café da manhã.
- Tudo bem. Eu preciso mesmo comprar algumas coisas aqui pra casa, eu trago o seu shampoo.
- E meias! - Jihyo declarou, com a boca cheia de ovo.
- O que aconteceu com as suas meias?
- Rasgaram.
- Eu as costurei.
- Rasgaram de novo!
Jimin respirou fundo.
- Tudo bem. Comam.
A porta da cozinha se abriu e Yora entrou na casa.
- Bom dia, amores! Adivinhem só quem achou dois dólares na calçada? - Yora começou a exibir a nota, parecia que aquilo era a melhor coisa que havia lhe acontecido em semanas. - Isso mesmo, a mamãe aqui! Não se preocupem, eu mando um cartão-postal da Itália.
- Que bom - com um tapa, Jimin tirou a nota de dois dólares da mão de Yora. - Você agora só precisa encontrar mais cinco notas iguais a essa pra pagar o que me deve. - E com um sorriso no rosto, Jimin enfiou o dinheiro no bolso de trás da calça.
- Estraga-prazeres.
- Eu fiz café. - Jimin levou a frigideira até a pia.
- Eu te amo, eu já disse isso? - Yora puxou uma banqueta e apoiou os cotovelos no balcão enquanto Jimin lhe servia uma xícara de café.
- Eu já ia me esquecendo! - Yora enfiou a mão dentro da bolsa e tirou lá de dentro um jornal. - Olha só quem saiu no jornal. Jimin virou o rosto e quando se deu conta estava encarando a si mesmo na página.
Havia uma foto dele no jornal, tentando ressuscitar Jeon Jungkook.
- Uau! - Hyun estava em pé ao lado de Yora.
- O que foi? - Jihyo perguntou.
- Jimin está no jornal!
- Cacete!
- Olha a boca! - Jimin encarou a amiga. - O que está escrito aí?
- Além de ser um dos homens mais ricos com menos de quarenta anos, o presidente e
CEO da American Export, Jeon Jungkook, pode se considerar o homem mais sortudo do mundo. No último final de semana, durante uma festa em Hamptons, Jeon resolveu tomar todas e dar uma volta na sua lancha. Como já era de se esperar, algo terrível aconteceu: Jeon escorregou, bateu a cabeça e caiu desmaiado dentro d'água. Esse relato teria um final trágico se não fosse a bravura de um jovem que estava trabalhando como garçom na festa.
O garoto, cujo nome não foi revelado, mergulhou na água para salvar a vida do Sr. Jeon e, graças à sua destreza, Jeon saiu dessa apenas com um machucado na cabeça e um pouco de água nos pulmões.
- Jimin, você é tipo um super-heroí! - Jihyo declarou.
- Isso significa que você vai ficar famoso?
- Pode apostar que sim. Enquanto os paparazzi não chegam, eu vou fazer o que sei fazer de melhor: servir mesas no Hubbell's Burger. Cuide do Jihyo, Hyun. Ah, e você sabe as regras: nada de sair de casa e deixar o seu irmão, não abra a porta para estranhos, nem testemunhas de Jeová e principalmente...
- Cobradores, eu já entendi.
- Leve Jihyo para brincar no parquinho aqui perto, mas voltem antes das dez. Se vocês sentirem fome, sirvam-se das sobras que eu deixei na geladeira. - Jimin guardou o BlackBerry, que ele havia comprado de segunda mão de um cara da rua, dentro da bolsa.
- Sobras, eba!
Jimin e Yora caminharam juntos até o ponto de ônibus.
- Onde você vai trabalhar hoje? - Jimin perguntou.
- Uma das camareiras do hotel Indigo não foi trabalhar hoje e o gerente me ligou... Por que você está fazendo essa cara?
- Você sabe que esse cara gosta de você, certo?
- Qual o problema? Eu sou uma pessoa gostável. - Um carro da polícia se aproximou.
- E por falar nisso, olha o seu namorado vindo aí.
- Cala a boca!
Jimin observou o carro estacionar no meio-fio e depois o motorista abaixou o vidro.
- Yora - cumprimentou o policial.
- Qual é a boa, Sehun?
- Jimin, oi.
- Oi. - Mais do que nunca, Jimin desejou que o motorista do ônibus chegasse na hora certa, só pra variar.
- Então, eu andei pensando - Essa não, Jimin pensou. - Você ainda me deve uma por aquela vez que eu te livrei de ser multado. Sexta-feira é meu dia de folga, que tal se eu te levasse para...
- Ele não pode! - Yora interrompeu Sehun. - Na sexta nós vamos trabalhar como... - Yora jogou a bola para Jimin.
- Organizadoras de festa infantil!
É sério? Yora perguntou mentalmente. Foi a única coisa que eu consegui bolar!
Jimin respondeu. Sehun fez cara de ponto de interrogação. Para a sorte deles, antes que Sehun pudesse dizer mais alguma coisa, o ônibus estacionou no meio-fio e as portas se abriram. Jimin e Yora se apressaram atrás dos outros passageiros.
- Até mais, Sehun! - Disse Yora.
Depois de pagarem ao cobrador, Jimin e Yora se acomodaram nos bancos.
- Esse cara lambe o chão que você pisa. - Yora observou.
- Isso não é legal.
- Sabe o que eu acabei de perceber? - Yora soou séria. - Um cara disponível demais é tão ruim quanto um cara indisponível. Eu deveria escrever um livro sobre isso.
- Apoiado.
O problema, embora Jimin nunca admitisse, não era que Sehun fosse disponível demais. Ele era legal, bonito e tinha um emprego estável. O problema era que Jimin já tinha um relacionamento... com a hipoteca da casa, com as contas de energia, água e luz e com dois empregos e alguns bicos. Ele não se via passeando de mãos dadas com um cara pelo parque e nem fazendo planos para o final de semana que não envolvessem trabalho.
O Hubbell's Burger não era uma lanchonete famosa e nem se destacava das outras por conta de algum prato especial. Henry, o dono da lanchonete, jurava pela alma de sua falecida mãe que Al Pacino almoçou lá uma vez, nos anos noventa, algo tão duvidável quanto provável.
- O que vai ser hoje, Bob? - Jimin bateu com a borracha do lápis em seu bloquinho de papel. Bob era um homem de meia-idade que frequentava a lanchonete três vezes por semana nos últimos três anos.
- Hambúrguer com picles extra, uma fatia de torta de amora e uma coca... light. Eu estou tentando perder peso.
- Quem é a garota sortuda que você está tentando impressionar? Bob sorriu. Enquanto Jimin estava partindo a torta, a voz da jornalista do noticiário chamou a sua atenção. Jeon Jungkook, que está sendo investigado por uso indevido de informações privilegiadas, se recusou a falar com a impressa nessa manhã. - No vídeo que exibiram, Jeon saía de um prédio e caminhava de cabeça baixa usando óculos escuros até seu carro.
Os flashes das câmeras iluminaram seu rosto e alguns repórteres o bombardearam com perguntas - Jeon publicou uma nota oficial onde afirma ser uma vítima das circunstâncias e
um cidadão cumpridor da lei.
- Conversa fiada! - Bob resmungou. Jimin o encarou e ele se sentiu na obrigação de se explicar. - Esse cara é só mais um ricaço que conseguiu fazer dinheiro em cima dos outros. Eu bem que gostaria de dizer que ele vai ter o que merece, mas eu e você sabemos que pessoas como ele sempre acabam se livrando com facilidade. Bob não estava totalmente errado, Jimin teve que admitir. Sobre quem Jeon era ou deixava de ser, ele não tinha muito que dizer. O mais estranho era que, antes de salvar a vida dele, Jimin nunca tinha ouvido falar de Jeon Jungkook. Mas agora, parecia que ele estava em todo lugar. Na sequência, a jornalista começou a falar sobre o que acontecera em Hamptons no último final de semana. Antes que uma foto dele fosse exibida no noticiário para todos os
clientes verem, Jimin pegou o controle da televisão e desligou-a. No final do expediente, ele havia apurado 66 dólares em gorjetas e um pedido de
casamento.
- Casa comigo? - Disse o Sr. Kim, um simpático idoso que ia todos os dias à
lanchonete na companhia de sua cuidadora.
- Eu aceito. - Jimin serviu café para a acompanhante do Sr. Kim.
- Eu tenho o cupom de desconto da Wal-Mart.
- E por que o senhor não disse antes? Eu vou pegar o meu vestido e te encontro na igreja. Jimin escutou, na oficina do Guillermo, um dos mecânicos xingar um carro e em seguida o dono dele.
- Ei, Guillermo. - Jimin se aproximou do balcão.
- Olá.
- Me diz que você conseguiu resolver o meu problema?
- O seu problema eu não sei, mas o problema do seu carro eu consegui dar um jeito.
Jimin sorriu.
- Você é o melhor.
- Gracias. - Guillermo entregou as chaves do Ford Mustang 1980 que posteriormente pertencera ao pai de Jimin.
- Então, nós temos um acordo? - Jimin ergueu uma sobrancelha.- Café da manhã de graça por um ano?
- Pode apostar que sim.
- É bom fazer negócio com você.
Jimin saiu da oficina dirigindo um Ford Mustang azul 1980. No caminho para casa, Jimin parou em um supermercado e comprou algumas coisas que estavam faltando em casa: leite, ovos, cereal, shampoo para Hyun e um par de meias para Jihyo. Ele precisava de um reparador de pontas, não dava pra continuar ignorando o problema, mas, se ele decidisse comprar isso, algum item teria que ficar para trás. Quer saber? Nem está tão ruim assim. No caixa, ele tentou usar um cupom de desconto de 5%. A mulher olhou para ele como quem dizia "Ótimo, mais um pobre!", mas Jimin não se importou, ele já havia se acostumado com o olhar que as pessoas lançavam em sua direção quando ele parava pra contar as moedas ou tentava usar um vale-desconto.
No final da tarde, Jimin estacionou o carro na rua em frente à casa e saiu para a calçada. Jihyo estava sentado no topo da escada, concentrado em seu livro de adivinhações.
- Por que os loucos nunca estão em casa? - Jimin escutou o irmão perguntar.
- Porque vivem fora de si. - Jihyo e Jimin responderam ao mesmo tempo.
- Cadê Hyun? - Jimin perguntou enquanto bagunçava o cabelo de Jihyo.
- No quarto... com a namorada.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Feb 02, 2019 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Midnight BlueOnde histórias criam vida. Descubra agora