2. Ele é como um Gêmeo

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NOTA: esse capítulo foi editado ;)

JIMIN

Certamente, sinto falta da vovó.

Nunca é fácil lidar com uma perda. Muito menos quando essa perda envolve tudo o que você conhece e gosta. Estou perdido e tonto no meio de todas essas pessoas, e gostaria, de verdade, de conseguir respirar normalmente. Mas eu não consigo.

Porque, bom. Eu estou em um ônibus escolar pela primeira vez na minha vida. E a experiência não me foi nem um pouco boa.

Sério. Fui atacado por falas maldosas assim que subi no ônibus. Ninguém me dirigiu um palavra amigável, e eu não achei um lugar para me sentar... até porque ninguém queria sentar perto de mim. Eu pensei que teria que ir em pé e comecei a ficar ansioso, mas... um menino diferente ofereceu o assento ao lado do seu e eu aceitei sem pensar duas vezes.

Desde então, eu estou aqui, do seu lado, esperando o ônibus chegar na escola.

Tentei formar até quatro frases em minha cabeça. Coisas comuns que pessoas comuns diziam para outras pessoas comuns quando queriam socializar, mas caramba, eu não fui capaz de dizer nem mesmo uma. O rapaz não tirava os olhos da janela e eu definitivamente não queria atrapalhar seu, hã, ritual importante e silencioso. Ele parecia tão focado. Mais ou menos, porque consigo ouvir a música em seus fones daqui, e ela é barulhenta.

Muito barulhenta.

Gostaria de poder ouvir música também. Mas não tenho nenhum aparelho para isso. Minha mãe em casa, só escuta música escocesa e coreana, e esse é o pior tipo de música que existe. Eu juro que é como tortura aos ouvidos.

Mas enfim... Não lembro de estar no meio de tantas pessoas da minha idade como agora. De vez em quando eu via umas ou outras no mercadinho que costumava ir com minha vó, e minhas primas por parte de pai, eram minhas amigas também, e são todas nascidas no mesmo ano que eu. Menos Jinji. Ela é dois anos mais velha.

Cresci sendo criado por minha avó paterna e minha mãe me visitava quase todos os dias para me pôr para dormir e almoçar comigo. Às vezes me levava para comer em lanchonetes e sorveterias, mas isso só acontecia em datas especiais e finais de semana. Antes do meu pai morrer, eu morava com ele e minha mãe, só que eu tinha, tipo, quatro anos de idade, então não lembro de nada.

Meu pai era coreano e minha mãe é escocesa.

Após a morte do papai, mamãe não conseguiu dar conta de mim direito. Soube que eles tinham um amor intenso, capaz de desabar tudo. Acho bonito e triste. Foi por isso que eu fui morar com a vó e outras seis primas. E isso é tudo que eu sei.

No meio do ano passado, minha avó faleceu e com isso, tudo desandou. Além de ter perdido ela que era, além de avó, minha melhor amiga, tive de lidar sozinho com a primeira e única drástica mudança da minha vida: a de sair da casa a qual cresci e vivi a vida inteira, para morar com minha mãe (que aparentemente não sabe nada sobre cuidar de outra pessoa). Tem vezes que ela parece louca. De verdade. Louquinha.

Além do mais, tem mais esse fato problemático de que eu cresci estudando em casa a vida inteira e não sei como é a escola. Minha vó não era formada em nada, mas me ensinava muito bem e fiquei super acostumado com isso. Ela dizia que era melhor assim e eu concordo plenamente. É o primeiro dia de aula e ainda no ônibus sinto que é o pior de todos. É assustador.

Assim que o ônibus estacionou, fiquei parado e em silêncio no meu lugar. Decidi que esperar todos saírem para me levantar e descer era a melhor opção para não ser atacado.

Sinto que serei empurrado se for na frente, e de verdade, acho que eles enfiariam uma agulha no meu pescoço por pura diversão. Já me chamaram de feiticeiro, bruxo e obra do demônio mais de três vezes desde que subi e, meu Deus, o que é que tem de tão errado comigo a ponto de eu parecer com essas coisas? Caramba!

Ele é Como Rheya {jikook}Onde histórias criam vida. Descubra agora