Segunda-feira, 4

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Querido seja-lá-como-vou-te-chamar-a-partir-de-hoje,

Meu nome é Sylvester Stallone. Brincadeira. Na verdade, meu nome é Lucas Borges Silva, um homem de quatorze anos muito, muito bonito e muito, muito alto. Eu sei que você deve estar pensando que de homem eu não tenho nada, afinal eu estou na fase da adolescência e ainda nem beijei na boca, mas está enganado. O que faz de mim um homem não são as minhas vivências, conquistas ou experiências, mas a minha autointitulação.

Nunca me imaginei escrevendo nada parecido com um diário, mas anteontem a minha vizinha Joaquina resolveu colocar ideias na cabeça da minha mãe. Disse que adolescentes precisam de meios para expressar o que sentem, senão ficam depressivos e se suicidam. Dona Rosa, a senhora minha mãe - uma mulher que acredita mais em notícia falsa do que eu - me pegou pelo braço no mesmo dia e me levou à papelaria para me comprar um bendito diário. Na tentativa de amenizar a situação e me convencer de que era uma boa ideia, acabou me deixando escolher o modelo.

Não que eu esteja reclamando, mas todos os modelos, sem exceção, eram femininos! Ou tinham frufrus rosa atacando a minha rinite, ou tinham bonecas com olhos maiores que a cabeça atacando a minha visão

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Não que eu esteja reclamando, mas todos os modelos, sem exceção, eram femininos! Ou tinham frufrus rosa atacando a minha rinite, ou tinham bonecas com olhos maiores que a cabeça atacando a minha visão. E nesse beco sem saída, optei por comprar um caderno brochura verde e uma caneta de quatro cores. Mamãe foi quem pagou, privando a minha poupança - uma merreca que eu mantenho guardada em segurança debaixo da minha cama num cofre improvisado (um pote de sorvete com a tampa presa com fita adesiva).

Ela me fez prometer que eu vou escrever em você, Diário, todos os dias, nem que seja um mísero parágrafo. Eu, como sendo um bom filho que sou, jurei de pés juntos obedecê-la, desde que ela aumentasse a minha mesada para quarenta reais. Mamãe concordou e aqui estou eu, me sentindo um idiota por estar contando para você coisas que apenas eu lerei e tudo por conta de uma vizinha linguaruda.

Como deve ter percebido, fazem dois dias que mamãe me comprou você. Anteontem foi sábado e ontem foi domingo e, por isso, Petrônio esteve na minha casa e não tive tempo de escrever nada, nem mesmo uma palavra; primeiro porque eu ainda estava relutante quanto a escrever um diário, e segundo porque... não, não tem um segundo motivo, eu só estava em um momento de negação e me recusei a sentar o bumbum na cadeira para escrever bobagens aleatórias sobre o meu dia-a-dia chato. Eu não sou uma estrela de cinema nem nada do tipo para ter mil e uma coisas interessantes para escrever, então tente não morrer de tédio, Diário.

Retomando, Petrônio, o meu melhor amigo de todos os tempos, passou o final de semana na minha casa. Somos amigos desde o dia em que eu descobri que ele é doente, há seis anos. A professora de Ciências da Natureza estava explicando como funcionava a fotossíntese e tinha dado para os alunos uma folha de uma mangueira e uma lupa, quando o diretor da escola pediu licença para anunciar a chegada de um estudante:

- Alunos, este é Petrônio, o novo colega de vocês. Ele tem narcolepsia, por isso sejam educados com ele.

Eu fui o primeiro a perguntar qual o significado de narcolepsia, e o diretor Eduardo explicou que é uma doença caracterizada pelo distúrbio de sono, ou seja, Petrônio tem uma anomalia que o faz sentir cansaço várias vezes durante o dia. Eu achei um absurdo:

- Quer dizer que se ele sentir sono durante a aula, ele poderá dormir? - Eu perguntei, e o diretor confirmou. - Essa é a maior injustiça que eu já vi! Eu também sinto sono o tempo todo e nem por isso posso ficar cochilando na sala de aula!

Os alunos concordaram comigo, mas antes que o diretor pudesse me dar uma de suas respostas que consistem, até hoje, em me mandar ficar quieto, Petrônio apontou o dedo para mim e falou:

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Os alunos concordaram comigo, mas antes que o diretor pudesse me dar uma de suas respostas que consistem, até hoje, em me mandar ficar quieto, Petrônio apontou o dedo para mim e falou:

- Aceita que dói menos.

Embora eu tivesse sentido muita vontade de tacar nele uma bolinha de papel, tive de admitir que tinha sido uma boa resposta. Assim, ele ganhou o meu respeito e, de brinde, a minha amizade. Eu era um molequinho catarrento que aparentemente não era tão exigente no quesito escolher amizades, mas não me arrependo (na maior parte do tempo) de ter dado a Petrônio a honra de ser meu amigo.

Notas finais:

Eu espero do fundo do meu coraçãozinho pequerrucho que você, leitor, tenha gostado da minha história! Espero vê-lo nos próximos capítulos dando boas risadas!

P.S. As ilustrações da capa e capítulo foram e serão feitas por minha maravilhosa irmã. Caso se interesse em ter uma capa ilustrada do jeitinho que sempre sonhou, basta entrar em contato comigo. Os preços dela são de banana!

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