Sexta-feira, 8

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Querido eu-ainda-não-te-dei-um-nome,

Estive ausente durante a semana porque o diretor Eduardo ficou zangado com uma brincadeirinha que fiz durante a aula da quarta-feira. Eu sei que uma coisa não tem nada a ver com a outra, mas essa foi a melhor desculpa que encontrei, então faça o favor de ao menos reconhecer o meu esforço.

A aula da quarta-feira estava extremamente chata; o professor de física, Saulo, um fóssil vivo que costuma dizer que não ganha o suficiente para me aturar, resolveu passar um estudo dirigido individual e sem consulta. Arrumou as cadeiras e mesas em fileiras e me colocou para sentar na frente, lançando o desafio:

Quero ver você conseguir colar dessa vez, Iago.

Tudo bem, eu confesso, Diário, menti outra vez. Eu queria que o meu nome fosse Lucas, mas a minha mãe e o meu pai têm um péssimo gosto para nomes. Não é coincidência o nosso cachorro se chamar Bolota. Não é porque o cachorro é redondo como uma bola que seu nome deve fazer alusão ao seu formato. Tinha sugerido o nome Rumpelstichen, mas como sou minoria na minha casa, fui voto vencido.

É difícil colar nos testes do professor Saulo; embora ele seja quase cego, tem um ouvido de araque

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É difícil colar nos testes do professor Saulo; embora ele seja quase cego, tem um ouvido de araque. Assim que me sentei, mandei uma mensagem para Petrônio pedindo que ele me passasse as respostas por meio do nosso sistema de colas, que consiste em eu colocar o celular no meu bolso no mudo com as configurações de vibrações ativadas. Petrônio me envia mensagens e, conforme o número de vezes que vibra o celular, sei qual alternativa devo marcar.

Nem sempre o nosso sistema funciona, posto que Petrônio não é nenhum gênio da física, mas prefiro confiar na intuição dele do que na minha. Eu não sei chutar nem uma bola, quem dirá questões com cinco alternativas. Ao terminar de me preparar, Carlinhos cutucou meu ombro e me pediu um lápis emprestado. Ele nunca tinha falado comigo antes porque é um idiota que, por conta dos óculos, acha que é o novo Albert Einstein brasileiro.

Eu podia simplesmente ter dado para ele um lápis ou uma lapiseira, mas preferi pedir que ele se aproximasse de mim

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Eu podia simplesmente ter dado para ele um lápis ou uma lapiseira, mas preferi pedir que ele se aproximasse de mim. Carlinhos se levantou com o seu jeitão pomposo e arrogante, ficou do meu lado com a mão estendida e eu disse:

Mais perto.

Ele meteu a cabeçorra dele do meu lado, cheio de expectativa.

Mais perto — pedi e pude sentir o bafo de pasta de dente e enxaguante bucal dele se tornar mais forte, quase asfixiantemente tóxico. — Não.

Carlinhos é petulante, Diário. Eu nunca emprestaria para ele nem mesmo o meu inalador caso ele tivesse um ataque de asma. Por isso, a fim de deixá-lo ainda mais irritado comigo, empurrei os óculos dele para mais próximo dos olhos com o dedo médio. Carlinhos ficou furioso, principalmente quando os alunos que estavam sentados próximo de nós deram risadinhas abafadas.

Pode parecer bobagem, mas eu me senti o maioral por ser a causa do divertimento dos meus colegas. Não é coincidência eu ser conhecido como "O engraçadinho da turma" — um dia, se eu me dedicar, ainda vou ser chamado de "O engraçadinho do colégio".

O professor Saulo percebeu Carlinhos espumando de raiva e me mandou sair da sala de aula e aguardá-lo no corredor. Cheguei em um nível em que basta alguém rir para que eu seja responsabilizado. Embora seja um grande feito, parece que sou o único que vê isso como uma conquista (mamãe não acha tão engraçado ter de ir à escola pelo menos uma vez a cada mês para assinar o caderninho de advertências).

O diretor Eduardo estava saindo do banheiro no momento em que me sentei no chão. Ele não disse nada, apenas olhou para mim e sacudiu a cabeça calva com ar de decepção. Eu não hesitei em perguntar:

Que foi? A cagada não foi tão boa?

O diretor Eduardo me disse mais de cem vezes que eu nunca, em nenhuma hipótese, devo fazer piadas sobre sua carequinha brilhante que mais parece uma bola de bilhar branca do que uma cabeça, mas nunca me disse nada sobre o seu problema intestinal que o obriga a ir ao banheiro pelo menos seis vezes pela parte da manhã. Sei que ele usa o banheiro dos alunos porque tem medo de deixar o banheiro dos professores com cheiro de merda, tendo em vista que a senhorita Viviane, a mulher mais linda da face da Terra e minha professora de Matemática, usa o banheiro feminino que fica ao lado, dividido por uma parede extremamente fina.

Eduardo ficou vermelho, não sei se de raiva ou de vergonha, e o meu castigo acabou sendo dividido em duas partes:

I) tive de ficar depois da aula organizando os livros da biblioteca;

II) fui impedido de fazer o estudo dirigido (será que o diretor Eduardo sabe que se eu reprovar, ele terá de me aturar por mais um ano?).

Notas finais:

Obrigada por ter dado uma chance à minha história! Se quiser comentar qualquer coisa que seja, saiba desde logo que meu coraçãozinho pequerrucho ficará muito grato, além de isso ser um baita de um incentivo!

P.S. As imagens foram ilustradas por minha digníssima irmã, caso tenham interesse em saber do trabalho dela como ilustradora e desenhista, bastam dizer! O preço dos serviços dela é de banana!

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⏰ Última atualização: Jun 01, 2018 ⏰

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