Depois da Lua

Capítulo 2

Abro meus olhos rapidamente, um vislumbre do que aconteceu antes de apagar passa rapidamente pela minha cabeça, me sento rápido como resposta de fuga. Percebo que foi uma péssima idéia, minha cabeça está latejando inteirinha, mas principalmente do lado em que bati a testa em um degrau. Não estou no chão da plataforma, estou deitada em uma cama confortável em um quarto desconhecido.

- Vá devagar, você bateu a cabeça muitas vezes. – diz uma voz feminina bem aguda, parece uma criança falando, duvido que seja. Olho para o lado, há outra cama com uma garota com cerca de vinte anos, cabelos cacheados na altura dos ombros, tem cor de cobre e parece bastante simpática. – Eu sou a Abigail, mas você pode me chamar de Abby.

Ponho a mão na testa, onde está doendo mais e encontro um curativo, alguém mexeu em mim enquanto estava desacordada, isso é ruim, percorro rapidamente todo meu corpo com as mãos pra ter certeza que ninguém abriu minha barriga e roubou um rim. Está tudo em ordem. Ufa. A única coisa diferente é curativos onde Ivy me arranhou, nos braços e costelas. Estou com roupas diferentes que não são minhas, é um pijama simples, uma blusa com manga preta lisa e calças de moletom cinza. Ao lado da cama que estou está minha mochila com minhas roupas dobradas em cima dela, estão obviamente rasgadas.

- É melhor eu explicar as coisas para você, deve estar muito confusa. – diz Abby sorrindo amigavelmente para me passar segurança. – Vem comigo, vou lhe mostrar o lugar.

Ela se levanta, e caminha para a porta, faço o mesmo e a sigo pelo corredor. O lugar parece ter sido reformado recentemente, a tinta branca da parece está novinha.

- Esse lugar é um teatro antigo construído no começo do século XX, Ivy achou o lugar bem estiloso e comprou para ser nossa casa. Particularmente achei bem sinistro, pois foi desativado nos anos 60 por falta de publico e ficou desocupado até que compramos, tinha um toque assombrado. – Diz ela. Ela para em frente uma porta de metal e abre. – Essa parte que estamos é o dormitório, geralmente dormem pelo menos duas pessoas em cada quarto, exceto Ivy que dorme sozinha. Aqui é a cozinha.

A porta revelou uma cozinha gigantesca, possuía duas geladeiras e dois freezers em tons de cinza metálico, muitos balcões e três fogões espalhados em lugares diferentes, como se muitas pessoas fossem cozinhar ao mesmo tempo, havia uma espécie de bancada central com alguns banquinhos em volta para comer algum lanche rápido. Continuamos nosso tour.

-Vocês são alguma espécie de cientistas que trabalham para o governo fazendo novas armas biológicas pra guerra? – pergunto. – Eu juro que não vou contar para ninguém, mas foi bem legal a idéia de cruzar geneticamente lobos com humanos, seja lá que país que estejam tentando intimidar.

Abigail começa a gargalhar, se minha teoria não estiver certa então eu estava alucinando bonito.

- Não somos experimentos, bobinha, alguns já nasceram assim, outros foram arranhados e mordidos. É como um vírus, uma doença, sei lá. – reponde ainda rindo da minha cara. – As pessoas não iam gostar de aberrações por perto, toda vez que alguém conta para um não-infectado a reação é a pior possível, por isso desenvolvemos uma subcultura e vivemos em clãs.

Parece um filme de ficção cientifica ou romance adolescente. Não sei se acredito em sua palavra como verdade absoluta, ela parece confiável e apesar de ter visto por mim mesma, nunca se sabe quando alguém quer zuar você. Outra porta é aberta.

Esta sala é aparentemente uma sala de treino, há equipamentos de ginástica variados espalhados por ela, é um enorme cômodo, uma das paredes é totalmente coberta de espelhos e o chão a sua frente é emborrachado, provavelmente para praticar lutas.

—Acho que este é o lugar que todo mundo passa mais tempo aqui, Ivy gosta que foquemos em lutas corpo a corpo como humanos para aprendermos a nos defender dessa forma também. – narra Abby. Ela parece bem confortável com o local. – Geralmente nunca está vazio, mas agora está rolando uma reunião importante.

- Que reunião? – pergunto curiosa. - E que horas você vai me explicar que merda está acontecendo?

—Desculpe, acho que é melhor você ouvir da própria Ivy, não sou a melhor pessoa para dar esse tipo de notícia. — responde, fechando a sala de treino me ignorando as outras portas. — Vou te levar para ver ela.

Agora ela conseguiu me deixar apavorada, me mostrando o lugar como quem não quer nada e depois simplesmente diz que não consegue explicar a situação que estou. Com certeza estou atolada até o pescoço em problemas. Abby para em frente a uma porta de metal muito reforçada, há dois homens super altos do lado de fora, um em cada lado da porta, ela nem precisou dizer nada para eles, deu uma leve batida na porta, coisa que ela não fez com as outras, e entrou comigo logo atrás.

A porta número três revelou uma grande sala de reuniões, que estava completamente lotada, havia uma mesa central com o mapa da cidade estendido sobre ela e algumas cadeiras em volta, alguns sofás e poltronas espalhados por três paredes, a outra estava coberta por televisores de câmeras e computadores logo abaixo. Confesso que fiquei um pouco animada, parecia que estávamos em um jogo de guerra. Ivy estava fazendo alguma espécie de discurso.

—Quero que descubram qual é o esconderijo temporário deles e me informem. – ela parou de falar quando viu que eu e Abigail entramos na sala, sua atenção se voltou para nós. – Ah, ela acordou, muito bem. Reunião encerrada, todos sabem o que fazer.

Todo mundo começou a sair, ela andou até nós com firmeza, tinha um jeito sexy de se mover. Agora estava vestindo roupas de esporte, todos estava estranhamente vestido desse jeito, acho que passam tempo demais naquela sala. Ivy fez um movimento com a cabeça para irmos para fora, eu e Abigail a seguimos até o que parecia ser seu quarto. Havia uma enorme cama de casal com lençóis escarlate de seda, havia um pequeno sofá em um canto e ao seu lado tinha uma mesa com computador e poltrona. Ivy se sentou na poltrona e eu no sofá juntamente com Abby.

—Primeiramente, eu queria adiantar um pedido de desculpas. Você se machucou muito ontem a noite e agora está aqui na presença de pessoas que nunca viu antes quase como uma prisioneira. — disse Ivy, ela parecia muito séria. — Você é livre para ir depois que eu lhe dizer o que preciso, mas é muito melhor que fique por um tempo. Isso nos pouparia tempo e trabalho.

—Ok, aquilo já foi sinistro o suficiente para o resto da minha vida, nunca mais pego metro. Agora nem sei onde estou se estou na mesma cidade, mas por favor me deixe ir embora.- peço, isso está me assustando para caralho, eu só quero ir embora.

—Pelo seu perfil, imagino que está pensando que estamos em um programa de TV que tem a intenção de fazer pegadinhas com câmeras escondidas. – diz ela, pensando bem, essa teoria faz muito sentido, porém sei que ela está prestes a dizer mas. – Mas, não somos tão desocupados assim, somos apenas um grupo de pessoas com características peculiares tentando sobreviver no mundo. Obviamente, as pessoas não podem deixar os diferentes em paz então estamos em constante guerra entre nós mesmos e entre os outros. Uma pessoa nova como você atrasa o meu lado, mas vou relevar por que achei seu cabelo bem cheiroso.

Não sei se fico lisonjeada, feliz por uma garota como ela me notar ou incomodada por achar que sou um atraso. Não consigo manter o foco em sair correndo com aqueles olhos azuis.

—Primeiramente eu posso ser útil em seja lá o que for. Em segundo lugar eu ficaria feliz em receber respostas menos vagas. — retruco.

—Você viu que podemos nos transformar em lobos, o que mais quer que eu explique? – responde Ivy um pouco sem paciência. – Agora se você tiver algum problema de interpretação, posso tentar desenhar.

—Nossa, você é muito engraçada. – digo com todo meu sarcasmo revirando os olhos. — Eu entendi isso. O que vocês são? Algum clã de série adolescente?

—Vocês? —ela diz se divertindo com alguma piada interna entre ela e Abby, as duas estão se segurando para não rir da minha cara. Com certeza deve me achar muito lerda por enchê-la de perguntas. — Você quis dizer nós? A essa altura já devia ter percebido o porquê de estar aqui na minha base.