Capítulo Único

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Wanda despertou de repente, levantando o dorso da cama em um rápido movimento, a mão direita se dirigindo ao peito, como se fosse ajudá-la a respirar melhor. Seu busto se levantava e abaixava em um ritmo frenético, enquanto a jovem tentava desesperadamente retomar o fôlego que o pesadelo roubou de si. Se sentando direito na cama, trazendo os joelhos mais para perto de seu corpo e os abraçando, ela apoiou a cabeça neles e fechou os olhos, as imagens do sonho ainda rodando em sua mente.

Bem, não eram exatamente do sonho. A maior parte delas eram reais, tinham acontecido ao longo dos anos de sua vida e principalmente há alguns meses. Mesmo com os olhos fechados com força, ela conseguia ver o sorriso travesso dele, seus olhos cheios de animação ao saber que estava fazendo algo proibido, as mãos dele segurando as suas e a puxando para um abraço, que desde os dez anos ela aprendeu a chamar de casa. 

Mas o pior é, com suas pálpebras continuando a cobrir seus globos oculares, ela ainda conseguia ver o corpo dele estirado no chão. Os olhos azuis que costumavam ser sua calmaria, seu porto seguro, abertos e vazios, sem vida. O uniforme azul e cinza coberto por buracos, manchados de um vermelho tão escuro que, depois de horas e já seco, poderia ser facilmente confundido com marrom. Um vermelho que qualquer um sabia ser sangue e buracos que claramente foram feitos por balas.

De olhos fechados e após meses, Wanda ainda conseguia ver seu Pietro, seu irmão, seu companheiro de crime e de vida, sua casa, estirado em sua frente, morto. Assassinado pela coisa que eles juraram ajudar. 

Tal visão a atormentava a todo momento, dia e noite, mas principalmente em seus sonhos. Neles, ela relembrava cada segundo que passaram juntos, mas infelizmente a morte de seu gêmeo era a cena mais frequente em tais flashbacks. E o pior de tudo é que sua mente doentia distorcia os acontecimentos, fazia a acreditar por breves instantes que ele ainda estava vivo, que ele não havia a deixado, lhe trazendo uma alegria momentânea que só quebrava ainda mais seu coração quando ela acordava e via que não passava de ilusão. Ou então ela mostrava para Wanda um "zombie" Pietro, a culpando por sua morte, por não ter feito nada para o salvá-lo. Aterrorizando-a com afirmações que era por causa dela que ele havia morrido, que ele a odiava e que ela estava destinada a passar a eternidade miseravelmente sozinha por causa disso. 

No primeiro mês, não havia vez sequer que ela fechasse os olhos e isso não acontecia. Cada descanso, cada cochilo era a mesma coisa. Se dormiu dez horas na semana após a perda de seu irmão havia sido muito. Porém, com o tempo, a frequência dos pesadelos diminuiu. Depois de alguns dias, ela conseguia dormir algumas horas sem que fosse acordada aos prantos por seus tormentos noturnos. Horas então se transformaram em dias, e agora, meses depois, ela conseguia ter quase uma semana sem pesadelos.

Wanda sabia que quase tudo era fruto de sua cabeça, que tudo isso era fruto do luto, da saudade e de, mesmo que não admitisse em voz alta, culpa por ter se envolvido com a Hydra e Ultron. Contudo, saber e pôr em prática eram duas coisas muito diferentes. Mesmo que a razão lhe dissesse uma coisa, fazer seu cérebro entender e fazer que acontecesse era outra. A solução então era deixar acontecer, ser forte, e enfrentar.

A jovem sabia pela a experiência da perda de seus pais que melhorava. Não ia pararia de repente ou iria embora para sempre, mas melhorava. A dor diminuía e deixaria de a consumir por completo e a sufocar a cada segundo do dia. A quantidade de momentos que se sentia entorpecida iria diminuir, e ela voltaria a ser um pouco do que era antes. Não seria completa nunca mais, disso ela sabia, mas pelo menos deixaria de ser essa mistura sofrida e dolorida de indiferença e desespero. 

Agora mais calma e respirando em um ritmo quase que normal, ela se virou para sua mesa de cabeceira para tomar um gole de água, mas encontrou o copo vazio. Devo ter esquecido de enchê-lo antes de dormir, pensou cansada. Considerou voltar a deitar pois sabia que se levantasse para pegar mais não conseguiria dormir, porém a quem ela queria enganar? Nunca conseguia dormir após um desses pesadelos. 

I'm Not In LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora