Na delegacia da Lapa, Américo continuava avesso à possibilidade do estrelato na imprensa sensacionalista. Uma estrutura que desagradava subordinados gananciosos por status em alguma coluna social de renome.
Dependesse de Alice, aquela chefia de polícia tinha prazo de validade contado.
No Foco News, o jornalismo era exercido por quem se julgava esperto o bastante para corromper policiais (ótimos informantes). O editor chefe Fernando Mascarenhas incentivava os repórteres ao esquecimento de quaisquer éticas de faculdade, valendo a notícia mais escandalosa e possível à sobrevivência da empresa.
Alice, maliciosa de berço, modelo frustrada, que achou no jornalismo a porta de entrada para a fama, usava e abusava dos atributos físicos para conquistar um cavalheiro decidido a alimentá-la com informações escandalosas.
“Gostoso. Hoje... apenas nos beijinhos. Ok?”
“Claro, minha tesuda”
“Garanto que o gostoso não vai se arrepender se mantiver as suas contribuições...”
“Sou um homem de caráter, minha gatona... tesuda. Sou um policial honesto para num dizer o contrario”
“Imagine se não fosse”, riu Alice.
Acariciavam-se no carro do policial, que havia estacionado o automóvel de luxo, padrão incompatível com o salário de servidor público, no estacionamento do edifício-garagem, no Castelo, na área central do Rio de Janeiro.
Ali, como em outros encontros, namoravam à vontade, embora o sexo ficasse a desejar quando o policial pressionava para uma escapada a um motel, mas ela sempre tinha uma desculpa convincente ao trabalho de jornalista.
O policial, morador da Baixada Fluminense, jamais se apresentava na delegacia com um carro de luxo. A rotina de funcionário público era a de um sujeito sem posses, um batalhador que fazia amigos fáceis, além de um dedicado chefe de família. A discrição, para que não fosse visto na direção do automóvel luxuoso, ficava por conta do vidro-fumê nas janelas. Um motel ambulante que não convencia Alice, mas sim outras paqueras.
Após aqueles carinhos (íntimos demais) extravagantes para cidadãos muito pudicos, Alice seguiu a pé para a redação do Foco News. Muito feliz com mais uma conquista: cópias de registros policiais, que haviam ficado distantes da imprensa, para discrição da delegacia na Lapa.
Um final lindo de tarde.
O sol brilhava num céu sem os constrangimentos de iminentes tempestades.
O policial, alegre pelas masturbações na companhia de Alice, achava-se um herói ao ter vivido mais uma intensa experiência daquele tipo. Qual o homem que tem o meu privilégio?Alice será minha um dia. Ela me ama e faz jogo duro até num aguentar mais de tesão pelo gostoso dela aqui. Voltar para casa, agora, estava difícil a um corpo cansado e absorto nas imagens ainda muito vivas de Alice.
Dormiu no banco do motorista.
Preferiu sonhar mais com aquela beldade de jornalista.
Nos subterrâneos da cidade, os movimentos dos religiosos, que haviam avistado outra noite Julieta em voos pela zona portuária, preocupavam-se com absurdos não relatados pela imprensa. Afinal, a religiosidade subterrânea mantinha-se oculta havia mais de cem anos até que a modernidade dos anos 2000, com a Internet, trouxera perturbações a mais para os seguidores do Mestre.