UN

131 4 5
                                    

*Imagem: Tumblr*


Eu havia passado a noite em claro pensando em como aquele momento seria. Não sabia se estava verdadeiramente pronta, mas esse dia nunca chegaria, cada vez eu tinha mais certeza. As únicas coisas que ponderei a respeito enquanto ouvia o ressonar baixo de Nathaniel de um lado, e a respiração profunda de Micah, do outro, foram: eu amava Jean-Claude; eu amava Asher; os dois já tinham provado de tantas formas o quanto me amavam, cada um à sua maneira, com seus vícios e virtudes. E eu queria que eles soubessem o quanto eu apreciava isso, como retribuía esse amor.

Não conseguia pensar em nenhuma outra forma de fazer isso, e aquela última barreira em mim precisava ser transposta; eu queria que fosse totalmente abaixo, e teria que ser logo, ou todos os pensamentos me convencendo do contrário voltariam para erguê-la novamente. Por isso, enquanto descia os degraus frios do subsolo do Circo dos Amaldiçoados no meio da noite, eu não estava pensando. Era inteira somente ação e reação. A decisão tinha sido tomada e comuniquei aos meus dois anjos das trevas, e do amor que sentia por eles eu me deixei inundar, para que eu fosse só emoção pelo menos uma vez.

Mandei minha mente calar a porra da boca pela enésima vez naquele dia e me concentrei em sentir a presença de Jean-Claude e Asher como uma onda morna de energia por meu corpo, como um abraço metafísico, mas tão real quanto poderia ser. Eles me esperavam.

Toquei a porta pesada de madeira que separava o quarto de Jean-Claude da enorme sala de estar. Foi um gesto instintivo, tomada pela energia que estava. Quando virei a maçaneta, revelei aos meus olhos os homens em minha vida: Asher estava mais longe da porta, sentado numa cadeira de espaldar reto, o que lhe dava uma postura imponente. Os cabelos dourados caiam do lado esquerdo do rosto como a cascata que eu adorava observar, o olho azul que não estava sob todo o dourado daqueles fios me olhava muito atentamente. A expressão era serena, mas os olhos faiscavam. Seu corpo estava encoberto por um robe azul royal que eu sabia pertencer a Jean-Claude – sabia que sob ele, não havia nada. O dono daquele robe estava de pé ao lado de uma das colunas da cama grande demais, a qual os outros apelidavam de orgy-size e não era exagero: caberiam umas seis pessoas naquele espaço coberto de seda (hoje azul-celeste como as íris de Asher) em que Jean-Claude apoiava-se. Não poderia ser mais deslumbrante a maneira com que ele se portava. Mesmo vestindo apenas um de seus calções de seda, desta vez, negros como a escuridão do Circo àquela hora, ele se destacava sem esforço. Os olhos tão densos como o céu à noite, os cabelos que convidavam ao toque derramando-se pelos ombros, um corpo que poderia levar qualquer pessoa à loucura apenas por observar de perto. Eu nunca superaria o quanto eles eram perfeitamente lindos, em cada linha da simetria individual, mas também juntos. Eles se complementavam não como dia e noite, mas como a lua dourada e o céu da meia-noite.

Eu entrei no quarto, deixando que a energia que emanava deles me guiasse. Permiti que Jean-Claude usasse nosso elo de serva e mestre como poucas vezes permitira, porque era necessário. Eu queria que fosse assim. Não pude evitar ver minha figura de relance pelo grande espelho do quarto. Eu sabia que estava pálida, mais ainda usando a lingerie vermelha de renda francesa que vestia hoje, mas eu via pelas mentes dos dois o quanto eu era atraente a eles daquela forma, exatamente como eu era. E que toda ansiedade e receio que eu já sentira começava a se dissipar por influência deles. Eu permiti, e era só o início das minhas permissões por aquela noite.

Eles me olhavam com muita atenção, então decidi começar a falar antes que o peso daqueles pares de olhos me fizesse sucumbir sem reservas.

– Quis esperar até agora para que estivessem bem acordados para fazermos isso. – olhei para eles com toda confiança que pode ter uma mulher de calcinha e sutiã em frente aos homens que ama. – Eu não pretendo falar muito... – vi Asher erguer a sobrancelha muito discretamente, mas eu o conhecia muito bem para deixar passar – Quero que saibam que... Eu decidi me juntar a vocês na cama.

Seda & Sangue [ANITA BLAKE SERIES]Onde histórias criam vida. Descubra agora