DEUX

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*Imagem: Faestock*


Quando consegui abrir novamente os olhos, encontrei a mim mesma refletida no espelho na parede oposta. Em nenhum momento me vira ali antes, o que prova o quão envolvida por Asher e Jean-Claude eu estava. E agora eu me via, uma das taças do sutiã completamente abaixada e nem me lembrava de ter feito isso. Minha perna esquerda continuava apoiada no braço de madeira da cadeira, e agora eu sentia o músculo posterior da coxa formigando pelo esforço. Meu rosto estava lívido e o suor formava gotículas em minha testa e colo.

Mas estava feliz. Como nunca antes conseguira estar. Como nunca antes com nenhum dos outros.

Encontrei os dois pares de olhos azuis, um mais escuro, outro mais claro. Havia curiosidade neles, talvez a busca de aprovação. Sorri o mais genuinamente que pude. Jean-Claude continuava abraçado a Asher, mas com o braço mais relaxado sobre o lado do corpo do parceiro. Enterrava o rosto vez ou outra nos cabelos dele, o que eu já começava a ver como uma característica de Jean-Claude. Ele parecia muito inebriado apenas pela textura dos fios longos e luminosos de Asher. Eu mesma sempre ficava hipnotizada por eles, então não o culpava.

Ficamos ali por alguns minutos, Asher moveu-se apenas o suficiente para se afastar um pouco de Jean-Claude, foi um gesto delicado e meramente perceptível. Em seguida, encontrou a mão do outro pousada em seu quadril e entrelaçou seus dedos nos dele. Ficaram ali aproveitando o torpor enquanto eu só conseguia observar e sentir aquela enorme ternura.

– Isso foi... – comecei, mas um suspiro me roubou o final da frase.

– Sim, foi – Jean-Claude completou. Sua voz estava rouca, o que para mim era quase surpreendente, considerando o que ele fazia com a voz.

– Alguma impressão de suas observações, ma voyeuse? – Asher disse, lentamente, de olhos fechados.

Eu sorri e endireitei-me na cadeira, vestindo corretamente o sutiã outra vez. Nem sei por que fiz isso, mas me parecia certo no momento. Hora de conversar, coloque o peito no lugar, mocinha.

– Eu fiquei curiosa, na verdade. Sobre algumas coisas – levantei-me e fui andando na direção deles, sentando-me outra vez na beirada da cama. Asher pousou a mão livre em minha coxa.

– Curiosidade é sempre bem-vinda – disse.

Observei Jean-Claude inspirar nos cabelos de Asher uma outra vez antes de responder:

– Os poderes. Eu posso estar com meu radar quebrado, mas não senti em quase nenhum momento a presença deles.

– Ah, considere isto uma cortesia – Jean-Claude quem respondeu.

– Cortesia?

Oui. Foi uma das coisas sobre as quais eu e mon chardoneret conversamos.

– Concordamos que a sua resistência era mais com o fato de sermos, bem, homens. Não leve a mal, ma cheri, mas sejamos francos – ele acrescentou antes que eu pudesse protestar.

– Não vou corrigi-lo. Foi uma observação muito sábia, aliás. Agora mesmo eu não havia me dado conta disso, mas... – dei de ombros – Sim, era uma das minhas barreiras.

– Então, por isso, queríamos que você conhecesse isso. Não é nada incomum a resistência a algo que não conhecemos.

– E quando vocês decidiram isso? – perguntei, intrigada.

– Quando você disse que queria observar – Asher respondeu, sorrindo.

– E você entendeu tudo isso dessa frase?

Seda & Sangue [ANITA BLAKE SERIES]Onde histórias criam vida. Descubra agora