Não ter uma das melhores vidas do mundo era uma coisa bem comum na cidade de Dresden, na Alemanha. Era uma cidade fria, cheia de árvores, casas com jardins, parques. Porém, o mais estranho era que quase ninguém aproveitava o ar livre.
Na maioria do tempo, aquela cidade curiosa e gélida era tomada por carros que iam para lá e para cá com pessoas fechadas em seu próprio mundo, almas que nem mesmo merecem piedade no dia do tal "julgamento final" que os religiosos tanto falavam.
O único movimento ali eram os carros, as folhas das árvores e por fim, os adolescentes rebeldes e riquinhos que estudavam pelo turno matutino, pois a tarde a cidade poderia ser considerada abandonada por conta de tal silêncio.
Mas dentre tantas pessoas mesquinhas e frescas um único garoto se destacava na multidão, não por ele ser o filho do prefeito, ia além disso, muito além. Ele era o garoto mais rico de toda aquela cidade e o mais bonito, e isso também contribuía para que mil e uma garotas se atirassem a seus pés, mas ele, por mais incrível que pareça, não se importava com tal fama.
De que infernos adiantava ter tudo aquilo, mas não ser amado de verdade? De que adiantava ter tanto dinheiro e não ter o carinho, o afeto dos pais? De que adiantava tal beleza se as garotas não se importavam com seu caráter? Pois é, absolutamente nada.
E pode parecer que isso seria só mais um drama de um adolescente de 17 anos, que em breve faria 18 e poderia se livrar de tudo aquilo, afinal, só faltava 5 dias para sua formatura, a qual ele preferia chamar de "Libertação". Ele a chamava daquela forma pois assim que ele pegasse o seu diploma ele seria um homem livre, e um dia antes já teria feito dezoito anos. Exatamente no dia 24 de novembro.
Ele já poderia sentir o cheirinho de alegria que estava prestes a chegar. Era algo que em anos conseguiria faze-lo sorrir de verdade.
-Ande mais rápido, Klaus. - Seu pai falava enquanto pegava as chaves do carro e abria a porta de casa. - Desta forma nós vamos acabar nos atrasando para experimentar sua roupa para formatura!
-Já estou indo pai! - O garoto loiro já podia ser visto sair correndo de casa tentando colocar seu moletom.
-Não sei como você consegue vestir estes trapos velhos que chama de roupas. - Seu pai disse olhando com repugnância para o moletom preto com o nome de uma banda de rock qualquer estampada nele.
-Esses "trapos" que você tanto odeia pai, são minhas roupas favoritas, agora tem como irmos logo? Afinal, foi o senhor mesmo quem falou que iriamos nos atrasar não é?
Depois de um balanço de cabeça em forma de negação, a Bugatti Chiron preta saiu em alta velocidade pelas ruas frias da cidade.
Enquanto isso a mais de sete palmos do subsolo
Não era de aparência parecida com a do inferno, era diferente, era frio, era estranho, era o mundo dos mortos, um mundo ao qual nenhum humano sabia que existia, até o momento em que a morte fizesse "toc toc" na porta de alguém e dissesse 'Ei, você, anda, vem comigo, sua hora já chegou'.
E não era comandado por um anjinho com uma aureola brilhante e idiota pairando sobre a sua cabeça, com asinhas tolas e uma plaquinha escrito "hey, eu sou o Amenadiel, comando este sub-mundo".
E muito menos um ser com cara de monstro duas vezes mais feio com chifres, uma calda, e rindo diabolicamente com outra plaquinha escrito "olá pequeno humano insignificante, eu sou o Diabo, venha comigo para servir como meu escravo até o fim dos tempos".
Era muito mais complexo do que tudo isso junto, essas eram historinhas que contavam para que as crianças se comportassem e fizessem o que eles mandavam. O Mundo Dos Mortos. Esse lugar era comandado por outro ser.
Suas asas eram escondidas dentro dela, eram negras, ela tinha lábios bem desenhados, cabelos loiros, olhos claros e profundos que penetravam na alma da pessoa buscando qualquer tipo de mentira, ódio, rancor. Ela era a irmã mais nova do anjo caído e do anjo mais exemplar. Então eu te pergunto: Como ela havia sido mandada para comandar aquele mundo com apenas 18 anos de vida? Era só mais um castigo de seu pai como ele havia feito com seu irmão Lúcifer? Se aquilo era mais um castigo, o que ela tinha feito de errado? Pois é, era só mais um mistério dentre muitos que ainda assombram a humanidade.
-Desde quando os schnuffler* desobedecem as ordens do general? A última vez foi quando... Droga! - Exclamou a loira que agora estava levantada e com olhos em chamas.
-Como vai irmãzinha? - Ela olhou para o dono da voz que estava parado na entrada da porta.
-Saia da passagem, Lúci. Como vai, irmã? - E um "homem" que mais parecia um armário por conta de tal altura começou a se aproximar da loira em sua frente.
Um par de asas negras se abriram assustadoramente e a chama em seus olhos cresceu ainda mais.
-Se afaste de mim, anjo patético! - Sua voz já não era mais a mesma.
-Percebo que ainda guarda rancor da nossa última visitinha não é irmãzinha? Hahaha, relaxe, recolha suas penas e se sente, viemos anunciar que tem carne fresca chegando. - O cara extremamente bonito e charmoso começou a andar pela sala, aquela era a cara do Diabo.
-A única diferença é que ele não é como os outros, ele é... Especial, digamos assim. - Amenadiel começou fazendo o irmão revirar os olhos.
-Ele não é nem puro nem pecador, ele é o seu novo problema.
-O que? Como assim? Não! Essas não são as regras, você sabe bem disso, Lúcifer. - A loira se levantou novamente, indo de encontro ao irmão.
-E o que eu tenho a ver com isso? Você acabou de ganhar mais um brinquedinho. Sinta-se feliz em ficar com o novo problema que vem ai, maninha. -Ele fez questão de dar ênfase no apelido.
-Pois fique sabendo que ele sendo a droga de um novato especial ou não ele passará pela escolha como todos os outros. E não brinque comigo, Lúci. - Ela também deu ênfase no apelido, se virou e sentou-se novamente.
-Vamos embora, Lúcifer. Você se lembra bem do que aconteceu da última vez, e fomos todos castigados por sua culpa. Até o tão esperado dia, irmã.
Schnuffler * - Significa farejador em alemão.
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A Senhora Dos Mortos
FantasySe um dia você encontrar com uma mulher de preto caminhando em sua direção, CORRA! Tenha medo, ela vai levar você para um lugar do qual você não vai poder sair. Imagine assim então: Em algum momento normal da sua vidinha patética você acaba sofrendo...