10/03/2015
" Não, obrigado. " disse, após a senhora perguntar se precisava de ajuda. Odeio imenso este tipo de trabalhadores que, no momento em que uma pessoa chega a uma loja de roupa, vêm perguntar se necessitamos de algo para ajudar. Claro que, quando fosse preciso ajuda, chamamos alguém para ajudar.
A mulher retirou-se da minha beira, finalmente, tinha um pouco de paz. Andei pela loja à procura de uma peça de roupa que me favorecesse e me ficasse bem, sobretudo. Sou um privilegiado por ter, em minha posse, um cartão de crédito, com uma grande quantia de dinheiro, que ainda estou a tentar raciocinar sobre o porquê de o ter. Saí da loja com uma peça de roupa que, na minha opinião, era a melhor que irei ter no roupeiro, uma T-Shirt branca, com o nome da marca em letras pretas, duas linhas verdes e, no meio, uma vermelha, sendo que, por cima das três linhas, tinha o logótipo da marca. Fiz uma grande maratona pelas várias lojas que haviam no centro comercial, na cidade parisiense. Os sacos das várias lojas iam sendo evidentes nas minhas mãos que iam começando a doer devido ao peso dos mesmos.
Rapidamente cheguei ao hotel e deparei-me com um novo cartão, idêntico aos dois últimos que recebi, com uma pequena mensagem, supus logo que era da carta, do tão esperado Joker que queria ter nas minhas mãos, o mais rápido possível. O problema é que, para o ter, teria de tomar riscos que não queria tomar. Levanto o papel e leio o seu conteúdo.
" Para continuares esta aventura, não terás de enfrentar mais maus caminhos. Podes continuar e enfrentar, normalmente, a tua vida. A única coisa que irás receber, a partir de agora, são mensagens que te irão guiar até ao ter principal objectivo. É tudo, por agora. "
Um sentimento de alívio transportou-se no meu corpo, assim que termino a leitura do pequeno cartão, que, agora tivera pousado, novamente, na mesa de vidro. Sentia que a carta estava cada vez mais perto de mim, sentia que faltava pouco para apanhar a pessoa que o tem e que, ia morrer, quando descoberto. No meio dos meus pensamentos, fui até ao quarto com os sacos da roupa que tivera comprado e arrumei todas as peças no roupeiro. Umas T-Shirt, umas jeans, umas sapatilhas, um casaco e uns calções. De facto, tinha imenso dinheiro para gastar, sabendo que, mesmo sendo quantias elevadas, teria de o gerir da melhor forma.
Ainda eram onze horas e trinta e dois, visto pelo meu iPhone, por isso aproveitei para ir tomar o pequeno-almoço, um pouco tardio. Desci o elevador e transportei-me à zona de restauração, onde comi um pão com fiambre e queijo e bebi um sumo de laranja natural. Após a pequena refeição, voltei para o quarto de onde tinha saído.
Eu não queria, de certa forma, ser influenciado por ninguém, pelas piores razões. Na verdade, já estava na varanda a fumar e a beber uma cerveja, sei perfeitamente que o meu corpo não estava habituado a este tipo de coisas, que poderias trazer malefícios para a minha vida familiar e profissional, digamos assim. Mais uma vez, ia puxando no cigarro e bebendo, aleatoriamente, pequenas puxas e pequenos goles. Mesmo não gostando de Paris, a vista, tinha que admitir, que era espectacular e lindíssima. Da minha varanda, dava para visualizar a Torre Eiffel, vários monumentos históricos bem altos, a natureza, com jardins imensamente verdes, cheios de árvores e flores coloridas. Por fim, o céu azul com algumas manchas, a que se podem chamar de nuvens. Entretanto, após ter terminado o cigarro, apago-o na parede e transporto a ponta para o saco do lixo, assim como a garrafa vazia da cerveja.
Começava a chover um pouco intensamente. Queria sair do hotel para dar uma volta mas, estando mau tempo, vou permanecer aqui. Um dos meus objectivos para hoje era almoçar fora, a meteorologia impediu-me de tal. Sentei-me no sofá da sala. O silêncio entrava no meu corpo, no meu ser, invadindo-o, por completo. O som da chuva a bater lá fora era acolhedor e aconchegante, entrava na minha mente de uma forma irrepreensível. Deu mesmo para me acalmar de tudo o que estava a acontecer ao mesmo tempo, não tinha tempo e oportunidade de resposta a isto tudo. Estava completamente a delirar por nunca mais estar como estava.
Já passava das duas da tarde e ainda não tivera almoçado, preferi estar a ouvir o som da chuva, no sofá, a relaxar um pouco. Sinceramente, nem estava com fome mas fui obrigado a ir tomar a refeição para que, daqui a pouco não estivesse com mais fome. Desci o elevador até ao piso menos um e fui direito tirar o tabuleiro para escolher a comida que queria, disponível. Retirei os alimentos para um prato e um sumo fresco de laranja. Sentei-me numa cadeira e almocei.
Após este, olhei para a janela limpa e já não estava a chover. Fui novamente ao quarto para tomar um banho bem quente e vestir-me um pouco melhor para ir dar uma volta pela cidade histórica parisiense. Agasalhei-me bem, estava muito frio, conseguia reparar no movimento circular que as copas das árvores executavam. Peguei no cartão magnético e no cartão de crédito e saí.
Enquanto caminhava na rua do hotel, o frio estava cada vez a atacar mais o meu corpo, apertei o casaco mas, praticamente não fazia nada. Estava frio na mesma. Entrei numa gelataria, onde pedi um gelado de três bolas, uma de chocolate, outra de morango e, por último, de menta. Comi vagarosamente, porque estava imenso frio lá fora. Sei que não era o tempo perfeito para comer gelados, mas apetecia-me. As pessoas normais comem este tipo de coisas no verão, onde está um tempo maravilhoso, cheio de sol, misturado com a vontade de ir para a praia.
Já tinha roupa que chegue no armário, mas quis abusar um pouco mais e ir à busca de novo vestuário. Entrei em imensas lojas, mas nada me cativou para comprar. Nada me fez sentir que a roupa me ia ficar favorável. Ninguém me fez gastar dinheiro em roupa desnecessária. Se bem que é o que os empregados das lojas, adoram meter-se com os cidadãos, a perguntar se querem gastar o seu dinheiro em roupa péssima.
Cheguei ao hotel, perto das cinco e trinta, da tarde. Não tinha nada para fazer. Estava completamente sozinho, sem ninguém para falar, para dialogar, nem um simples olá. Apenas falava comigo mesmo e, mesmo assim, enervo-me por estar sempre a pensar do mesmo que é imensamente secante. A verdade é que, mais vale sozinho do que mal acompanhado.
Todos têm problemas que nos fazem pensar que correu mal e não tem solução, mas, no fundo, existe sempre solução para todos os tipos de problemas. O problema é que a minha pessoa pensa sempre que nunca há maneira de resolver determinados problemas. É o meu feitio, sei perfeitamente que o tenho de mudar, mas torna-se completamente ridículo, desnecessário e impossível para o meu cérebro. Nasci assim, claramente que vou morrer assim, também.
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The Card
ActionKeller está à procura da carta que falta para terminar o que não acabou. O rapaz de 19 anos de idade terá de enfrentar alguns desafios para chegar ao destino. Como vai fazer? Descobre tudo em "The Card".