Linhagens - Rage

Capítulo 1

-Eu já disse que ele não é um perigo pra mim!

-Sério? O que ele pretendia quando mandou sua cozinha pelos ares? Descobrir o quão rápido você pode morrer em uma explosão?

Amy se encolheu quando as memórias daquela manhã invadiu sua mente, tudo o que conseguiu processar naquele momento foi o barulho da explosão. Ela sempre fazia seu café da manhã durante suas folgas, assim como estava acostumada a acordar cedo, Marcus conhecia sua rotina melhor do que ela mesma e isso só facilitava seus planos.

-Já é o suficiente.

Uma voz trovejou em algum lugar atrás dela, Wendell olhou através do corpo pequeno da irmã para encontrar o espécime alguns passos de distância. Não foi esse quem tinha visto, o outro era menor e menos intimidante também.

-Sr. Castillo, sou Rage, Laurent me mandou no lugar de Thunder.

-Essa é Amy, minha irmã.

Ela estava irritada e saiu da cozinha sem olhar para o homem que apareceu, seria loucura admitir que todo o seu corpo esquentou apenas com a voz dele, então um pouco de distância faria bem ou apenas daria tempo para que se acalmasse. Rage levantou uma sobrancelha quando viu a pequena mulher marchar para fora do lugar como se estivesse correndo do próprio Diabo, teria uma boa desculpa se tivesse visto ele, mas ela sequer o olhou.

-Amy vai se acalmar, só precisa de alguns minutos sozinha. O que houve com o outro linhagem?

-Sua companheira está grávida, nós não separamos os casais quando isso acontece, o macho tende a ficar agressivo.

-Bom, dê os parabéns a ele, ser pai é uma dádiva. Agradeço por ter vindo, Laurent não quis aceitar nenhum pagamento, está tudo bem por você?

-Não estou aqui por dinheiro Sr. Castillo, temos princípios de nunca machucar uma fêmea e muitas humanas correm para Land quando precisam de ajuda, é apenas o modo como lidamos com as coisas.

-Obrigado mesmo assim, Amy é muito condescendente com as ameaças que tem recebido.

-Laurent me passou os dados, é um tanto preocupante que um homem apenas seja capaz de passar por toda a sua segurança.

-Marcus conhecia a rotina da equipe, de todos os que trabalhavam com Amy e até dela mesma e não importa quantas vezes nós mudemos, parece que ele sempre está um passo a frente.

-Não mais, preciso de tour pela casa e acesso total aos dados de segurança, além de sua palavra de que toda a equipe obedecerá minha ordens.

-Pensei que você cuidaria apenas da segurança pessoal.

-É isso que estou fazendo. Sr. Castillo, posso ser mais rápido e mais forte, mas estou longe de ser imortal, a melhor maneira de garantir que ela esteja segura caso algo aconteça comigo é que a equipe de segurança reconheça meus comandos e entenda os códigos.

-Você parece saber do que está falando.

-Eu sei, fui criado para isso.

Wendell mordeu a língua pensando se deveria corrigir o espécime, ele com certeza não queria ter dito "criado", como se fosse mais um modelo de uma linha de aparelhos eletrônicos, mas algo na expressão dele fez o humano achar que não houve troca de palavras. O restante do dia foi um inferno, Rage teve que refazer todo o sistema de câmeras, reorganizar a rotina e percurso dos seguranças além de decretar que nenhum deles entraria na casa.

-Por que? - Wendell perguntou desconfiado.

-Muitos cheiros me confundem, se eles tiverem acesso ao interior da casa vou ser incapaz de pegar um aroma desconhecido e essa pode ser a melhor carta que temos agora. Pedirei a Srt. Castillo que faça uma lista das pessoas que vem com frequência, assim posso diferenciar elas de um provável invasor.

Ele concordou a contragosto antes de precisar ir embora, tinha que voltar para casa ou Belle o enlouqueceria. Rage observou em silêncio enquanto a equipe fazia as alterações que havia pedido. Podia ouvir os passos de Amy perto da piscina, além do seu cheiro, ele quase não conseguiu controlar o impulso de agarrá-la quando o perfume dela o invadiu, era sua companheira e ele não poderia estar mais feliz do que nesse momento. A noite chegou antes que ele pudesse ter uma oportunidade de falar com ela, mas o cheiro delicioso de comida invadiu seu cérebro e caminhou até a cozinha sabendo quem cantarolava a música animada.

-Você cozinha tão bem quanto canta - ele comentou.

-Porcaria!

O grito agudo e o pequeno pulo o fez sorrir, ela sequer tinha o notado chegar no cômodo. Amy virou na direção da voz, pronta para brigar com o homem que a assustou, mas todos os pensamentos sumiram da mente dela quando olhou para o linhagem. Ela nunca vira alguém tão alto, nem tão forte, mas isso ficou em segundo plano quando focou nos olhos dele, era de um cinza enevoado e podia apostar que com a luz certa ficariam bem perto de um azul claro e, se todo o pacote não a fizera quase cair aos pés dele, a covinha que apareceu por conta do sorriso terminou de derrubá-la.

-Puta merda!

-Estou começando a achar que seu vocabulário seria reprovado pela igreja.

-Quem é você?

-Sou Rage, você já me viu, ou ouviu, mais cedo.

-Ok, hã... desculpe ter sido grosseira, meu irmão me tira do sério.

Rage inalou, não pegou nada parecido com medo vindo dela, isso o acalmou e o fez rir assim que lembrou das palavras de Kat.

-Tenho algo em meu rosto? - Amy perguntou confusa.

-Não, é só que você acaba de me fazer perder uma aposta.

-Eu fiz?

-Ficou com medo de mim?

-Não, quer dizer, você me assustou e é alto e forte como um maldito gigante, mas não fiquei com medo.

-Minha cunhada apostou que você não teria medo, eu apostei que sim, agora eu estou devendo um domingo em família.

-Por que apostaria nisso?

-Depois de ver pessoas gritarem e correrem na direção oposta, é normal para mim.

-Bem, deve ser porque elas não olharam para os seus olhos, você tem um olhar tranquilo.

Rage levantou uma sobrancelha, ninguém nunca havia dito que ele tinha um olhar tranquilo, e muito menos quando estava mentalmente fodendo as curvas da mulher a sua frente, por toda a visão perfeita que ela era.

-Sou Amy, a propósito. 

-É um prazer conhecê-la.

-Está com fome? Estou fazendo bile à milanesa.

-Faminto. Posso ajudar em alguma coisa?

-Vinho seria uma boa, nunca consigo abrir as malditas garrafas.

Ele serviu uma taça do vinho tinto para ela e observou. Amy trabalhava com graciosidade na cozinha, parando de vez em quando para tomar um gole do liquido vermelho. A morena estava descalça enquanto dava suas voltas pelo lugar.

-Você não bebe? - ela perguntou quando percebeu que ele não havia se servido.

-Raramente, mas sempre acompanhado por algo sólido.

-Faz sentido. Já que você será minha sombra por tempo indeterminado, acho justo que ambos fiquem a vontade, estou de férias da minha turnê e só voltarei em três meses, você vai acabar percebendo que meus dias são bem entediantes.

-As vezes, o entediante é uma coisa boa.

-Se você diz... O jantar está pronto.