Lia

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Quando me dei conta era o motorista do Uber me chamando.Voltei para realidade como em uma freada brusca,meio desorientada e com muita dor de cabeça, percebi que já tinha chegada na faculdade.Desci do carro e fui caminhando até meu bloco,tentando me concentrar apenas em colocar um pé na frente do outro sem cair ou ser atropelada.

Finalmente depois de muito esforço para me manter centrada cheguei a minha sala e me deixei levar pela batida suave da musica que invadia minha alma, "You know some days you feel so good in your own skin; But it's okay if you wanna change the body that you came in; 'Cause you look greatest when you feel like a damn queen; We're all just playing a game in a way; trying to win at life."

De repente um barulho surdo chamou minha atenção.No começo achei que fosse a professora que tinha chegado,mas percebi que a sala estava vazia e a unica alma viva que estava ali era um aluno de outra turma.Sua expressão estava com um ar de incredulidade e de brincadeira,seu olhar estava fixo na porta trancada.Quando me dei conta do que estava acontecendo,subiu um nó na minha garganta.A maçaneta da porta estava no chão e  a porta estava emperrada,pois só abria por fora.

Tirei os fones de ouvido e fui em direção a porta, ele estava quase se mijando de tanto rir, um som bizarro e irritante que ecoava pela sala e latejava na minha cabeça.Não consegui pensar em mais nada, a não ser em como iria sair dali,ou quanto tempo ia demorar,ou se ia dar tempo de chegar em casa,e se não desse tempo o que iria fazer,não podia ficar pra lá nem ficar em casa porque lá ele me encontraria e se ele me encontrasse seria o fim para ...

As lagrimas brotaram novamente,mas dessa vez estava cheio de desespero e angustia,minha respiração ficou mais pesada,o ar quase não circulava em meu corpo,meus braços  ficaram dormentes e a unica coisa em que eu pensava era no tempo.

Começei a controlar minha respiração,pois sabia onde isso pode dar, sabia que se não para-se agora poderia acabar no hospital de novo,por causa das crises de panico. Repeti para mim mesma: sobe 5, segura 5, desce 5, segura 5 e começa de novo...Repeti isso algumas vezes até que a unica coisa que sobrara foi um choro sentido e silencioso.

O rapaz começou a se explicar,acho que seu nome é Lorenzo ou algo assim.Seu rosto é um misto de indignação por meu desespero e ironia pela situação.

_ Olha,eu posso explicar._ Sua face estava vermelha de tanta vontade de rir,seu desdém é nítido e não consigo acreditar em uma só palavra._É que...Bom  a porta sabe... Eu sem querer acabei batendo muito forte, sabe como são as coisas velhas né... Elas quebram. 

Eu não respondi,nem se quer me dei ao trabalho de erguer meu olhar.Meu silencio o deixou desconcertado, andando de um lado para o outo, impaciente com minha melancolia.A cada passo que ele da, sinto sua raiva aumentar.Ele parou bruscamente e disse:

_O que aconteceu para você ficar agindo desse jeito?! Foi só a porra da porta que emperrou, parece até que vai tirar o pai da forca._Ele deu uma pausa com riso irônico._Você está agindo como uma louca mal amada.Quem foi que te deu um pé na bunda e não te ligou mais?!

A raiva subiu minha cabeça.Quem ele pensa que é para falar assim  comigo, como se eu fosse mais uma garota mimada que faz drama por qualquer namorico ou por uma unha quebrada.Ele não me conhece, não pode falar essas merdas para mim,muito menos gritar comigo daquele jeito, não sou suas " raparigas" que aceita ser tratada assim, como se não tivesse sentimentos ou que não passa-se por problemas de verdade, justo agora que o que mais tenho é problema.

Passei a mão no rosto para secar as lágrimas e tentar me recompor, mas ele esta com um sorrisinho sínico mexendo no celular como se nada tivesse acontecido. Meu coração começou a bater mais rápido  e minhas veias saltaram e quando me dei conta minha mão estalou em seu rosto, deixando-o paralisado por alguns segundos.

_QUE PORRA É ESSA?!FICOU LOUCA DE VEZ?

_Quer saber o que está acontecendo?Então assim seja.Você não tem o direito de me atacar com suas baboseiras idiotas.Você não sabe o que está acontecendo e nunca irá saber.Sabe por que? Porque você é um babaca que todos puxam saco para aproveitar os benefícios, e ainda fica se gabando de como todos gostam de você_Engrossei a voz para parecer com a dele._"Minha nossa, cara como sou tão sortudo assim?Todos me amam, todos me querem, o momento mais difícil da minha vida foi decidir entre  ir para a faculdade ou aceitar o emprego na empresa do papai.Me façam o rei dos meros mortais porque eu sou o CARA!". Mas sabe de uma coisa,eu tenho pena de você.Você é só um rapaz que se preocupa tanto em ser popular e em agradar os outros, que se esqueceu de quem realmente  é ,se perdeu em tantas máscaras que agora não sabe qual é sua essência  de verdade. Você não passa de uma pessoa de alma podre, alguém que se for parar para analisar, não passa de um saco de esterco ,querendo se passar por pedras valiosas.

Minha boca ficou seca depois de todo esse discurso.Fiquei esperando uma reação imediata dele,mas  ao invés disso ele caminhou até minha direção,seus olhos estavam cheios de raiva e seus punhos estavam cerrados como se fosse me bater.Me encolhi esperando a dor chegar,mas ela não veio.

 Ele simplesmente desmontou sua armadura e ficou analisando a situação,seus ombros relaxaram e a raiva em seus olhos abriu espaço para tristeza.Ele se afastou de mim e foi em direção a parede, Sua mente estava em outro lugar,quase dava para ver seu coração sangrar,percebi então que passei dos limites e que errei jogando tudo em cima dele.Comecei a sentir raiva de mim mesmo, eu não podia ter feito isso,não devia ter descontado nele,como pudi ser tão idiota e estupida.

_Eu sinto muito pelo que disse._Falei com um tom de arrependimento em minha voz._Não deveria ter jogado tudo em você.Não é sua culpa se minha vida esta na merda.Não tem justificativa para o que eu fiz,não devia ter estourado em cima de você.Não queria ter agido dessa maneira.

_Realmente não deveria mesmo._Sua voz era inaudível.

_Okay já me desculpei._Disse desapontada com aquela situação._ Vai continuar agindo dessa maneira?Afina,você também foi um babaca comigo.

Ele se virou para mim e disse com um tom frio que me arrepiou.

_Sabe, você disse que eu não tenho o direito de rotular você.Mas e você?_Ele fez uma pausa._Quem você pensa que é para me dizer tudo isso? Acusar-me de tanta merda?No fundo você é uma hipócrita,tanto quanto eu.Esse seu discurso de que ter te rotulado foi um erro de quem tem alma podre,mas você fez a mesma coisa.E ainda se aproveitou para descarregar suas mágoas sob mim.Claro, isso não justifica eu ter agido daquele jeito,mas e no seu caso?Melhorou alguma coisa ter dito tudo isso?_Ele fez outra pausa,mas desta vez mais demorada._Bom, acho que nós dois somos sacos de estercos se passando por pedras preciosas.

Suas palavras me atingiram como se fosse um soco na barriga,cogitei responder-lhe mas as palavras fugiram de mim.Depois disso não nos falamos mais,nós dois estávamos travando batalhas internas.

Um toque ecoou na sala,eu e Lorenzo nos olhamos sem saber de quem era, demorei um pouco para perceber que era o meu celular. Atendi e imediatamente senti um calafrio passar por minha coluna,minha respiração falhou por alguns segundos ao escutar aquela voz agitada.

Era a voz de minha mãe...



Un Biglieto con amoreOnde histórias criam vida. Descubra agora