O tempo cura

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    Aposto que já te disseram "o tempo cura". Foi difícil de acreditar, porque, quando você está sentindo dor, nada mais importa. No entanto, hoje percebi que eles estavam certos.
    Quando você ama alguém, você se entrega para essa pessoa e espera que seja pra sempre. Você cruza os dedos para que o destino goste de vocês dois juntos e os deixe ficar. Porém, até mesmo para o senso comum, a vida não é um conto de fadas.
    Na vida, nós nos machucamos.  Na vida, o príncipe não salva a princesa, porque, infelizmente, é ele quem traz os maiores machucados. Na vida, as flores mais belas enfeitam a morte.
    Era uma tarde de verão, e eu não estava esperando, quando o conheci. Existe essa coisa engraçada sobre o amor, que nenhum PhD saberia explicar: ele faz dois virarem um. E fomos o "nós" mais bonito que você poderia imaginar.
    O que ninguém conta quando você cresce é que, a partir do momento em que se apaixona por alguém, e essa pessoa se encaixa em você, parte sua já não existe mais.
   Com o passar tempo não é mais a série que você quer assistir na Netflix, mas sim a série que vocês gostam de assistir juntos. E, depois de alguns meses, não é possível convidar somente Juliana para uma festa, é o casal que recebe o convite.
   Eu sei que você deve estar pensando "qual é o problema de virar um com quem você ama?", já que, na época, eu também não vi problema algum. No entanto, o que nós esquecemos é que antes de sermos "nós", éramos você e eu, e em algum momento essas duas pessoas, completamente distintas, vão aparecer.
   O tempo de ouro acaba, e vocês começam brigar. Não importa se leva três meses, ou um ano, vocês vão brigar. Nesse momento, o destino está testando quem é forte o suficiente para ficar. E, quando passam no teste, é uma linda história. Roteiro de filme hollywoodiano, conto  Shakespeariano.
    Porém, e quando o "nós" enfraquece? O que acontece quando vocês brigam tanto, que voltam a ser duas pessoas completamente diferentes? É aí que o verdadeiro enredo começa. É quando você se vê destruída, deitada numa cama ao lado de todas as fotos que tiraram juntos, que alguém te liga e diz: "não se preocupe, o tempo cura".
   Deus, como eu odeio esse momento! Ele te deixa, mas como se não bastasse, ainda leva um pouco de você. De repente você não sabe mais como ser você, porque passou tempo demais sendo "nós".
   Em certo ponto, você cansa. Cansa de "o tempo cura" e se acata ao "siga em frente". Veste um salto 15, passa um batom vermelho e força-se a sair. Enterra seu luto, deleta as músicas que ele amava e apaixona-se por um novo gênero literário.
    Ainda dói? É claro que sim! Mas isso não te impede de se refazer. Depois de um tempo, é automático. Você voltou a assistir as suas séries, a tomar café sem leite e a dançar seu próprio ritmo.
    E então, é inverno. O frio não te incomoda mais, porque você aprendeu a se esquentar. O amor ensina, mas a desilusão transforma. E aí você olha para as antigas fotos e reage com um suspiro de alívio, pois a garota que fez parte do "nós" não existe mais.
    A ironia da vida é que, exatamente nesse ponto, você não está procurando. Então aparece um sorriso de canto, um par de olhos castanhos e uma voz grossa que te faz rir por uma noite inteira. E ele entra sem pedir licença, fazendo do seu coração, morada.
     E agora você pensa "que seja para sempre", e talvez não seja. Lógico, pode ser que seu desejo se realize, mas não importa. Você já não tem medo, afinal, sempre poderá se reaprender. Amor é um sentimento lindo, desilusão é um preço pequeno a se pagar.
     O segredo dos melhores amantes é este: voe alto. Se jogue no seu novo amor, não desperdice nenhum segundo. Deixe-se viver, apaixone-se novamente. Não asseguro que dessa vez dê certo, porém, em caso de queda, é simples: o tempo cura.

Poeta de Cafeteria Onde histórias criam vida. Descubra agora