5.

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No dia seguinte, fui a primeira a chegar na escola e sentei no banco de entrada, não queria, por nada no mundo inteiro, perder Raul voltando. Cada segundo custou uma eternidade e cada grupo de lalulis que entrava eu levantava desesperada procurando por ele. Até que ele entrou na escola, lindo com sua jaqueta de couro verde escuro e seus olhos cor de mel. Eu levantei e corri em sua direção. Eu o abracei forte, estava feliz e aliviada. Ele empurrou meu corpo para longe dele e me encarou magoado. Por um instante achei que podia morrer com aquele desprezo, meu coração paralisou naquele instante.

— Mas que droga! — Ele me puxou de volta em sua direção. — Que se dane! — ele disse sorrindo de lado para mim e depois me beijou com intensidade. Senti seu beijo aquecer todo meu corpo.

Depois do beijo, ele me abraçou forte.

— Você me perdoa? — perguntei emocionada.

— Não tem por quê... — ele falou sorrindo.

— Você quase morreu — falei com a voz embargada.

— Mas sobrevivi por sua causa — ele disse sorrindo.

— Como assim? — perguntei curiosa.

— Eu estava mal, mas ouvi tudo que me disse ali — ele disse apontando para aquele banco que ele tinha passado mal.

— O que ouviu? — perguntei.

— Que você me ama... — ele disse sorrindo.

— Que bom que acreditou e está aqui — disse emocionada.

— Valia o risco acreditar, se fosse para te beijar mais uma vez — ele disse e me puxou mais uma vez para perto dele. — Você está certa mesmo disso? — ele me perguntou falando baixo ao meu ouvido.

— Só tenho certeza disso — respondi sorrindo.

— E seus pais? — Ele pareceu preocupado.

— Eles vão ter que aceitar que serei feito a tia Melina — falei sorrindo.

— Quem é tia Melina? — ele perguntou sem entender minha brincadeira.

— Uma tia minha que largou tudo e... — não completei a frase.

— E se casou com um laluli? — ele supôs magoado.

— Isso.

Ele suspirou fundo e apertou forte meus ombros.

— Teremos um ao outro.

— E todo amor do mundo — disse confiante.

Na escola pude notar que todos falavam sobre nós. Os lalulis nos tratavam de um jeito estranho, como se não batêssemos bem, e os braites nos ignoravam, alguns até faziam pior e nos desprezavam. Estávamos muito orgulhosos de nosso amor e sentíamos que podíamos suportar tudo. Nos isolávamos do mundo à nossa volta e buscávamos refúgio no nosso amor. Tentávamos fingir que não nos abalava, mas a verdade é que doía toda aquela falta de compaixão que sentíamos na pele. Era muito difícil, estávamos completamente deslocados do mundo à nossa volta e aquilo parecia a prova que nosso amor tinha que passar para sobreviver. Em casa, também sofremos, cada um a sua dose de dor e ironia. Mamãe me olhava magoada como se eu tivesse jogado fora minha vida, me acusava ainda de enfraquecer a magia da nossa família. Meu pai se calou e passou a me evitar, como se apenas de me ver ele se machucasse. Eu podia sentir que causava mal a eles em meu espírito. E como doía dentro de mim a dor que lhes causava. Eu buscava ser forte, dizia para mim mesma que tinha que viver minha vida, meu amor, minha vida, mas muitas vezes ficava de lado, chorando quieta e culpando a mim pela infelicidade de minha família. Raul me contava que também enfrentava o julgamento pesado de sua família que não via em mim qualquer esperança de tornar seu filho feliz e dizia a ele que um dia eu o largaria.

#ACREDITE (VENCEDOR DO #THEWATTYS2018)Onde histórias criam vida. Descubra agora