7.

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A todo tempo, eu pensava nos meus pais. A verdade é que a ausência deles me deixava triste demais. Eu os amava. Apesar de eu querer vê-los todos os dias, eu sabia da regra de separação entre lalulis e braites, eu também sabia que precisavam se recompor do golpe que eu lhes dei, e, além disso, eu sabia que a minha presença sugava sua energia e que se eles se entregassem, teriam, como eu, poderes de um laluli, o que eu não sabia era que minha saída de casa não tinha amenizado em nada o clima lá em casa, aliás, longe disso.

Eu estava sozinha na estação, esperando o trem de volta para casa. Raul já tinha ido para casa, pois sua aula tinha terminado mais cedo. Eu tive a sensação que alguém me espiava de trás de uma larga coluna. Olhei para trás, mas não vi nada. Senti um aperto forte no meu coração e imediatamente lembrei do meu pai. Alguma coisa tomou conta de mim. Saí correndo em direção à coluna. Eu fiquei em choque, não podia acreditar no que via.

— Mãe! — gritei assustada vendo seu rosto magro e envelhecido, as maças do rosto saltavam da pele tamanha sua magreza. Sagrada magia, o que aconteceu? — perguntei a abraçando.

Minha mãe desabou em meus braços chorando. Eu a abracei forte e a levei para um banco que tinha perto. Continuei a abraçando por alguns instantes para acalmá-la. Eu senti que meu abraço a acalmou e devolveu cor ao seu rosto.

— Mamãe, eu senti tanto sua falta! — falei sorrindo.

— Eu também — minha mãe falou emocionada.

— Mas o que aconteceu com você, mãe. Me conte tudo! — falei imaginando que alguma desgraça deveria ter acontecido com ela ou papai.

— Eu não devia estar aqui — ela falou olhando para baixo sem jeito.

— Mamãe, você pode me ver sempre — falei, ignorando de propósito o princípio idiota de que alguém com energia laluli enfraquecia a braite.

— Você sabe... — ela se explicou sem jeito.

— Eu sei — respondi contrariada.

—É que eu preciso, eu — a voz estava embargada e falhava.

—Fale mamãe! — gritei nervosa.

—Pam, — ela segurou em minhas mãos — seu pai está morrendo — ela disse de uma vez.

— O quê ? — gritei atordoada.

— Filha, me escute — ela falou segurando meu rosto com as mãos — não é sua culpa — ela disse olhando para baixo — mas ele não está conseguindo lutar, é muito forte, ele está se entregando.

Meu corpo desabou no chão.

— Meu pai não! Meu pai não! — eu gritava desesperada. — Papai não!!

Foi a vez de mamãe me acolher. Ela se ajoelhou ao meu lado e me abraçou forte.

—Vem para casa comigo, Pam! Vem para casa comigo! Por favor! — ela implorou chorando.

Não pensei duas vezes e saí correndo com a minha mãe dali.

Eu estava desesperada demais ainda assim era impossível não reparar no julgamento de todos aqueles braites no bonde voador como se eu fosse totalmente imbecil, eles me julgavam por eu não ser mais como eles. Minha mãe olhava para o chão desolada, porém ela estava indiferente àqueles olhares. Eu percebi que o risco de vida do meu pai tinha feito com que mamãe percebesse como as regras de convivência de braites e lalulis eram pura baboseira, foram elas que me afastaram de minha família e deixaram meu pai e minha mãe em frangalhos.

Assim que o bonde voador parou na porta de casa, corri pelos corredores.

— Pai, pai? — perguntei na esperança que ele respondesse.

#ACREDITE (VENCEDOR DO #THEWATTYS2018)Onde histórias criam vida. Descubra agora