A explosão

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Catarina tinha acabado de chegar ao castelo de Montemor e se instalava nos seus aposentos. Estava de noite e a sua coroação como rainha de Artena aconteceria na manhã seguinte. Mesmo contrariado, Afonso ia coroa-la na frente do reino inteiro. A filha de Augusto deveria estar explodindo de felicidade, no entanto, algo a incomodava.
- Delano já deu notícias sobre os explosivos, Lucíola?
- Ele já está com tudo pronto, Vossa Alteza. Falta apenas a sua ordem para instala-los na mina.
Nesse momento, Catarina fica cabisbaixa, parecia não ter certeza do que estava fazendo.
- Está tudo bem, alteza?
- Eu, eu... Não sei se devo tomar essa atitude. Delano disse que não poderia calcular os estragos da explosão.
- É um risco que vossa alteza disse que estava disposta a correr.
- Não sei mais, Lucíola. Desejo muito que Afonso desista do casamento com a plebeia, mas o povo não deveria pagar por isso.
- Achei que toda a sua preocupação com eles era apenas parte do plano  para permanecer no trono.
- No início era, Lucíola. Mas algo me fez criar um afeto por estas pessoas, elas me veneram tanto.
- Se vossa majestade não explodir a mina, nada impedirá que Afonso se case com Amália.
Nesse momento, Virgílio, que tinha entrado escondido no castelo para conversar com Otávio, para diante do quarto da princesa de Artena e ouve a conversa.
- Posso estragar este casamento de outra maneira, eu sempre dou um jeito, não é?
- Disso não tenho dúvidas, a senhora é a mulher mais inteligente que eu tive o prazer de conhecer.
- Pois bem, diga a Delano que cancele o plano. Não posso ferir vários inocentes. Apesar de tudo, quero o bem de Montemor e Artena!
Lucíola obedece a ordem de sua patroa e vai ao encontro de Delano, sendo seguida por Virgílio.
- A princesa Catarina ordenou que cancele a explosão da mina, Delano.
- Mas por que? Assim, em cima da hora?
- Não questione, ela tem outros planos, apenas cumpra a ordem.
- Certo, Lucíola. Irei devolver os explosivos.
Lucíola sai e Delano começa a recolher os dispositivos. No entanto, Virgílio aparece neste instante e acerta a cabeça do capanga com uma tábua, que cai no chão, desacordado.
- Se Catarina não é capaz de explodir uma simples mina, terei que fazer isso sozinho. Não posso permitir que Amália se case com aquele capacho em forma de rei, esse casamento não vai acontecer.
Virgílio, então, implanta os explosivos em vários locais da mina e carrega Delano para fora do local, antes dos trabalhadores chegarem lá na manhã seguinte.
      O dia amanhece e a coroação se aproximava, Catarina se arruma para o evento e veste um belo vestido preto, sob os cuidados de Luciola, até que alguém bate na porta.
- Mas quem será? Dispense, Lucíola. Preciso me concentrar na minha coroação.
Lucíola abre a porta e Afonso entra no aposento. Ele podia ter pedido permissão para entrar, mas pelo visto se sentia íntimo o bastante para invadir o quarto de uma futura rainha.
- Afonso? O que faz aqui?
- Catarina! Eu, eu...
Afonso ficou impressionado com o vestido novo de Catarina, seus olhos se fixaram em toda a beleza da futura rainha de Artena, que percebeu a admiração.
- Gostou do meu vestido, Vossa Majestade?
- É de fato deslumbrante. - disse, ainda desconcentrado. - Vim lhe buscar para a cerimônia, o conselheiro da fé já vos aguarda.
- Já estou indo. Mas diga-me, era realmente necessário o rei cumprir o papel de mensageiro?
- Não havia nenhum disponível no momento e precisamos começar o quanto antes.
- Uma coroação de tamanha importância e cabe ao rei o trabalho de vir aos meus aposentos?
Afonso fica sem graça e tenta fugir da pergunta.
- Apenas se apresse, Catarina. - disse, saindo do quarto rapidamente.
Lucíola fecha a porta e olha para Catarina, até que as duas caem no riso.
- O rei parecia nervoso diante de Vossa Alteza.
- Achei que só eu tinha notado isso, Lucíola.
- Mas também, não há como não notar vossa beleza.
- Afonso ainda verá que eu sou a mulher ideal para reinar ao lado dele. Pode ter certeza disso!
      Chega o momento da coroação, Catarina aparece deslumbrante para a recepção com os nobres da Cália e faz um discurso.
- Ao mesmo tempo em que esta celebração deve ser festejada por todos de Artena... ela é, para mim, um momento muito doloroso. Pois colocar a coroa de Artena em minha cabeça significa reconhecer a morte de meu querido pai. Mas serei forte e rezarei para que meu pai, onde quer que ele se encontre, zele por mim e pelo futuro de nosso reino.
Depois, Catarina se dirige para o pátio do castelo enquanto o povo a ovaciona aos gritos de "Deus Salve a Rainha". Amália, que está ao lado de Afonso, se incomoda.
- Não sei porque o povo venera tanto essa mulher.
- Ela já fez muitas coisas por eles, Amália. É compreensível que eles a amem!
- E eu não fiz? Lutei muito para que você retornasse ao trono, enquanto Catarina via o reino sendo destruído por Rodolfo.
- Não se esqueça que Catarina teve um papel fundamental na minha volta ao trono, se ela não tivesse me ajudado na pedreira, nada disso seria possível.
- Você está a defendendo?
- Não é questão de defender, meu amor. Mas se concentre na cerimônia, não dê o que falar ao povo.
Amália fica furiosa com o futuro marido, mas se cala e observa Catarina sendo coroada.
- Com um documento por mim firmado como rei de Montemor, declaro hoje a independência de Artena! E consagro Catarina de Lurton rainha do reino. - anuncia Afonso.
O conselheiro da fé, então, coroa Catarina, que é aplaudida cada vez mais pelo povo. Afonso se aproxima da rainha.
- Que deus abençoe o vosso reinado.
Os dois se olham intensamente, naquele momento parecia que só havia os dois no local. Nesse instante, uma explosão acontece na mina do reino e o estrondo é ouvido por todos, que se desesperam.
- O que foi isso, Romero? Um terremoto? - questiona o rei.
- Creio que não Vossa Majestade, mas vamos verificar.
Catarina se desespera e arrasta Lucíola para um canto do castelo e sussurra para a dama de companhia:
- Lucíola, eu disse para cancelar a explosão, você enlouqueceu?
- Eu fiz o que vossa alteza ordenou! Avisei a Delano para levar os explosivos para bem longe.
- Então aquele incompetente não cumpriu a ordem. A mina explodiu! - diz Catarina, preocupada com o acontecimento.
- Eu peço que se acalmem e permaneçam no pátio até descobrirmos o que houve. - diz Afonso, tentando acalmar os moradores de Montemor.
- É um terremoto, corram! - grita um habitante local, causando um tumulto. Todos correm e gritam desesperados.
- esperem, se acalmem! Não vamos resolver nada assim. - diz Afonso, sendo ignorado pelos súditos. Catarina se aproxima do rei.
- Afonso, o povo está desesperado, você precisa descobrir o que aconteceu.
- Farei isso, Catarina.
Nesse momento, os nobres correm desesperados para dentro do castelo e um deles acaba esbarrando em Catarina, que desequilibra e cai, sendo amparada por Afonso e deixando a coroa sair de sua cabeça.
- Catarina! Você está bem? - disse o rei, visivelmente preocupado.
- Por pouco não estaria, muito obrigada! - responde Catarina, enquanto sorri satisfeita por Afonso a ter segurado em seus braços.
Os dois soberanos de Montemor e Artena se olham fixamente, enquanto são observados por Amália, que mesmo com toda aquela confusão, se irrita com a cena presenciada.

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