Você mudou-me.

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Quando não pude gritar,começei a escrever.

Quem sabe aí,as pessoas se interessariam por ouvir-me? 
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A você,cujo,o homem que mudou minha vida de forma drástica.

Dedico-te essa obra e espero,verdadeiramente,que o leia.

Pois será a última vez que tocarei nesse doloroso assunto. 

 Naquele quarto,maldito,quarto você transformou-me de uma maneira da qual,jamais,pensei em transformar-me.

Mas você conseguiu.

Você conseguiu quando pegou-me a força,arrastou-me pelos cabelos e trancou a porta.

Você conseguiu quando tapou-me a boca,sufocou-me o grito e apertou meus braços.

 

Você conseguiu quando fez-me sufocar o choro,engolir o grito e colocar o sorriso.

Você conseguiu quando despiu-me a alma,os sonhos e a chama que ameava vitalícia de meu âmago.

Você apagou-me a vela em um,sutil,sopro.

Você trasformou-me,fez-me tirar a veste de menina sonhadora e obrigou-me a colocar a armadura.Enquanto que naquele ato em que seu suor passava para meu corpo até chegar ao lençol.

Você mudou-me.

Fez-me tirar a venda e me fez deparar-me com o mundo cruel em preto e cinza,pois aquele mundo colorido não existe mais.

Você mudou-me.

Quando em um canto frio do banheiro eu chorei,sufoquei o grito em meio aos meus joelhos e quando a tua filha bateu a porta soltei um "Não é nada,eu estou bem minha prima."

Tua filha,pobre menina que não sabe quem é o pai.

 

Você fez-me tranformar em um ser hostil,selvagem.

Sabe,é complicado relacionar-me.    

 

Não há um dia do qual eu consiga conversar,sorrir ao deparar-me com o reflexo do qual vejo ao espelho.

Imunda.

Rótula-me,ronda-me a mente.

 

Culpada,suja,despedaçada define-me.

Não sei porque você fez isso,mas sei que a culpa foi minha,afinal,se eu não estivesse vestindo o vestido branco de renda na altura dos joelhos você não se sentira atentado.

Atraído.

Desculpe-me por não me portar de forma adequada quando decidi vesti-lo naquele domingo.

Mas vovô havia dado-me.

Hoje,depois de longos quatro anos em que as lâminas fazem-me companhia em momentos de desespero,ainda,não consigo lidar com a tua presença em minha morada.

Tua filha a abraço-lo.

Ou quando sou-me obrigada a toca-lo em aniversários.

Não quero,não o suporto,sinto um grande nojo por ti.

O repúdio.

Tanto quanto a mim mesma.

Confesso que não sei a quanto tempo mais irei suportar,carregar tamanho peso nos ombros.

Dor na alma e no corpo.

Quem sabe,cedo ou tarde eu crie coragem e delize a lâmina por mim,uma última vez?

Não sei.

Só sei que apesar do tempo recorrente,ainda sim,não consigo compreender o porquê de destruir-me.

O que fiz a ti?

Diga-me,por favor,exclaresa-me.

É difícil vê-lo sorrir-me nos dias de natal ou nos de Ano Novo em que tu beija minha tia e da colo a tua filha mais nova,hoje,com dez meses apenas.

Quando minha prima abraça-me e diz-me o quão importante sou para a família e você conssente a deslizar uma de suas mãos em meu corpo por debaixo da mesa e eu...

Com um sorriso gentil ao rosto.

Agradeço,mesmo que sangrando por dentro.

Só espero que quando eu me for tu pare,pense e caia em si.

 Quando sentir novamente o desejo visceral de possuir uma mulher, lembra da sua filha. 

Monstro

             

  

  

   

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⏰ Última atualização: Jun 19, 2018 ⏰

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