Introdução

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  Vivemos o nosso quotidiano sem entendermos quase nada do mundo. Refletimos pouco sobre o mecanismo que gera a luz solar e que torna a vida possível, sobre agravidade que nos cola a uma Terra que, de outro modo, nos projetaria girando para o espaço, ou sobre os átomos de que somos feitos e de cuja estabilidade dependemos fundamentalmente. Excetuando as crianças (que não sabem o suficiente para não fazerem as perguntas importantes), poucos de nós dedicamos algum tempo a indagar por que é que a natureza é assim; de onde veio o cosmos ou se sempre aqui esteve; se um dia o tempo fluirá ao contrário e se os efeitos irão preceder as causas; ou se haverá limites definidos para o conhecimento humano. Há crianças, e conheci algumas, que querem saber qual é o aspecto dos"buracos negros"; qual é o mais pequeno pedaço de matéria; por que é que nós
lembramos do passado e não do futuro; como é que, se inicialmente havia o caos,hoje existe aparentemente a ordem; e por que há um Universo.
Ainda é habitual, na nossa sociedade, os pais e os professores responderem à maioria destas questões com um encolher de ombros, ou com um apelo apreceitos religiosos vagamente relembrados. Alguns sentem-se pouco à vontade com temas como estes, porque expressam vividamente as limitações da compreensão humana.Mas grande parte da filosofia e da ciência tem evoluído através de tais demandas. Um número crescente de adultos quer responder a questões desta natureza e, ocasionalmente, obtém respostas surpreendentes. Eqüidistantes dos átomos e das Estrêlas, estamos a expandir os nossos horizontes de exploraçãopara abrangermos tanto o infinitamente pequeno como o infinitamente grande.Na Primavera de 1974, cerca de dois anos antes da nave espacial Viking ter descido na superfície de Marte, eu estava em Inglaterra numa reunião patrocinada pela Royal Society of London para discutir a questão de como procurar vida extraterrestre. Durante um intervalo para o café reparei que estava a decorrer uma reunião muito maior num salão adjacente, onde entrei por curiosidade. Em breve percebi que estava a assistir a uma cerimônia antiga, a investidura de novos membros da Royal Society, uma das organizações acadêmicas mais antigas do planeta. Na fila da frente, um jovem numa cadeirade rodas estava a assinar muito lentamente o seu nome num livro que continha nas primeiras páginas a assinatura de Isaac Newton. Quando finalmente terminou, houve uma ovação estrondosa. Já então Stephen Hawking era uma lenda.
Hawking é atualmente o Professor Lucasiano (2) de Matemáticas na Universidade de Cambridge, lugar ocupado outrora por Newton e mais tarde por P. A. M. Dirac, dois famosos investigadores do infinitamente grande e do infinitamente pequeno. Ele é o seu sucessor de mérito. Este primeiro livro deHawking para não especialistas oferece aos leigos variadas informações. Tão interessante como o vasto conteúdo é a visão que fornece do pensamento doautor. Neste livro encontram-se revelações lúcidas nos domínios da física, daastronomia, da cosmologia e da coragem.__(2) Cátedra honorífica (*N. do R.*).__É também um livro sobre Deus... ou talvez sobre a ausência de Deus. A palavra Deus enche estas páginas. Hawking parte em demanda da resposta à famosa pergunta de Einstein sobre se Deus teve alguma escolha na Criação do Universo.
Hawking tenta, como explicitamente afirma, entender o pensamento de Deus. E isso torna a conclusão do seu esforço ainda mais inesperada, pelo menos até agora: um Universo sem limites no espaço, sem principio nem fim no tempo, e sem nada para um Criador fazer. 

Carl Sagan
Universidade de Cornell Ithaca,
Nova Iorque  

Uma Breve História do TempoWhere stories live. Discover now