Prólogo

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Estranhei quando entrei em nosso quarto e não a vi, deitada de lado em nossa cama como todas as noites. E eu nem deveria me surpreender, afinal nosso casamento naufragava e não havia mais volta. Eu me aproximei da cama e abri o envelope que estava sobre meu travesseiro, prendendo a respiração ao ver seu conteúdo. Mel se adiantou a mim, me concedendo o divórcio que já era uma realidade em nossas vidas há alguns meses. Tempoexato em que ela voltou às nossas vidas e destruiu tudo o que construí ao ladode Mel
 

Ainda segurando o envelope, eu sai o quarto e segui para o quarto de hóspedes onde sabia que ia encontra-la. Apenas a luz fraca do abajur iluminava o ambiente, e assim, eu percebi seu rosto manchado pelas lágrimas logo que me aproximei da cama.

Eu me sentei na poltrona, sentindo um aperto em meu peito. E não era uma sensação boa, muito pelo contrário. Definitivamente não era pena. Mel não era digna dela. Era uma mulher forte, batalhadora, honesta, íntegra, fiel. Eu não tinha adjetivos suficientes para descrevê-la. O que eu sentia era culpa. Uma horrível culpa que me corroía desde o momento em que Anika reapareceu em minha vida.

A loira Anika que foi minha paixão de adolescência e se estendeu até os vinte anos quando finalmente aceitei que nunca daria certo entre nós. A distância social que nos separava era grande demais. Então eu conheci Mel e acreditei que ela era tudo o que eu precisava para esquecer aquela estúpida paixão. E eu consegui. Acredito que amo a minha esposa. Mas eu realmente não acredito que se possa amar uma pessoa e ainda assim se apaixonar por outra... ou continuar apaixonado.

Mas isso aconteceu. Eu descobri que ainda sou loucamente apaixonado por Anika... e isso afundou meu casamento. Por isso eu segurava agora aqueles papeis do divórcio. Mel sabia que mais cedo ou mais tarde eu faria isso. Eu abandonaria meu casamento para viver a minha paixão interrompida anos atrás. Honestamente, era o certo a fazer. Mel não merecia uma traição. Não merecia um homem incompleto. Não merecia um homem como eu.

Suspirando eu me levantei da poltrona e olhei mais uma vez para o rosto triste da minha esposa.

—Perdoe-me.

Falei baixinho antes de sair e seguir para o quarto que fora nosso. Precisava tomar um banho... e seguir para meu encontro com Anika. Ela vinha me pressionando e tenho a certeza de que agora ficaria feliz em saber que eu estava livre. Livre para ela. O engraçado é que eu não me sentia tão livre assim.

Degustação - Livro Retirado Tardes de outono - Livro I - Coleção As 4 estaçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora