Capítulo 2

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Dezembro/2001

A decoração natalina pelas ruas de Fort Toment não atraía minha atenção. Na verdade, eu parecia meio anestesiado, sufocado, e por que não dizer... apavorado. A hipótese de rever Anika revirava minhas estranhas e eu sentia vontade de vomitar. Após me dar um belo chute na bunda, ela simplesmente sumiu. Saiu da cidade e pelos rumores estava morando em Nova York. Felizmente Ernest Ebner também estava cada vez mais ausente, dessa forma eu não precisava ver a desagradável carranca daquele desgraçado.

No começo eu pensei que fosse desmoronar e abandonar tudo, inclusive a faculdade. Porém, eu encontrei forças onde eu menos esperava. Naquele banco de praça... ou melhor, naquela garota. Mel.

Três meses atrás

Eu apertei meus olhos com força quando a forte claridade me invadiu. Ao mesmo tempo o cheiro de café me alcançou, revirando meu estômago. Rapidamente eu girei na cama, afinal não estava disposto a vomitar na cama e levar uma bronca da minha mãe. Mas, a primeira coisa que enxerguei ao abrir os olhos foram pés delicados com as unhas pintadas em um tom claro.

—Merda.

—Bom dia para você também, Daniel.

O susto me fez sentar na cama imediatamente e por um breve instante eu esqueci o mal-estar provocado pela ressaca e encarei a bela garota à minha frente.

Os cabelos escuros faziam um contraste impactante com a pele clara e os olhos intensamente azuis. A boca era pequena, assim como o nariz charmoso. Seus cílios eram longos, provavelmente resultante daquelas maquiagens estranhas. Entretanto todo o seu rosto parecia limpo, fresco, natural. Desci o olhar para o corpo pequeno e voluptuoso, coberto apenas por uma grande camisa do ACDC, deixando as coxas grossas e leitosas a mostra. Subi meu olhar novamente e a encontrei sorrindo cinicamente. Porra... ela era linda.

—Acabou a inspeção senhor Edgcomb?

Era a garota do parque? Só podia ser. Mas... eu estive tão bêbado que não percebi o quanto ela era bonita? Aquela não era uma beleza que podia simplesmente passar despercebida. Melanie. Mel. O nome veio à minha mente com uma facilidade tão impressionante que eu me perguntei se estive mesmo bêbado ou se foi apenas uma momentânea fuga da realidade que me deixou alheio a qualquer coisa que não fosse a dor.

—Me...Mel?

—Uau... você não esqueceu o meu nome? Bem que desconfiei que era um bêbado simpático.

Ela sorria brilhantemente e me ofereceu a xícara que segurava.

—Fiz para você. Pensei que talvez fosse precisar.

—Obrigado?

Soou mais como uma pergunta e ela riu, se afastando enquanto juntava os cabelos em um coque, deixando o pescoço delicado à mostra.

—Essa é sua casa?

—Sim. Você apagou de repente e irresponsavelmente não carregava nenhum documento. Eu não podia simplesmente deixa-lo la, não é?

—E como você me trouxe? Você não me parece tão forte assim.

Ela rolou os olhos e abriu uma gaveta de onde tirou uma camiseta. Abriu outra e pegou um short jeans.

— Um conhecido me ajudou a trazer você. Eu moro bem ao lado daquela praça. Claro que antes, meu colega citou inúmeros motivos pelos quais eu não deveria ajudar você, mas... ignorei todos.

—E ele está certo. Eu podia ser um...sei la... psicopata.

Provei do café e cheguei a fechar os olhos. Apesar de forte e amargo a bebida estava deliciosa.

Degustação - Livro Retirado Tardes de outono - Livro I - Coleção As 4 estaçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora