Prólogo

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Prólogo.

Lalisa organizava uma prateleira de ungüentos, enquanto Chaeyoung, sua assistente e melhor amiga tirava o pó das estatuetas de madeira das Deusas e Anjos, quando se ouviram gritos e confusão do lado de fora da cabana. Elas se entreolharam e largaram o que faziam, correndo para a origem dos ruídos, quase se chocando contra um soldado da infantaria que abria a porta, em objetivo de chamar a curandeira.

Havia uma multidão se reunindo ao redor de algo, e esse algo era um pequeno grupo de mais soldados da infantaria e uma maca com um ferido. As moças abriram passo dentre os curiosos barulhentos e se ajoelharam em frente ao ferido. A maca tinha sido largada na grama de qualquer jeito, e o homem nela deitado agonizava.

Através do uniforme da cavalaria ele sangrava, e o ferimento era preocupantemente grande. Chaeyoung tratou de tirar a parte superior da armadura, a qual cobria o tronco, local do corte irregular.

Outro homem se aproximou e agachou ao lado da curandeira, chamando-lhe a atenção. Seu uniforme era idêntico ao do moço que chorava e delirava sobre a grama, e Lalisa se arrepiou com algo que não soube ao certo identificar. Até que algo lhe veio à mente. Não eram armaduras comuns, aqueles homens serviam outro comando, vinham de tão longe quanto a origem da própria Lalisa: a Província Estelar.

- Nos foi informado que é a melhor no que faz, curandeira. - ele avisou com voz rouca e gasta, como couro de uso em batalha, curtido por sangue, terra e sol.- Possui bênção da Deusa de Aphecon. Ele é um de nossos melhores homens, salve-o.

Com o coração a mil, ciente de que corriam contra o tempo, Lalisa assentiu, e pediu para que dessem espaço, então os soldados deram um jeito de dispensar os metidos.

Ela se voltou para seu paciente, com o dorso musculoso já descoberto, e uma ânsia de vômito a tomou, ao ver que, redor do ferimento, uma mancha verde se espalhava lentamente. Chaeyoung cobria a boca, possivelmente tendo a mesma reação.

Mas procurou não se afetar, e estendeu uma mão, pousando-a sobre o local, mesmo com os protestos do ferido semi-inconsciente. Se ele desmaiasse antes de que ela realizasse o feitiço, o perderiam, então Chaeyoung começou a cutucá-lo nos ombros com delicadeza, distraindo-o e mantendo-o desperto.

Lalisa já tinha sua mão direita apoiada contra o sangue e veneno, pegajosos contra sua pele, e subiu a esquerda até uma pequena marca no próprio peito, colocando-a sob a roupa, logo acima do coração. Era a marca que a Deusa entregava à seus abençoados, seus servidores fies e incondicionais, pessoas que davam a vida para curar e salvar, pessoas como Lalisa.

- Vassalo a chama, Rainha. Rainha, atenda seu Vassalo. Cubra com ele seu manto e paralise. Paralise com seu manto o Vassalo. Dome o veneno, minha Rainha, Rainha dê tempo a curar. - o sangue coagulou e a cor verde parou de avançar. Os olhos do homem, antes agonizando, agora se fechavam, e em seu rosto jovem reinava a paz, a paz da verdadeira Rainha de Aphecon, sua Deusa.

Lalisa agora tinha tempo para buscar a cura ao seu paciente sem pressa, com a certeza de que a linha da vida dele estava conectada à sua enquanto não a encontrava e executava. Um fio finíssimo entre seu coração e o dele. Era certamente algo perigoso para os dois, porque caso um morresse, o outro o faria também.

Limpou a mão na túnica.

- Ele vai ficar bem? - perguntou o homem de voz rouca. Lalisa o encarou, séria, enquanto Chaeyoung pedia ajuda aos soldados da infantaria para que levassem o ferido para dentro da cabana.

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