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Acordo repentinamente com um barulho vindo da porta da frente de casa, levanto
rapidamente da cama, o que me faz ficar tonto e com a visão turva por alguns segundos,
quem entrou repentinamente foi Hoseok, com um semblante extremamente preocupado,
quando nossos olhos se encontram ele me olha com pena e me pergunto o que houve.
Ele vem até mim lentamente, logo após vejo Seokjin entrar pela porta também, olho para
Hoseok com o cenho franzido
— O que houve? – repito e por um segundo ele não responde, mas após isso ele fala a pior
coisa que eu poderia ter escutado.
— Seus pais… Foram pegos em um armadilha de saqueadores… Eles não haviam nada de
valioso consigo… Apenas suas vidas, que foram tiradas. – ele profere as palavras
lentamente, é como se aquilo fosse amenizar a dor, mas isso não acontece. Meu mundo
desaba com a notícia, e eu desabo junto, não fico com vergonha nem impeço que as
lágrimas me tomem e eu caia de joelhos no chão, chorando compulsivamente.
Os dias após isso foram extremamente difíceis, de começo eu tentei não deixar a escola,
mas com o tempo fui obrigado a fazer isto pois precisava de alimentos, meus amigos
permaneceram ao meu lado durante os longos cinco anos após a morte de meus pais.

Com o tempo eu me acostumei com a dor da perda e passei a viver sozinho naquela casa
escura e isolada, longe de tudo e todos, o silêncio se tornou meu melhor amigo. Após meu
aniversário de 22 anos, o qual eu passei completamente sozinho no meu quarto, encarando
uma enorme capa vermelha que minha mãe me deu aos dezesseis anos e a qual eu nunca
usei por ser grande e chamativa demais, passei a prestar mais atenção nas árvores da
floresta negra.
Por algum motivo a forma como aquelas árvores, do tom verde mais escuro que já vi, se
moviam era diferente, mais lento, mais misteriosas, já cheguei a imaginar como se
estivessem me chamando. A cada dia que passa me vejo cada vez mais atraído por aquela
densa floresta, algo lá dentro de move em chamado a mim, eu sinto isso, nas noites em que
vou dormir é como se eu escutasse as árvores sussurrando meu nome. Min Yoongi…
Min Yoongi…
Min Yoongi!
Acordo assustado, mais uma vez tive um sonho estranho e sinto meu coração acelerado.
Levanto lentamente da cama e sigo até a cozinha, pegando um copo d'água e o tomando
na tentativa de controlar meus batimentos cardíacos.
Então volto para a cama e fico pensando no sonho, é algo repetitivo que estou cansado de
ver todas as noites em meu sono.

Eu estou na floresta negra, correndo de algo que está me perseguindo, é algo grande e não
parece ser humano, eu sinto medo mas ao mesmo tempo sinto vontade de ver o que vem
atrás de mim, mesmo assim não paro de correr, corro como se não houvesse amanhã,
como se minha vida dependesse daquilo e talvez dependa, então eu tropeço em um galho,
tento levantar mas algo me impede, então eu ouço… As árvores, a floresta, elas chamam
por mim.

Acordo novamente, sem perceber caí no sono na noite passada enquanto tentava parar de
pensar no sonho que tive. Levanto da cama lentamente, o dia está quieto, não ouço os
pássaros voando por aí, sinal de que irá nevar. Faço o café da manhã, antes de sair para ir
ao mercado tentar trocar algo para conseguir meu almoço. Abro as janelas de casa, tiro a
poeira do chão, arrumo minha cama, então vou para a janela dos fundos, todos os dias faço
questão de a abrir por último, pois é a janela que fica de frente para a Floresta Negra e
sempre que eu estou lá fico olhando para o ponto mais fundo possível da floresta, como se
alguém estivesse lá me esperando.
Dessa vez é diferente, eu realmente vejo alguém lá, não consigo identificar, mas vejo uma
sombra em um ponto mais escuro atrás das árvores, e a coisa está me encarando de volta,
incríveis olhos amarelos me observam, um frio percorre minha espinha quando uma leve
brisa me atinge e move também as copas das árvores, fazendo mais uma vez aquele
movimento lento como se estivessem me chamando. Tento ignorar, tento voltar para dentro
de casa mas minha curiosidade fala mais alto, rapidamente volto para meu quarto pegando
a capa vermelha e grossa que minha mãe me deu, não sei se fazer o que estou prestes a
fazer é certo, mas algo me diz que sim.
Nunca achei que fosse usar essa capa, porém algo que diz que é o mais certo a fazer,
assim que coloco a capa ela me transmite uma segurança inexplicável, como se eu
estivesse dentro do abraço de minha mãe mais uma vez.
Como eu imaginei a capa é maior que eu, porém parece certo usá-la agora, as mangas
estão em tamanho certo, mas o capuz e a calda da capa parecem exageradas. Saio de
casa sem me importar de deixar tudo aberto, o ar parece mais frio à medida que me
aproximo da cerca que separa minha casa e a floresta, com cuidado separo os arames e
passo pela cerca, tentando não rasgar a capa.
Com isso estou oficialmente fora dos limites do vilarejo, coloco o capuz que cobre meu
rosto, então olho novamente para dentro da floresta, sinto os pelos de minha nuca eriçarem,
meu coração acelera, então dou um passo, e mais um, e outro e outro e outro. Quando vejo
já estou a dez passos longe da cerca, olho para minha casa ponderando se devo voltar,
mas as árvores se movem com o vento novamente e como um impulso passo a caminhar
em frente, para dentro da Floresta Negra.
.....
A medida que caminho, aprofundando naquelas árvores de tronco e folhas escuras, com
raízes para fora da terra, sinto algo atrás de mim, ou alguém. Minha capa arrasta pelo chão
e algumas vezes fica presa nas raízes e galhos espalhados pelo chão de grama também
escura, não tenho dúvidas que a borda da capa está começando a ficar igualmente escura.
Em um momento a mesma prende em uma raiz, eu paro e tento desprender, mas quando o
faço ouço sons de algo caminhando por perto, fico em alerta, um medo enorme me invade,
os batimentos ficam acelerados, minha respiração fica descontrolada. Olho para trás, mas
não vejo nada, estou longe de casa, nem sequer consigo ver a cerca que divide o quintal da
floresta, não sei mais em que direção fica ou que direção seguir. É como se eu houvesse
entrado em outra dimensão, onde não existe caminhos ou direções, onde cada passo dado
à frente não existe volta.
Então ouço novamente galhos de quebrando, juntamente com as árvores balançando por
causa do vento, alguém me observa e isso me deixa com mais medo ainda, não sei se
prefiro que seja uma pessoa ou um animal. Se for uma pessoa existe a dúvida de que ela
pode ser alguém mal ou bom. Se for bom, pode me ajudar a sair daqui. Se for mal, pode me
matar sem pestanejar. Mas também pode ser um animal, se for apenas um cervo irá correr
quando me ver, entretanto se for um animal selvagem ele poderia me atacar.
Fico parado por minutos observando cada canto daquela floresta, fico abaixado tentando
fazer o mínimo movimento possível, enquanto observo um certo ponto escuro até demais
para aquela floresta, vejo um movimento no mesmo local.
Meu coração pula quando vejo o que está lá, é algo grande, não é humanóide e, assim
como eu, está me observando. Fico parado, estático, pensando no que fazer, me
perguntando se devo correr ou ficar ali até que a coisa desista e vá embora. O medo e a
curiosidade se mesclam de forma incômoda.
Não sei quanto tempo permaneci daquele jeito, mas aquilo não vai desistir facilmente, então
meus membros parecem mover sozinhos, levanto lentamente, tentando agir o mais normal
possível e passo a caminhar como se nada houvesse acontecido.
Enquanto caminho ouço a coisa caminhar também, ele está me seguindo, fico com medo
novamente, não tenho para onde correr ou me esconder. Vejo uma árvore grande a frente,
sigo lentamente como quem não quer nada, quando chego perto da árvore paro e tento me
esconder ali, os passos da coisa continuam e penso que consegui o despistar.
Porém minha felicidade dura pouco quando escuto os passos se aproximando, congelo ali
mesmo, a respiração presa e os batimentos tão acelerados que posso ouví-los.
Os sons do ser se movimentando fica cada vez mais alto, então para e eu ouço uma voz
que me faz ter calafrios.

∆•°°THE BOY OF THE RED CAPE°°•∆©adptOnde histórias criam vida. Descubra agora