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— Não vou machucá-lo. – a voz diz, misturado com um rosnado extremamente grosso, aquilo me assusta,
fecho os olhos pensando ser algo da minha cabeça, algo feito por causa do medo, mas
então a voz continua. – Não tenha medo.
Minhas mãos estão fechadas tão forte que sinto as unhas cravadas na palma, a voz parecia
vir de todos os lados, mesmo com medo é como se eu já estivesse acostumado com tal voz.
Um silêncio se instala e só consigo ouvir as árvores, mais uma vez elas me chamam,
parecendo estar mais próximas e de fato estão.
Min Yoongi…
Coloco as mãos no ouvido tentando fazê-las parar, mas não adianta. Sem perceber estou
gritando, implorando para pararem, mas nada funciona. Então ignoro a voz anterior, abro os
olhos e levanto, logo me pondo a correr para qualquer direção, não sei onde estou, o que
estou fazendo ou para onde estou indo.
Então aquela cena se repete, a cena do meu sonho, imediatamente concluo que estou
tendo um déjà vu, isso me assusta, mesmo sabendo tal coisa não paro de correr. Minha
capa prende novamente, me fazendo dar um solavanco para trás, então eu caio, tento
levantar, faço força, mas não consigo, algo invisível me prende, sinto uma pressão
sufocante no peito, que me impede de respirar corretamente, lágrimas escorrem de meus
olhos, penso em minha mãe, sinto a dor de sua perda, a saudade de seu abraço e ouço
meu nome.
Min Yoongi…

Desperto subitamente, estou em uma cama e por um momento penso estar em casa.
Lembro de tudo o que aconteceu e penso ter sido um pesadelo, porém assim que levanto
sinto dores no corpo, olho ao redor, não estou em meu quarto. O local tem a madeira mais
escura e acabada, minha capa está pendurada na parede, está suja e rasgada em alguns
pontos, sento na beirada da cama e observo o local me perguntando onde estou. Será que
alguém me viu na floresta e me ajudou? Mas ninguém nunca ousa nem entrar na floresta negra,
pelo que sei eu fui o único louco a adentrá-la.
Caminho pelo quarto, seguindo até a porta, a abrindo lentamente, o que faz um rangido alto,
assim que saio entro em uma cozinha pequena. Dou de cara com alguém de costas,
preparando algo, um homem alto,bem alto, está sem camisa, apenas com uma calça de pano velho,
suas costas são musculosas e posso ver seus braços igualmente musculosos. Fico parado
ali, o olhando cozinhar o que julgo ser ovos, pelo cheiro, faz tempo que não como e isso faz
meu estômago roncar.
O homem vira e me olha com um sorriso com covinhas no rosto, me assunto com seu jeito, porém me
assusto mais com sua beleza. Seus cabelos tão negros quanto seus olhos, a boca emformato perfeito e bochechas cheias, seu perfil definido me chama a atenção, sem perceber
estou o encarando demais.
— Tudo bem?
Sua voz me desperta e encontro seu olhar, ele provavelmente notou que eu estava o
encarando, seu sorriso que antes era animado é agora um sorriso de lado com uma
pontada de malícia, sinto meu rosto quente com o contato visual.
— Eu ia perguntar se você não fala, já que demorou para responder, porém seria algo sem
sentido depois de o ouvir na floresta. – diz colocando os ovos em pratos separados.
— Você me ouviu?
— Sim. – respondeu simplista.
— Você estava lá?
— Sim. Eu disse que não iria o machucar, mas mesmo assim você correu. – sua resposta
me deixa confuso, então lembro do ser que vi na floresta.
— Como assim? O que eu vi era você?
— Sim.
— Mas aquilo não era humano. – digo indignado, esse homem parece não falar coisa com
coisa. Ele para o que está fazendo e me encara, olha no fundo de meus olhos, como se
pudesse ver toda a minha alma dessa forma, seus olhos se transformam de negro para um
amarelo estranho e logo voltam ao normal. Aquilo me assusta, dou dois passos para trás
porém minhas costas batem na parede, fico ali encostado o olhando assustado.
— Quem é você? – pergunto desconfiado.
— Me chamo Kim Namjoon. – diz voltando a colocar café em duas canecas.
— O que é você? – a pergunta o faz parar novamente, ele me encara e caminha lentamente
se aproximando de mim, tento recuar mas em segundos já estou encurralado. Me encontro
encostado na parede, uma de suas mãos está apoiada na mesma, ele me olha
profundamente e não tenho dúvidas que o medo é perceptível em meu semblante, seu olhar
para em meus lábios, por impulso os umedeço com a língua e o vejo dar mais um sorriso de
lado, o que me deixa desconcertado. Ele se aproxima cada vez mais, suaextasiado. Sinto meu coração acelerado novamente, minhas mãos transpiram e minha
respiração está descompassada.
— E eu posso ouvir seu coração. – diz antes de dar uma risada baixa e se afastar, voltando
para a mesa, onde se senta e se prepara para tomar seu café da manhã.
Não tenho dúvidas que estou corado, considerando o quanto sinto minhas bochechas
quentes, além disso estou ofegante e me pergunto o porque. Em poucos segundos o que
antes era medo se tornou algo que não sei julgar, pensar isso me assusta, nunca me senti
dessa forma e esse homem desconhecido é o culpado.
Rapidamente volto para o quarto, sem me importar com a fome, nem com o fato de eu estar
na casa de alguém que conheci a poucos minutos, me tranco no cômodo e fico andando de
um lado para o outro, me perguntando o que acabou de acontecer. Vejo minha capa e a
pego, limpo alguns vestígios de grama, procuro linhas e agulhas para consertar os
pequenos rasgos no tecido porém não encontro nada.
Ouço batidas fracas na porta, o que faz eu querer saber quanto tempo fiquei trancado aqui,
vou até a porta e abro lentamente, então aquele ser lindo adentra o local e não consigo
desviar meu olhar de sua barriga definida até que ele faz um barulho com a garganta
chamando minha atenção.
— Eu vou sair, sua comida está em cima da mesa, volto ainda hoje e não o aconselho a sair
dessa casa. – diz em um tom um tanto autoritário o que me faz concordar com a cabeça,
ele dá um sorriso fraco e sai. Assim que ouço a porta da casa ser fechada sigo para a
janela do quarto o observando entrar na floresta, sem medo algum, sem hesitar, o que me
faz concluir que esse homem realmente vive aqui. Percebo que está nevando mas mesmo
assim ele saiu apenas com a calça, antes que suma dentro da floresta ele vira e olha para
mim, me assusto com o movimento repentino, querendo saber como ele soube que eu
estava o observando.
O dia passou rápido, comi o que o Kim
disse que estava na mesa, encontrei agulhas e
linhas em uma gaveta na cozinha, então consertei minha capa. Quando termino ouço um
barulho fora da casa e me assusto, volto a olhar pela janela e o vejo voltando da floresta,
parece cansado, ofegante e sujo, nossos olhos se encontram e eu rapidamente vou para a
cozinha onde logo ele entra.
— Parece que você é mesmo obediente. – diz pegando um copo grande de água e o
tomando em segundos, deixando um filete de água escorrer pelo maxilar até o pescoço.
Acompanho o caminho daquela gota de água e quando dou por mim estou o encarando
novamente, o mesmo me encara igualmente, como se estivesse faminto.
— Pensei que iria fugir na primeira oportunidade. – continua, enquanto se aproxima
lentamente, dessa vez não recuo nem mexo um músculo, apenas o encaro.
— Não tenho motivos para fugir.

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⏰ Última atualização: Jun 21, 2018 ⏰

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∆•°°THE BOY OF THE RED CAPE°°•∆©adptOnde histórias criam vida. Descubra agora