Os dias que se seguiram após minha saída do Rouge foram bem dificeis. Por isso a minha primeira decisão foi me isolar com a minha familia e evitar qualquer contato com televisão, jornal e revistas. Aproveitei para cuidar do meu pai que se recuperava de uma doença, organizar minha casa com o Leo, afinal eramos recém-casados e até então foram poucos os momentos que pudemos estar juntos em casa, e retomar meus estudos de musica para tentar reencontrar meu estilo.
Não entrei mais em contato com as meninas. Entendi que elas precisavam se desligar de mim e eu sabia que redividir o grupo em quatro não seria tarefa facil, já que nossa harmonia de vozes, estilo fisico e de personalidade foram escolhidos a dedo para formar a Girl Band. Mas elas me faziam tanta falta. De repente eu estava sozinha de novo. E elas estavam juntas, mesmo que tendo que remar com uma a menos, elas estavam mais unidas do que nunca. Me doia pensar que elas não me compreendiam. Eu que sempre lutei por todas nós, que brigava com os produtores por algo mais justo para todas, hoje era vista como a covarde. Logo eu que teria que enfretar uma batalha judicial devido a quebra de contrato com a gravadora. E por mais que tudo isso pesasse muito, estava insustentável continuar nas condições que nos eram dadas dentro do Rouge. E para piorar, tinha ela. Ela que por mais que tivesse ao meu lado nas brigas com os produtores, discutia quase que diariamente comigo por pequenas coisas. As vezes o tom que usariamos na musica, o jeito que levariamos uma coreorgrafia, o horario de chegada e de saída dos ensaios. Uma vez tivemos uma discussão sobre o tempo a mais que estavamos repassando a coreografia. Eu precisava sair pontualmente ás nove, mas já havia passado das dez e nós não tinhamos nem previsão de termino. E por mais que eu pudesse simplesmente pegar minhas coisas e ir embora, não achava justo com as meninas. Elas também estavam cansadas e queriam ver suas familias. Porém quando acabou eu questionei e fui repreendida por Fantine. "Precisamos fazer melhor do que no primeiro albúm Luciana. Precisamos mostrar evolução." Eu sabia da disciplina de Fantine, mas naquele momento senti que era pura necessidade de me afrontar e disse que não estava entendendo qual era dela e de que lado ela realmente estava. "Estou do lado da nossa carreira. E você? Esta em qual Luciana? Ainda esta aqui com a gente?" Aline interrompeu dizendo que aquilo não ia levar a nada e estavamos cansadas. Eu fiquei parada olhando para Fantine incredula e ela me fitava aguardando uma resposta. Peguei minhas coisas e fui embora. No dia seguinte mal nos olhamos. Até que a puxei em um canto:
- Você entende o que ta acontecendo aqui? - Falei apontando ao redor.
- Não sei Lu. Mas e você? Entende o que esta acontecendo aqui? - Ela devolveu a pergunta apontando para meu peito. Acho que foi o mais longe que fomos ao falar de nossos sentimentos. E de fato, nesse quesito eu fui a mais fraca. A deixei de lado e foquei no trabalho que tinhamos que fazer ali naquele dia.
Depois de tantos anos sem ao menos comprimentar as meninas, recebi uma mensagem do Pablo Falcão em meu Facebook sobre um possivel show do Rouge no Chá da Alice. E depois da tentativa de volta em 2012, achamos que o mais conviniente era nos reunirmos e colocarmos todas nossas magóas pra fora. Era chance de reescrever nossa história de novo em uma página em branco. Mas antes precisavamos esclarecer muitos pontos que ficaram lá trás. E essa parte sem dúvida seria a mais dolorida para todas nós. Ainda assim, achei que estava na hora de resolvermos o nosso passado. E aceitei ter a tal conversa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O que não falamos
FanfictionSe todos entendessem o nosso olhar, não precisaria mais de musica alguma para compreender nosso repertório.