Enfim o embate.

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No primeiro ano do Rouge, as coisas foram mais fáceis. Apesar de tudo ser novo pra todas, de estarmos ainda aprendendo a lidar com toda midia e rotina de shows, programas e compromissos em geral, estavamos curtindo cada detalhe do que tanto sonhamos em conquistar. Quando fizemos o processo do Popstar não sabiamos no que tudo aquilo daria. Nem imaginavamos que o grupo faria tanto sucesso. A verdade é que fomos vendo e entendendo com o passar do tempo como cada coisa funcionava e qual seria a indentidade do grupo. E apesar de ainda estarmos nadando com a maré, fomos felizes. Já mais perto da minha saída, logo depois que casei, as coisas foram ficando mais dificeis. O Leonardo me cobrava presença o tempo todo. E de fato nos viamos bem pouco. Fomos criados no interior e essa rotina não era comum pra gente.

Uma vez estavamos em um hotel a noite, após um show, e fui para area aberta comum. Naquela noite a lua estava especialmente bonita. Vi de longe Fantine sentada proxima a piscina escrevendo e me aproximei por suas costas:

- Atrapalho?
Ela olhou pra trás e disse sorrindo.
- Claro que não.
- O que esta fazendo? - Perguntei curiosa.
- Me veio uma letra na cabeça e to tentando ver se sai alguma coisa.
- Posso? - Perguntei apontando para o seu caderno.
- Claro.
Sentei ao seu lado. Peguei o caderno e comecei a ler. A musica era carregada de sentimentos e conseguia me ver em cada palavra. Meus olhos se encheram de lagrimas e disse evitando a olhar.
- Que lindo Fan...
Ela sorriu timida. Entreguei o caderno para ela e fiquei olhando em direção a piscina. Ficamos em silencio por alguns segundos, antes que Fantine o quebrasse.
- Lu...
Automaticamente senti um arrepeio na espinha. Respirei fundo e respondi, ainda sem a olhar.
- Hum...
- Sei que não tem sido fácil pra você. Mas tenta mais um pouco.
Virei meu rosto em sua direção e ela ja me encarava. Ficamos ali, paradas nos olhando, e pela primeira vez consegui perceber cada detalhe do seu rosto.
- Fan... É tão maior que isso.
- Fala pra mim então! - Ela insistiu.
Ficamos nos olhando mais um tempo. Senti nossos corpos se inclinarem levemente pra frente uma da outra. Mas ao sentir sua respiração mais forte me levantei rapidamente.
- To cansada. Amanhã o dia vai ser longo. Depois conversamos ta? - Disse enquanto levantava e sai. 

Não sei até hoje o que aquele momento significou. Estavamos cansadas, carentes, como saudade de quem amavamos. E pra completar brigavamos constantemente. E isso me doia. Me doia brigar com Fantine. E sei que ela sentia o mesmo. Mas não conseguiamos nos controlar. Não conseguiamos nos entender. E todos os espaços ficavam pequenos quando estavamos juntas. Agora minha pergunta era se caberiamos naquela varanda. Junto com tantos anos de ausencia e com mil coisas guardadas em um pequeno espaço, que ainda dividiriamos com mais três. Mas enfim, entramos na varanda após nos desperçarmos do abraço. Nossas cadeiras estavam em lados opostos. Sentei primeiro e ela em seguida. Aline puxou o assunto ao perceber que ambas ainda se recuperavam da emoção. "Sei que todas devem estar enfrentando mil leões nesse momento. Mas vamos tentar fazer disso algo mais leve possivel ta?" Achei que já era meu momento de falar. Por isso emendei:
- Eu fiquei muito feliz em saber que esse convite partiu de fato de vocês. E queria muito que entendessem que por mais que eu quisesse rever a todas, a forma como foi conduzida em 2012 não me fez sentir que deveria aceitar esse reencontro ainda.
- A gente queria você de volta Lu. Mas era um programa do Rick. Estavamos como convidadas e entendemos que esse convite deveria partir dele pra você também. Quando ele disse que você não iria porque o convite não partiu de nós, imediatamente me propus a ligar. Por isso fiquei tão magoada quando ainda assim você não aceitou. - Patricia finalizou.
- Pati, eu estava e uma fase bem dificil. E voltar para o Rouge depois de tantos anos, sem ao menos uma conversa, nos enfiarmos de novo em um programa e robotizar toda nossa história não ia dar certo. Quando eu disse que eu precisava que o convite partisse de vocês, eu falava que nossa história merecia mais delicadeza. Como isso que estamos fazendo agora.

- Eu concordo. - Disse Fantine intervindo. Olhei rapidamente em sua direção e ela continuou. - Mas também Lu, nesses anos todos você nunca pensou em procurar a gente? Nunca sentiu vontade de estar presente?
- Claro que sim. - Disse respirando fundo.
- Então porque não fez?
- Porque quando eu sai do grupo vocês falaram que eu não fazia falta. - Karin interrompeu dizendo que não estavam dizendo de forma pejorativa, mas ingnorei e ainda focando em Fantine, completei. - Você disse que não era minha amiga Fantine. Que nunca foi! De fato tinhamos nossos problemas... Mas você já se perguntou porque? - Vi que Aline colocou a mão no ombro de Karin, como se pedisse paciência pra ela. Eu e Fantine precisavamos falar.
- Me doia brigar com você Lu. Só que não podiamos brigar com o mundo também. Você não aceitava nada e naquele momento nós quatro achamos que a melhor opção era nadar com a maré.
- Também me doia brigar com você.
- Apenas fizemos escolhas diferentes. - Fan disse e logicamente essa frase me soou com duplo sentido.
Ficamos em silencio mais alguns segundos nos olhando e Aline interveio.
- Lu, o importante é que queremos você com a gente de novo. E mesmo que tenhamos que passar a noite aqui tentando entender o que cada uma sente, vamos nos resolver dessa vez.
E assim fizemos. Ficamos por horas falando e conseguimos compreender coisas que ficaram guardadas por anos. Durante a conversa eu e Fantine trocavamos olhares discretos, mas que era o suficiente para saber que nós ainda teriamos o nosso momento para falarmos. Porém, precisava ser a sós.
Ao final o clima já estava mais leve. Riamos entre lagrimas. Tiago apareceu e tirou fotos nossas. Nos abraçamos e ele disse que pediria um japones para enfim comemorarmos esse encontro. Porém eu não podia ficar e avisei que teria que deixar pra próxima. Todos lamentaram e foram fazer seus pedidos pelo apicativo ao lado de Tiago. Fui até minha bolsa que havia ficado na cadeira da varanda e abaixei pra procurar meu celular.
- Uma pena não poder ficar. - Gelei ao ouvir a voz de Fantine atrás de mim. E tive a impressão de senti-la bem proxima. Mesmo assim me virei e nossos corpos ficaram quase que colados. Não me movi para trás, pois havia a cadeira. Mas ela que tinha mais espaço também não o fez.
- O Leo tá me esperando e...
- Algumas coisas não mudam. - Ela me interrompeu. Nossas respirações estavam agitadas e eu tentava não encarar tanto seu rosto.
- Fan... Por favor!
Ela deu um passo para trás dando espaço para eu passar. Peguei minha bolsa e fui me despedir de todos na sala. Ela se manteve mais distante. Trocamos mais um olhar antes de eu sair pela porta da rua e fui. Apesar de querer ficar com elas. Com ela! Eu precisava ir. Ainda. Mas eu sabia que isso estava perto de acabar. Dessa vez não precisavamos temer. E no fundo, ela também sabia disso. 

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