Nem Mais Uma Palavra

O Livro do Circo

Autora: Andressa Oliveira Barbosa Melo 

Sinopse: Um circo misterioso chega à cidade e atrai a todos. Ainda mais misteriosa é a mulher que observa temerosa, como se soubesse que o perigo se aproxima.

1 - A chegada do circo

"Se aproximem, se aproximem, senhoras e senhores. Hoje o Circo do Livro se apresenta em sua cidade, venham conhecer um novo mundo, venham sentir o que a gente sente e enxergar com nossos olhos".

O carro de som repetia essa mensagem gravada por toda a cidade, fazendo crianças implorarem aos seus pais para irem, até os pobres pais consentirem, deixando-as saltitantes e espalhafatosas. Aliás, nesta pequena cidade quase não se via variedade e durante muitos anos não se via nem mais um rastro do último circo.

Pobre cidade pequena, de cidadãos tão puros e ingênuos, suas almas hoje aqui deixarão.

2 - Uma lembrança dolorosa

Porém, mais além da euforia, havia uma senhora abandonada pela vida e pela cidade, tachada por todos de "louca".

Era apenas uma pobre senhora, na casa dos setenta anos. Sim, ela já tivera filhos, porém partiram de maneira dolorosa.

Ela se lembrava de quando o circo veio e junto com ele seus filhos se foram. Não queria sentir aquela dor, mas se lembrava de quando o circo começou a se apresentar e apavorar a todos, prendendo-os e roubando-lhes as virtudes. Ela se lembrava de chegar e, nos olhos opacos dos filhos, ver que a vida os havia deixado para trás.

3 - O espetáculo começa

Então, chegada a hora, circo lotado pela pequena cidade, o espetáculo começa.

Eram muitos os bailarinos, malabaristas, mágicos e os palhaços. Eles faziam seus truques com perfeição, com um sorriso no rosto e íris brilhantes.

Mas da música tão alegre se forma um trilha sonora horripilante.

Os palhaços não eram comuns, seus sorrisos se tornavam malignos, e já não divertiam, eles estavam tristes. Palhaços melancólicos andando no Centro, maquiagens borradas, como se estivessem derretendo.

Todos no picadeiro os olhavam atentos. As crianças e bebês choravam com medo, pedindo baixinho para ir pra casa, mas os palhaços não os deixariam sair.

4 - Terror no circo

O show realmente havia começado.

Eles começaram a andar pelo picadeiro, as pessoas petrificadas viam com seus próprios olhos a dor deles, sentiam o que eles sentiam e aos poucos suas vidas iam embora.

Em meio a tudo aquilo era possível ouvir um violino, baixo e distante. O som cresceu, cada vez mais agudo, pois aquela seria a sua última música naquele picadeiro e em suas vidas. As crianças foras as primeiras, partindo para idosos, adultos e, por último, os que tinham mais vida e força vital, os jovens e adolescentes tão novos e felizes, agora partindo.

Então o escuro.

5 – Livro do Circo

De longe, a velha cidadã suspirava cansada após rezar por aquelas almas que não teriam mais paz, eles se foram.

Sempre que se mudava de cidade, o circo ia atrás. A aura ruim que transbordava daquele violino lembrava os tempos que ensinava as crianças sobre o circo, lembrava quando ela fundou um com os seus pequenos — agora já crescidos — alunos. O circo não fez sucesso e os palhaços descobriram que havia uma magia que os levaria ao auge, mas ela recusou, não era o certo.

Ela sabia a verdade, sabia por que o nome do circo era Circo do Livro.