Ragnar bufou e se levantou do assento confortável de comandante após puxar a alavanca que manteria Jagar nos céus e resmungou irritado. Ele tinha escutado um barulho estranho vindo dos motores e só poderia significar que alguma fadinha desgraçada devia estar mexendo nas engrenagens. Ele já havia perdido toda a paciência com elas, estavam roubando sua comida, mexendo em suas roupas, sumindo com moedas e fazendo barulhos irritantes. Daquela vez ele iria capturar todas e colocar dentro de uma gaiola para que aprendessem a não importunar Ragnar Holank.
Assim que estava de frente para o motor barulhento sentiu uma tensão vinda com uma presença, mas ele não via nada, agachou-se e olhou por entre os encanamentos.
- Aqui, fadinha, se aparecer lhe dou um pedaço do meu bolo.
Mas nada veio a vista e ele praguejou de raiva, quando se levantou e assim que girou para voltar para a cabine de pilotagem viu apenas um vulto vindo em sua direção e tudo apagou.
Quando Ragnar abriu os olhos estava encarando o próprio colo, o tórax envolvido por várias correntes e as mãos atadas às costas. Ele ergueu o rosto de súbito e deu de cara com um olhar assustado, a garota deu um salto para trás, esperta. Ele analisou a garota, não devia ter mais de vinte anos, a pele morena indicava que não era daquelas terras, o cabelo era preto e o corte era curto, os olhos, por outro lado, eram de um rosa claro. Obviamente estrangeira, agora ele precisava descobrir de onde.
- Então você era a fadinha que andou roubando minhas coisas.
Ela piscou algumas vezes antes de arrumar a postura e adotar um ar de superior, ele sequer se moveu, não iria passar a impressão de desesperado.
- Não sou fadinha nenhuma e você vai fazer o que eu digo.
Ele olhou de um lado para o outro, mas realmente só havia aquela garota ali além dele.
- Criança, tem ao menos idéia de com quem está mexendo?
Ela levantou mais o queixo e colocou as mãos nos quadris.
- Você é Ragnar Holank, o maior ladrão de Vistora, aquele que conseguiu roubar do próprio rei, - Ele fechou os olhos enquanto se deliciava com os títulos que conseguiu com todo seu esforço - ex-assassino real e com vinte e sete anos, não deveria me chamar de criança.
Ele estalou a língua e rolou os olhos, exatamente como uma criança, era assim que ela agia.
- Tudo bem, então o que a criança quer?
Ela abriu e fechou a boca com raiva, mas por fim retomou a compostura.
- Você vai me ajudar a entrar nas minas de ferro...
- Isso é fácil, apenas mostre sua carinha de estrangeira para algum soldado que ele a levará de bom grado, diferente de mim.
Ela estreitou o olhar o censurando.
- E sair de lá sã e salva, junto com outra pessoa.
Ragnar sibilou.
- Então é sobre isso que se trata? Um resgate a alguma espécie de amante.
Ela ruborizou e ficou obviamente desconfortável, ele riu disso.
- Não! É a minha irmã. Irmã!
Ele gargalhou, ela estava nas mãos dele, mesmo que fosse ele quem estava amarrado.
- Então o que ela fez? Chamou algum soldado para sair.
Ela deu um passo forte na direção dele.
- Chega de brincadeirinha. Então, fará o que eu digo ou não?
Ele olhou para si mesmo.
- Eu tenho opção?
Ela abriu um sorriso encantador.
- É claro que tem! Pode me ajudar voluntariamente ou eu desço essa geringonça no próximo porto e nos entrego para os soldados. De um jeito ou de outro vai me ajudar.
- Bom, parece que você planejou tudo direitinho. O que posso fazer se estou em suas mãos. Então, para onde mesmo estamos indo?
Ela parecia satisfeita, mas não completamente desarmada.
- Minas de ferro.
- Certo, que tal você me soltar para que eu possa direcionar essa belezinha?
Ela realmente se aproximou e estendeu as mãos na direção dele, mas o metal que ela segurou não foi o das correntes, ela segurou o rosto de Ragnar com as duas mãos o que mais impressionou o ladrão foi que a mão esquerda dela não se retraiu ao tocar o metal que cobria todo o lado direito do rosto dele, aquilo normalmente assustava até mesmo os caras maiores que ele, muitos sussurravam aos deuses sobre magia profana e ele escutava tudo muito bem, ele também era facilmente reconhecido por conta daquilo.
- Amigo, acha que sou boba. Quero uma jura verdadeira.
Ele xingou, criança esperta demais. Ela sabia bem que se ele fizesse a jura estaria preso a ela até que a cumprisse, magia era cruel.
- Tudo bem, você me pegou. Que tal isso? Eu te levo lá e coloco dentro, depoi, quando estiver fora eu levo vocês duas, eu juro.
Ele sentia o ardor da jura e sua marca de manipulador devia estar brilhando. A garota o soltou.
- Nada disso, amigo. Você me leva, me ajuda a entrar com segurança, sem ser pega, junto comigo e nós vamos tirar a minha irmã de lá, a salvo, depois você nos leva a um lugar seguro e nunca nos entrega, eu também não o entregarei.
Algo brilhava logo abaixo da gola da camisa dela, então também era uma manipuladora, ele estava ficando interessado naquilo. E não era como se ela fosse deixar ele escapar daquilo facilmente.
- Tudo bem, eu juro.
Nesse instante ele sentiu a pele do peito esquentar, a magia da jura devia estar o marcando, apenas quando ele cumprisse ela sumiria. Nesse instante as correntes caíram como se não houvessem sido presas desde o início. Ragnar massageou os pulsos.
- Então, qual a sua horda?
Ela parecia tremendamente aliviada. Ragnar quase rolou os olhos, ela achava que era a primeira a pedir algo do tipo para ele, mas Ragnar já havia tirado muitos das minas de ferro, por dinheiro. Ele ainda iria tirar algum proveito daquilo tudo, bastava descobrir o quão valiosa era a mercadoria.
- Sussurrantes. E a sua?
Ele sorriu.
- Eu não me mantive no mistério por todos esses anos dizendo qual a minha horda.
Ela xingou e ele se divertiu com aquilo. Ragnar pegou no leme e soltou a alavanca girando o navegador dos ares para oeste.
1026 palavras
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Aliança de Ferro e Sussurros (Conto)
Short StoryEm um reino repleto de magia, os manipuladores são subjugados pelas armas dos não manipuladores. Eles são escravos, são servos, são os cães do rei. Ragnar já foi um desses e o preço por ter traído a coroa está marcado em seu rosto, parcialmente reco...