Acordo com o despertador do Gustavo tocando. São cinco da manhã. Ele chegou em casa ontem quase uma hora da manhã, pouco depois de eu chegar. Como eu sabia que ele dormiria em casa, comprei duas pizzas, dois refrigerantes e um pote de sorvete. Como trabalho na mesma lanchonete e pizzaria em que comprei essas coisas, paguei um preço bem reduzindo. Fiquei muito contente que meu irmão ficou feliz com a minha 'surpresa'. Comemos enquanto assistiamos Teen Wolf, conversamos bastante, tomamos banho e dormimos lá pelas três da manhã. Como estou morto de cansaço, resolvo ficar na cama até meu despertador tocar às sete e meia, já que minha primeira aula é às oito e meia.
-Tem cereal e Toddy no armário!- grito em baixo das cobertas depois de um tempo.
-Você acha mesmo que eu vou comer cereal sendo que tem pizza?!- responde, abrindo a porta do meu quarto.
-EI! A pizza é o meu almoço!!!- tiro a coberta do meu rosto e olho pro mesmo, que está se aproximando de mim.
-ERA!, você quer dizer!- diz dando um tapa na minha cabeça- Bom dia pra você também!- diz enquanto sai correndo do meu quarto dando risada.
-Ridículo!- grito voltando pra debaixo das cobertas.
...
Como esperado, o despertador toca às sete e meia. Eu me levanto, visto uma blusa e vou até a cozinha. Preparo o cereal com o leite. Depois de comer, escovo os dentes, tomo um banho e visto uma calça jeans escura, moletom preto e calço um tênis branco. Pego minha mochila, celular, fone e coloco a música In my Blood, do Shawn Mendes.Nota da autora: Sim! Sou fã dele!😌
Coloco o capuz e vou para a universidade caminhando, para manter a boa forma, além do que não é muito longe e não gosto de gastar combustível atoa.
-Droga!- sussurro, quando chego e vejo que está todo mundo disperso em todos os lugares. Ainda é oito horas. As aulas começam oito e meia. OITO E MEIA!
Odeio chegar adiantado e ter que ficar no meio desse bando de trogloditas da universidade, ter que aguentar insultos. Resolvo ir para a parte de trás da biblioteca,onde tem muitas árvores e está quase sempre vazio, com excessão de alguns casais aqui e ali. Porém percebo que Rebeka (da minha sala) e Madu (noiva do meu irmão, estudante do último ano de medicina) estavam sentadas debaixo de uma grande árvore, lendo livros. Dou meia volta, pois sei que elas vão me chamar, se me verem.
-Samuel!- ouço Rebeka gritar. Eu aumento o volume do som da música até meus ouvidos não aguentarem mais e continuo andando como se nada estivesse acontecendo. Até que um fone é indevidamente arrancado de meus ouvidos.
-Bom dia pra você também!- diz quando me viro um pouco em sua direção.
-O que você quer?- respondo secamente.
-Precisa ser grosso assim com alguém que está simplesmente tentando ser sua amiga? O que há de errado contigo?
-Comigo? Nada. Com você? Tudo. Eu já falei que não quero sua amizade nem a de ninguém, e se você vai usar novamente o discurso de que a Madu é noiva do meu irmão e eu preciso ter contato com ela, nem precisa. Já disse que não gosto dela, mas respeito a vontade do meu irmão. Será que você não cansa de insistir, garota? Me deixa em paz! Esqueça que eu existo, assim como todo o resto faz, não deve ser tão difícil assim.- digo exaltadamente e começo a andar novamente, porém ela entra na minha frente.
-Você não tem o direito de me tratar assim, seu mal educado! E eu não sou todo mundo. Eu odeio a maneira como você é tratado pelos outros, como se fosse inferior! Por isso quero me aproximar de você, mostrar pra eles que você não está sozinho! Mas você só fica escondido atrás desse capuz, fazendo dele uma espécie de proteção contra tudo e todos. Você acha mesmo que vai conseguir ser psicólogo desse jeito?!
-Nem minha escolha de profissão e nem minha aparência te dizem respeito, okay?! Se nesse momento eu quero ficar 'escondido atrás desse capuz', é uma escolha minha, respeitem! Eu não tô nem aí se os outros não gostam da maneira que me visto, da maneira que sou. Eu SOU assim. E só vou mudar quando EU quiser. E por enquanto, realmente não tô afim.
-Eu entendo Samuel. Mas o que você não entende é que não pode ficar se dirigindo a minha pessoa com toda essa grosseria por eu querer te ajudar e afastar aqueles abutres filhotes de papai que acham que podem fazer o que querem, quando querem, com quem querem só por não serem iguais a eles. E ainda são convictos que tem mentalidade para serem psicólogos, mas só conseguirão por causa do dinheiro dos papais riquinhos. Tudo bem, sei que também sou rica, mas porque meus PAIS são ricos, e tenho orgulho por eles terem lutado para chegarem aonde estão hoje, e eu quero seguir o exemplo deles, assim como você está fazendo. Então não gosto de usar desse fator para atingir os outros que não tem a mesma condição que eu, e nem aceito que façam isso!- diz, revoltada.
-Pode deixar que se eu precisar de um advogado, eu contrato um profissional, e não uma estudante de psicologia que acha que pode sair tentando tratar quem não quer ser tratado!- respondo, ironicamente.
-Escuta aqui!....
-Rebeka!- Madu a interrompe quando a mesma está prestes a surtar- Deixa ele! Se ele não quer, não adianta ficar insistindo, e você mesma disse isso!- diz, puxando ela em direção ao pátio.
-Tudo bem. Só preciso dizer mais uma coisa. Samuel, você não pode viver para sempre nessa bolha que você mesmo criou. Além de um rostinho lindo escondido, você tem um grande potencial. Não deveria guarda tudo para si. Se um dia quiser, ou precisar, sabe onde me encontrar.
-Não vou.- digo quando a mesma segue o caminho, atrás da Madu. Coloco meu fone retirado por ela e resolvo voltar em direção às árvores.
Mas era só o que me faltava. Além de criticar meu jeito, ainda tem audácia de duvidar da minha capacidade de ser psicólogo! Se é o que eu gosto, ninguém tem que dar pitaco. Eu não quero amigos, eles só atrapalham nossa vida. Você confia neles de todo coração e eles te apunhalam pelas, na primeira oportunidade que aparece. Eles te trocam assim que aparece alguma 'novidade' na área. Não é assim?! Bom. Prefiro não pagar para ver. Meu irmão e minha tia me bastam. Eles são tudo que tenho, e estou feliz com isso.
...-Mas profes.....- sim, eu estava tentando convencer ele depois que a aula acabou.
-Sem mais nem menos, Samuel! Se você não fizer o trabalho com a Rebeka, vai ficar com um zero bem redondo! Já disse que não vou trocar nenhuma dupla, e você não tem nada de especial. Se eu trocar vocês, todos os outros vão querer trocar também! A menos que deposite 1000 dólares na minha conta hoje mesmo, não volte a insistir! Entendeu ou quer que eu desenhe?!- o professor me responde, claramente exaltado.
-Mas eu não quero trocar, eu quero fazer sozinho!- protesto novamente.
-Não interessa. Você não vai conseguir fazer o seminário, já que só abre a boca pra dizer 'presente'. E se você ficar sozinho, a Rebeka não vai poder entrar em nenhuma outra dupla, porque dupla não é trio! Olha.....eu realmente tenho muita coisa pra fazer e não tenho tempo para ficar te ouvindo, a não ser que tenha alguma dúvida sobre o trabalho.
-Não, tá tudo bem.- respondo e saio da sala, em direção a cantina.
-Agora você é obrigado a ser no mínimo, meu colega!- diz dando risada, seguindo-me.
-É só um trabalho, não quer dizer nada. E dá onde você saiu?!
-Eu queria conversar com você sobre o trabalho, e como vi que você não saiu da sala, imaginei que tentaria convencer o Danilo sobre o trabalho. Se tivesse conseguido, te daria um troféu. Mas tive que ver o papo, hahaha. Vamos fazer no meu ou no seu AP?- diz, seguindo-me.
-No meu. Agora você pode retomar sua rotina, e me deixar em paz.- digo e continuo andando, porém percebo que ela ainda está no meu encalço.
Paz. Tudo que queria pelo menos durante o intervalo. Mas pelo jeito, vai ser difícil de ter. Muito difícil.
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Verdades Secretas
Teen FictionA história de um garoto estranho, chamado Samuel, de 19 anos. Não tem amigos (por enquanto), foi criado pela tia, não tem pais (pelo menos não conhece) e é apaixonado pela garota mais putiane da Universidade, que nunca ligou pra ele. Para quem não g...