Capítulo I

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Hayley.

Um caminhão tinha passado por cima de mim? Na verdade, quem sou eu? É o tipo de coisa na qual eu conseguia pensar no momento. Minha cabeça parece que vai explodir a qualquer momento e tudo que eu vejo é uma escuridão que vai aos poucos se esvaindo e dando lugar a uma luz branca insuportável. Preciso piscar algumas vezes para aguentar a claridade do ambiente, que eu ainda não sei qual é. Levanto um pouco o corpo depois de algum tempo me recuperando do que pareceu ser um sono profundo e duradouro e observo tudo ao meu redor em buscas de respostas sobre onde estou. Ok, um hospital. Por que eu estou em um hospital? Um estranho desespero me toma e logo após uma forte dor de cabeça começa a dar sinais de existência. Não tem ninguém nos corredores e muito menos no quarto, ao lado da cama tem um pequeno botão do qual eu não faço ideia para que serve, mas me vejo obrigada a apertar. Meu corpo está todo dolorido e minha cabeça nem se fala, mas o pior de tudo é não ter noção de absolutamente nada do que aconteceu comigo.

Por um momento achei que o botão não tinha servido para nada, mas não demora muito para que eu possa ver um homem que parece estar em total agonia bater na porta do quarto e chamar por uma garota. Garota que parece ser eu. Eu não entendi bem o que tinha acabado de acontecer, ele me olha como se eu fosse uma joia preciosa que ele tinha acabado de encontrar e meu olhar estava confuso eu não sabia como como corresponder aquilo.

— Quem é você? — essas foram as únicas palavras que conseguiram escapar dos meus lábios de forma baixa.

Naquele momento o olhar dele muda. Ele parece ter tomado um choque, como se minhas palavras o tivessem afetado de uma forma que nem ele mesmo consegue entender. Eu não sei que sentir, não sei o que fazer e muito menos o que falar quando ele começa a se aproximar de mim. O único sentimento que toma completamente o meu corpo é o medo, ele parece me conhecer, mas ao mesmo tempo eu não sei absolutamente nada dele e nem de mim. A reação mais lógica que eu tenho é tentar me afastar. A medida que ele vai se aproximando eu chego um pouco mais o corpo para o lado até ser o suficiente para me levantar da cama mesmo com tantos fios me prendendo a alguns aparelhos.

— Calma, Hayley. Sou eu, Elijah. — o tom dele foi tão baixo quanto meu. As mãos estendidas para mim como se quisesse me acalmar de longe, mas meu cérebro parece não querer raciocinar direito.

— Quem é você? Sai de perto de mim! — respondo, me afastando ainda mais fazendo com que uma pequena agulha que dava acesso ao soro saísse bruscamente da minha pele.

O rapaz não tenta dizer mais nada, ele apenas se aproxima de mim com passos rápidos e me segura por trás apoiando a destra sobre minha boca me impedindo de fazer qualquer barulho. Seus braços são fortes, me apertam contra seu corpo como se sua vida dependesse daquilo, chegando até a me machucar. Me debato contra ele tentando me soltar, mas tudo em vão, ele parece disposto a tudo para me acalmar.

— Porra, Hayley! Calma, caralho. — ele se altera, e me aperta ainda mais. - Escuta, eu não vou machucar você. Eu sou médico também e vou chamar o seu, mas só se você me prometer que vai se deitar e vai ficar quietinha. — minha respiração ofegante não me deixa pensar direito. Se ele é médico eu deveria confiar nele, mas então por que cada átomo do meu corpo grita para que eu me afaste dele o mais rápido possível? Uma angústia estranha toma conta de mim fazendo-me desistir de tentar me desvencilhar dos braços dele, tudo que consigo no momento é chorar. Caralho!? É como se meu corpo finalmente estivesse colocando tudo aquilo pra fora depois de muito tempo guardando. Não tento me conter, deixo que as lágrimas saiam dos meus olhos enquanto me rendo cada vez mais ao homem que insistia em me segurar com força até notar minhas lágrimas. — Que? Não, não chora...

Finalmente ele me solta. Me coloca novamente na cama com o cuidado necessário para que os aparelhos que ainda estão grudados em mim não se soltem. Ele me olha com esmero enquanto arruma tudo que saiu do lugar, e meu coração se aperta ainda mais. Por que eu choro tanto? Porra, o que tá acontecendo comigo e por que esse homem me deixa tão mal? Não consigo conter, deixo todas as lágrimas possíveis escaparem pelos meus olhos, chegando até a soluçar. Uma dor imensa invadiu a minha cabeça, levei ambas mãos até ela e percorri os dedos entre os fios bagunçados para fazer uma massagem desesperada, na espera de que passasse.

— Minha cabeça dói, dói muito. O que houve comigo? Quem sou eu? — pergunto, em total agonia esperando que ele me desse uma resposta condizente.

— Eu vou chamar o Miguel, ele vai lhe dar algo para dor de cabeça enquanto eu aviso a todos que você acordou. Por enquanto por favor, Hayley, se acalma ou vai ser pior para sua dor. — sua voz em momento algum subiu o tom, ele parecia se sentir culpado por algo, em conflito consigo mesmo.

Ele saiu da sala e alguns minutos outro médico chegou, ele aplica algo em mim que instantaneamente me deixa mais calma. Meu corpo relaxa sobre o colchão duro e minha respiração fica bem mais calma. Por algum motivo eu acho que era a presença do outro médico que me perturbava. Após me contar sobre horrível acidente, ele me fez mais algumas perguntas, as quais eu não soube responder. Me olha preocupado e sai também dizendo que iria chamar alguém que estava bem ansioso para me ver.

É estranho. Muito estranho não saber nada sobre você mesma. Me sinto totalmente perdida e sem saber o que fazer para me encontrar. Se eu sofri um acidente de tal magnitude, por que raios eu não me lembro disso?

E mais uma vez alguém desconhecido cruza a porta e caminha em minha direção com um olhar cabisbaixo e curioso. Esse também parece se culpar por algo. Toca o meu cabelo com paciência e abre largo sorriso acolhedor. Não sinto nada. Absolutamente nada.

— Filha... Senti sua falta. 

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