Parte II: A Paladina Dourada.

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Valéria acordou bruscamente. Estava de pé, estava em um lugar estranho. Tomou um choque ao ver o grande pássaro que pulava empolgado de um lado para o outro, bem na frente dela. Aquilo era impossível. O bicho era do tamanho de um homem de estatura mediana, todo negro; ela reconheceu, era um corvo. Corvo desse tamanho? Ele abriu as asas e crocitou alto, várias vezes. A cada corvejo, Valéria escutava um som diferente, até que, surpreendentemente, ela conseguiu entender o que o corvo dizia:

- Bem vinda, Paladina! Bem vinda a Ellora!

Perplexa e assustada, olhou em volta, percebendo que estava em algum tipo de salão. De um lado havia grandes janelas arredondadas e fechadas, mas permitindo que os raios do sol entrassem, do outro, estantes e mesas repletas de objetos desconhecidos, roupas e o que pareciam ser armas. Procurou pelo vaporcello, não havia nem sinal dele. Foi então que tomou um novo choque ao olhar para seus braços: eles não eram mais de carne e osso, eram compostos por partes de metal e algo que parecia ser couro. Olhou para as pernas e os pés, todo seu corpo havia se tornado algo como... como um robô!

Ela deveria ter desmaiado, o coração deveria ter disparado, mas, estranhamente, as reações passavam rapidamente, percebeu que a ansiedade que sempre a acompanhou desaparecera.

- Venha, Paladina, olhe! - o corvo andou para longe, chamando Valéria para perto dele e apontando com a asa para um grande espelho ao lado de uma estante.

Ela foi e olhou-se no espelho. Era incrível e bizarro. Seu corpo agora era feito de metal e couro. As partes de metal eram douradas, e haviam engrenagens à mostra na barriga, nas coxas e nos antebraços, e elas estavam funcionando. A cabeça era um tipo de capacete, e onde deveria estar a boca havia apenas um pequeno risco. Apesar da aparência forte, suas formas ainda eram femininas, e em suas costas um tubo expelia pequenos tufos de vapor. Era uma máquina!

- Eu sei que você deve estar cheia de perguntas, mas nosso tempo é muito curto. Temos que correr ou será tarde demais.

Assombrada, Valéria cruzou os braços e encarou o corvo.

- Eu não vou a lugar nenhum sem antes você me explicar o que diabos aconteceu! Eu toquei o vaporcello como a tia Lúcia pediu, e foi muito estranho, daí apareci aqui, nesse corpo, nesse lugar que mais parece um depósito de quinquilharias! - Valéria se deu conta de que seus pensamentos eram transformados em palavras, e que a voz era exatamente igual a sua. Viu pelo espelho que quando falava seus olhos brilhavam, seus olhos eram duas pequenas lâmpadas!

- Tia Lúcia? - o corvo maneou a cabeça para um lado - Ah, você deve estar se referindo à Amisthea! - ele sacudiu a cabeça em uma negativa. - Muito ruim, Amisthea foi capturada pelo Protetorado enquanto tentava salvar o Ascendente. E agora, Paladina Dourada, nós vamos resgatá-la! É por isso que você está aqui!

- O quê? - Valéria colocou as mãos na cabeça, incrédula.

Naquele exato instante, uma porta que ela não havia notado se abriu e dois homens em trajes verdes entraram por ela. Ela notou que ambos usavam óculos estranhos e apetrechos semelhantes ao vaporcello, eram claramente soldados, mas suas vestes e equipamentos eram tecnológicos mas ao mesmo tempo antiquados. Ao verem a Paladina, imediatamente ajoelharam-se e fizeram reverências

- Ariadne, Paladina Dourada! É uma honra servi-lá! - os dois disseram em uníssono.

- General, os tropas estão prontas? - inquiriu o corvo, não ligando para a solenidade que os homens colocaram.

- Sim, Tempesta, nossas duas divisões estão preparadas, e agora com o retorno de Ariadne nossas forças lutarãocom o ímpeto dos antigos!

- Excelente, general. Vamos à guerra! Não podemos perder tempo!

Tempesta pulou até uma alavanca ao lado da porta e a puxou com seu bico, imediatamente, o teto começou a se abrir e uma bancada de granito emergiu do chão, fazendo Ariadne retroceder. Os soldados se levantarem, alertas. Sobre a bancada, havia uma espada de lâmina curva que resplandecia aos raios do sol e, ao lado dela, estava uma arma que lembrava uma espingarda, mas cheia de monóculos e engrenagens.

Os soldados correram até a bancada e pegaram as armas, levando-as para Valéria.

- Pela honra da Grande Raça Mecanóide, pela força dos Sete Deuses, nós a armamos, poderosa Paladina Dourada!

Enquanto um deles colocava o sabre na mão direita de Valéria, o outro armava o rifle em seu braço esquerdo. Ela tentou recuar, assustada, mas os homens foram muito rápidos. Assim que sentiu o cabo da espada em sua mão, Valéria foi tomada por uma energia revigorante. Acalmou-se, sentindo-se forte e poderosa, seus pensamentos ficaram claros como água e sua ansiedade desapareceu.

Tempesta alçou vôo. Planou na direção da Paladina e a pegou com as garras, firmando-as em seus ombros. A levantou alto, e então ela viu, maravilhada, uma armada de imensos dirigíveis ao redor da construção em que estavam, que era grande um castelo de muralhas brancas. Lá embaixo ela vislumbrou centenas de soldados que embarcavam em dirigíveis menores. Estranhas máquinas de quatro parnas que lembravam elefantes e expeliam fumaça eram içadas por balões. Tudo em volta era verde e repleto de árvores. Pôde ver uma vila próxima ao castelo, onde uma multidão aplaudia os soldados e, quando a viram, saudaram sua presença em júbilo. Então Tempesta acelerou em direção ao horizonte.

[911 palavras]

O Vaporcello, a Musicista e a Mecanoide.Onde histórias criam vida. Descubra agora